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Patrik Camargo Neves

Dois momentos que um empresário em dificuldades não pode deixar de perceber

Sempre existem dificuldades e desafios que parecem ser intransponíveis, mas a criatividade e a resiliência dos empresários geralmente os fazem contornar e seguir em frente

Por Patrik Camargo Neves

09 de agosto de 2021, às 08h59

Em mais de vinte anos atuando na advocacia empresarial, e já há mais de cinco anos atuando na consultoria estratégica, eu já tive a oportunidade de acompanhar grandes trajetórias de sucesso. Muitas empresas que nasceram e prosperaram muito mais do que seus fundadores sequer ousaram imaginar quando iniciaram suas atividades. Mas também já vi muitas histórias de dificuldades e alguma delas, infelizmente, não acabaram bem. E é sobre isso que quero falar hoje.

É claro que todas as empresas passam por altos e baixos. Sempre existem dificuldades e desafios que parecem ser intransponíveis, mas a criatividade e a resiliência dos empresários geralmente os fazem contornar e seguir em frente. Mas há dois pontos absurdamente importantes que podem surgir na trajetória das empresas e que jamais pode deixar de ser percebidos: a hora de mudar e a hora de parar.

É comum que, ao perceber que os negócios não estejam indo bem, o empresário prefira pensar que ele não está mais fazendo bem o que sempre fez. Porque é isso que ele sabe fazer, foi isso que lhe garantiu o sucesso por tanto tempo. Por que então não voltar a fazer como ele fazia anos atrás? Voltar a ser como era? Este é o erro mais frequente que os empresários cometem quando estão em situação de dificuldade. Ao invés de entender que é necessário mudar, aceitar a mudança, entender que o que se fazia ou como se fazia já não basta, já não tem mais a potência propulsora de antes, o empresário insiste em voltar a fazer melhor o que já não está mais funcionando. Mas o momento é de mudança, não de fazer mais do mesmo. E este é o grande paradoxo: se fizer melhor o que não está dando certo, mais rápido e com mais eficácia, os resultados tenderão ainda a ser piores. É o remédio envenenando. Em determinadas situações, só a mudança redireciona a empresa. Mas é claro que não é tão simples assim perceber este momento.

Ainda mais grave ou como consequência de não perceber a hora da mudança e agir para mudar, é não perceber a hora de parar. Esta é a hora em que o empresário tem que olhar para tudo que construiu e entender que para preservar o que conquistou é fundamental deixar a empresa morrer. Desligar os aparelhos. Se despedir com dignidade e seguir seu caminho, seu novo caminho. Preservar suas conquistas, seu patrimônio, e, a partir de tantas vitórias que não são sobrepujadas por uma derrota, iniciar uma nova jornada. Mas infelizmente o mais comum é o empresário colocar tudo que tem para salvar o negócio: carro, casa na praia, casa de campo, investimentos e até a própria casa em que reside com a família – quando ainda não coloca os nomes dos filhos em outros cnpjs, porque o atual está completamente inviabilizado pelas dívidas. Nestas situações, o empresário realmente acredita que, por algum motivo, bata ele colocar dinheiro e voltar a fazer o que sempre fez que seu negócio vai voltar a prosperar, a ser o sucesso que foi um dia. E na maioria das vezes, ele só está sendo sugado para o buraco junto com a empresa, porque é incapaz de soltar sua mão. Acredite: basta soltar a mão. Não é fácil, não é simples, mas é necessário.

Não sou absolutamente contra o empresário colocar dinheiro na empresa quando ela não vai bem. Mas o dinheiro isolado nunca é a solução adequada. O dinheiro tem que ser colocado com novos processos, novos produtos ou serviços, cortes expressivos de custos, manobras para aumentos das margens, uma revisão no portfólio de produtos ou qualquer outro ato que aponte para um caminho diferente. Porque senão o dinheiro é só uma desaceleração contra o muro. Mas o muro chega se a rota não for desviada.

Em qualquer situação, perceber a hora da mudança e agir é fundamental. É dolorido, delicado, exige muito planejamento, análises e, geralmente o auxílio de um consultor ou uma consultoria especializada. Em resumo, não é fácil. Mas desde quando foi fácil ser empresário no Brasil?

Patrik Camargo Neves

Advogado de Americana, especialista em direito empresarial, aborda o cotidiano e os desafios de empreender em textos às segundas