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Histórias de Americana

A importância de uma história regional antirracista

Por Gabriela Simonetti Trevisan

10 de abril de 2022, às 10h32 • Última atualização em 10 de abril de 2022, às 10h33

É fato consumado que a historiografia local valoriza os feitos da elite agrária e urbana branca ou, quando muito, dos trabalhadores brancos em detrimento da vasta população negra que compõe a formação étnica e cultural de nosso município. Os efeitos profundamente perceptíveis dessa atitude embranquecedora da memória – escolha muitas vezes tão introjetada que parece natural – está presente nos nomes de ruas, nos monumentos, nos eventos oficiais e na oralidade popular, nas quais nomes de fazendeiros, médicos, políticos e soldados ecoam de maneira frequente.

Contudo, como pontua a larga crítica pós-colonial e decolonial, é necessário nos atentarmos para os jogos de poder que conformam nosso olhar para o passado. Um exemplo central dessa discussão é a indiana Gayatri Spivak, que pergunta à comunidade acadêmica de sua época, nos anos 1980: pode o subalterno falar? A partir do questionamento de Spivak e de muitos outros teóricos, ruem os pressupostos de um sujeito universal, neutro, invisível e que seria o narrador absoluto da história. Afinal, quem de nós não fala de um lugar, de uma experiência? Lugar de fala, este, que não deve ser aprisionador, engessador, mas, antes, uma atitude crítica, aberta à multiplicidade.

É por isso que devemos refletir sobre a importância de uma história regional antirracista, ou seja, não apenas crítica ao racismo, mas que se proponha a expor as feridas do passado e seus ecos no presente, desestabilizando verdades ditas absolutas, ainda que esses questionamentos sejam difíceis de engolir. Assim como propõe a filósofa estadunidense bell hooks, é uma tarefa coletiva – de brancos e não brancos – transformar o mundo e torná-lo mais justo. Assim, ela aponta a importância da criação de redes, que, ao contrário de depositar a luta antirracista apenas nos ombros das pessoas negras, afirma-a como compromisso ético de toda a sociedade.

Como, então, trazer esse debate para o estudo da história de Americana, memória esta tão marcada pelo racismo mas, ao mesmo tempo, tão longe de olhar para si mesma de modo crítico? É preciso, primeiramente, compreender que o local e o regional não estão isolados do nacional e do mundial, mas, pelo contrário, conectam-se às estruturas sociais que conformam o Brasil e o Ocidente. As especificidades existem, é verdade, mas é preciso pensar: nossos modos de narrar o passado são os únicos modos? Quem deixamos de lado? De onde partimos? E, mais do que isso: para onde queremos ir?

Gabriela Simonetti Trevisan
Historiadores Independentes de Carioba Membro do grupo Historiadores Independentes de Carioba, dedicado à pesquisa história sobre Americana

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.