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Papo de Finanças

As cooperativas na vanguarda do mercado financeiro

Modelo permite que as pessoas trabalhem juntas, contribuindo, cada uma com a sua visão, para a inovar cada vez mais

Por Nivaldo Camillo

21 de março de 2022, às 14h28

Cooperativismo vem da palavra cooperação. Em um mundo onde a tecnologia se torna o principal componente da inovação, a cooperação permite que as pessoas trabalhem juntas, contribuindo, cada uma com a sua visão, para a inovar cada vez mais.

Essa colaboração faz com que elas enxerguem oportunidades antes não percebidas se estivessem trabalhando individualmente. Cooperando é possível explorar o inexplorado. Sem cooperação, dificilmente há inovação.

Cooperar é ser democrático, é ter escuta ativa e ser aberto a novas ideias. O cooperativismo está em linha com um mundo volátil, complexo, ambíguo e dinâmico, portanto, as cooperativas caminham na direção daquilo que há de mais contemporâneo em termos de comportamentos necessários para o mercado atual.

Quando as pessoas se envolvem com o movimento cooperativista de forma espontânea, percebem que o comportamento de colaborar é legítimo e benéfico para todos, potencializando ainda mais a inovação.

O movimento cooperativista começou há muito tempo, em 1844 na cidade de Rochdale Manchester, no interior da Inglaterra. Ele teve início devido à dificuldade que um grupo de 28 trabalhadores encontrou para comprar utensílios básicos para a sobrevivência nos mercadinhos da região. A partir disso, eles inovaram, unindo-se para montar o próprio armazém compartilhado.

A proposta era simples, inovadora e engenhosa. Eles compravam alimentos em grande quantidade para conseguir preços melhores. Tudo o que fosse adquirido seria dividido igualitariamente entre o grupo. Nascia, então, a “Sociedade dos Probos de Rochdale” que foi a primeira cooperativa moderna a abrir as portas para o movimento no mundo, já pautado em valores e princípios morais considerados, até hoje, como a base do modelo.

No Brasil, a primeira cooperativa foi fundada em 1889 em Minas Gerais. Foi a Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, que surgiu com o foco no consumo de produtos agrícolas. Desde então as cooperativas cresceram e se expandiram, entrando em diversos segmentos, como por exemplo, o mercado financeiro.

Nesse setor, os clientes de instituições tradicionais sempre estiveram à mercê da meta de obtenção do lucro como primeira variável de decisão. Isso tem mudado, tendo em vista o crescimento das cooperativas, que estão implantando uma nova filosofia de atuação, dando uma nova opção para o consumidor.

Outro ponto importante para essa mudança é o fato de o Banco Central ter acentuado, nas últimas décadas, o aperto às regras junto aos bancos tradicionais, incentivando o aumento das cooperativas pelo país através do BC.

Ao olhar para a história podemos perceber que a transformação dos bancos começou a se intensificar na década de 90, quando em 1994 foi implementado o Plano Real. Com o controle da inflação, somado a outros fatores, como a baixa qualidade de crédito e a inadimplência, o Banco Nacional, o Banco Econômico e o Bamerindus faliram.

Com o mercado mais complexo, os bancos procuraram reduzir tudo que representava riscos, implementando ações contra fraudes e programas de prevenção ao risco. Com a percepção de que as pessoas não eram capazes de avaliar o risco de inadimplência, os bancos investiram massivamente em tecnologia, o que não implicou em melhoria percebida pelos clientes.

O aumento da digitalização acarretou, na verdade, em uma redução drástica no relacionamento, direcionando cada vez mais o correntista para o autoatendimento. Esse trade off implicou em uma homogeneização do atendimento pelos bancos, fazendo com que os clientes buscassem outros valores para permanecer como correntistas, como custos bancários, facilidade de uso dos aplicativos, oferta de crédito e outras variáveis que distanciaram ainda mais os clientes do atendimento personificado.

Com a evolução da tecnologia e a automação de vários processos, como por exemplo a implantação de limites automáticos, que deixavam de ser realizado por pessoas e passavam a ser definidos por máquinas que avaliavam os riscos de inadimplências, houve ainda mais o distanciamento dos correntistas em relação aos gerentes de agências.

A automação fez com que os clientes se afastassem cada vez mais das agências, tornando os espaços físicos um custo para as empresas e, para muitos clientes, desnecessários. Considerando a perda da importância dos espaços físicos, associado à evolução da tecnologia e o uso massivo das operações online, surgem os bancos digitais, chamados de Fintechs.

Os bancos tradicionais, principais responsáveis pela busca da redução dos custos com o uso intensivo da tecnologia, passaram a ter concorrentes cada vez mais inovadores, ágeis, agressivos e com crescimento exponencial. Um grande exemplo é o Nubank, que com seu IPO em dezembro de 2021, foi considerado o banco mais valioso da América Latina, chegando a valer mais de 40 bilhões de dólares. Devido à desvalorização, ele voltou a perder este posto para o Itaú Unibanco.

A valorização acentuada do Nubank, mesmo que momentânea, acendeu a luz de alerta dos bancos tradicionais que começaram a repensar a respeito de importância da inovação.

A nova tendência de busca pela inovação também foi percebida pelas cooperativas. Assim, elas passaram a se inserir no mundo digital carregando com elas os valores que deram início ao movimento.

Participar de uma cooperativa tem suas particularidades positivas. Quando um associado deseja fazer parte de uma cooperativa, ele precisa integralizar um capital, chamado de quota-parte, que é uma quantia de capital que os associados depositam no momento que se associa. Ao comprar essa parte, você passa a ser dono, participando dos resultados e sendo responsável por eles.

Com os novos tempos, as premissas do mercado financeiros estão mudando continuamente. Por um lado surgem as fintechs, com novas ideias e uma forte digitalização, porém, com uma certa dose de distanciamento de seus clientes.

É bem verdade que os robôs conseguem atender grande parte das necessidades dos usuários, mas a aproximação entre pessoas não existe. Quase tudo é padrão, sistêmico e baseado em algoritmos. Por outro lado, temos os bancos tradicionais, na busca de permanecer entre os principais competidores do mercado, correndo atrás de novas tecnologias e na busca por se igualar em termos de inovação às fintechs.

Seu diferencial, que é o atendimento humano, também vem sendo eliminado pouco a pouco, com o fechamento das agências e as restrições dos gerentes de alçada, o que lhe permite fazer apenas o que o algoritmo manda. É muito comum um gerente dizer que “o sistema não permite fazer isto”, negando algo ao cliente.

Com essas mudanças, bancos e fintechs transferiram suas agências para os seus aplicativos, que substituem os gerentes na tarefa de dizer não.

Nesse cenário temos as cooperativas de crédito buscando, a todo momento, apresentar soluções digitais, mas sem perder de vista o atendimento humano. Elas ainda investem na abertura de agências, por exemplo, com um conceito que convida o cooperado a se sentir em casa, incluindo isso na proposta arquitetônica e decorativa dos espaços.

Mas isso não afasta as cooperativas da tecnologia e da inovação, afinal, foi através dessas premissas que o movimento surgiu. Alguns exemplos saltam aos olhos quando falamos de inovação no cooperativismo. Podemos mencionar, nesse sentido, a Sicoob Cocre, cooperativa de crédito do Sistema Sicoob com mais de 50 anos de história e atuação em todo o território nacional.

Com uma história cheia de conteúdo, a Cocre tem conseguido se reinventar e se inserir no mundo digital e inovador sem perder de vista o atendimento olho no olho, sendo uma instituição diferente no mercado atual.

A cooperativa tem investido na criação de células ágeis, buscando inovações tecnológicas que possam melhorar a experiência do associado, além de outras iniciativas que que se preocupam em oferecer o melhor produto para o cooperado, o que também gera altíssima rentabilidade, permitindo que ao final de cada ano a cooperativa distribua sobras para os seus cooperados.

As sobras, que já são utilizadas há muitas décadas pelas cooperativas, são denominadas pelo mercado como cashback, uma forma recente de retornar ao cliente uma parte do lucro. Isso mostra como as cooperativas já nasceram inovadoras, pois as instituições de créditos tradicionais e fintechs só agora se atentaram a esse tipo de benefício a seus clientes.

Ao resgatar um modelo de atendimento presencial, que vem sendo abandonado pelas instituições e que não fazem parte das fintechs, as cooperativas mantêm o melhor dos dois mundos: digital e presencial. Tudo isso aliado, ainda, a uma responsabilidade social fortíssima, gerando oportunidades, emprego, renda, inclusão e desenvolvimento econômico.

Na era do propósito e da inovação, o cooperativismo é aquele que pode servir de modelo para um mundo que ainda busca inspiração. (COLABOROU FERNANDO ARBACHE)

Nivaldo José Camillo de Oliveira – Foto: Divulgação

Nivaldo José Camillo de Oliveira

É diretor executivo da Sicoob Cocre, e como CEO, atua na gestão de pessoas em prol da busca por resultados. Tem cursos de liderança, gestão de pessoas e inovação nas instituições Fundação Dom Cabral, MIT Professional Education e outras.

Papo de Finanças

Para quem gosta de cuidar do próprio dinheiro, toda semana informações sobre educação financeira, investimentos, ESG e cooperativismo. Blog assinado pelos especialistas Nivaldo José Camillo de Oliveira, Paulo Massarutto e Evandro Piedade do Amaral.