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Economia no dia a dia

A ‘desindustrialização’ de Americana

Dados mostram que Americana deixou de ser, os últimos 10 anos, uma cidade industrial, e passou a ser uma cidade de serviços

Por Marcos Dias

24 de junho de 2020, às 08h18 • Última atualização em 24 de junho de 2020, às 08h31

O processo de “desindustrialização” é definido pelos economistas como uma situação em que tanto a participação do emprego quanto a do valor adicionado (riqueza gerada) do setor industrial de num país, região ou município diminuem em relação ao emprego e a riqueza total.

Isso significa, no caso de um município, por exemplo, que ao somar o emprego e a riqueza gerada por todos os setores econômicos (agropecuária, indústria e serviços), e os comparar durante um período (alguns anos), será constatado que a participação destes tem caído no setor industrial em relação aos demais.    

Quando isso ocorre, percebe-se que o setor industrial perdeu importância como fonte geradora de empregos e de riqueza para a economia do município.

Isso é considerado normal no sistema capitalista, pois a indústria, ao se desenvolver numa região, passa a exigir uma quantidade e diversidade maior de serviços, tanto pelas empresas quanto pelos trabalhadores, resultando num crescimento da importância deste setor na economia local.

Assim é comum surgimento, no município, de diversas pequenas empresas ligadas ao setor de serviços ao redor das indústrias locais, e que vão se desenvolvendo e tomando vida própria, ou seja, deixando de depender da renda da indústria e passam a crescer de forma autônoma, ganhando cada vez mais importância na economia local.

Esse é o caso de Americana nos últimos anos: ao se pesquisar os dados sobre emprego e valor adicionado nos três setores econômicos no município, e compará-los durante um período recente, percebe-se a ocorrência de um processo de “desindustrialização”, ou seja, da redução da importância do setor industrial e crescimento da importância do setor de serviços na economia local.

Dados do município sobre emprego do Ministério da Economia do governo federal, e sobre geração de riqueza da Fundação SEADE, do governo estadual, demonstram que isso tem ocorrido. Ao observar a situação do emprego no município, vê-se que o setor industrial fechou, no período entre 2009 e 2019, cerca de 8.600 postos de trabalho (somente a indústria têxtil, maior empregador do município, fechou cerca de 5,4 mil postos nesse período!). Já o setor de serviços seguiu no sentido contrário, abrindo no mesmo período cerca de 6,2 mil postos de trabalho (somente o comércio no município abriu cerca de 2,1 mil novos postos nesse período!).

Em relação ao valor adicionado municipal, o setor industrial gerou em 2009 cerca de 2,4 bilhões de reais, e de 2,5 bilhões em 2018. Apesar do saldo positivo, esse número não é muito bom se comparado com o comportamento do setor de serviços: gerou cerca 3,5 bilhões em 2009, e de 7,9 bilhões em 2018! Ou seja, enquanto a produção industrial ficou estagnada no município, a riqueza gerada pelo setor de serviços mais que dobrou!

Por isso a participação do setor industrial na riqueza gerada caiu em relação aos outros setores no município: respondia por 41,02% do total da riqueza em 2009, e por 24,14% em 2018.  Já o setor de serviços teve um aumento considerável neste mesmo período: subiu de 58,87% para 75,75% do total da riqueza gerada!

Assim, os dados mostram que Americana deixou de ser, os últimos 10 anos, uma cidade industrial, e passou a ser uma cidade de serviços.

Por isso, ao se formular políticas locais de desenvolvimento econômico, os gestores locais devem considerar as necessidades específicas destes setores, tanto em relação à qualificação de mão de obra quanto às ações de incentivo ao surgimento de novos negócios, com o objetivo de atuar de forma coordenada com as atuais necessidades econômicas do município.

Isso representa muito para uma cidade cujo crescimento e desenvolvimento se deu em função da indústria têxtil, e que construiu sua identidade econômica sobre este segmento produtivo.   

Marcos Dias

Conteúdo desenvolvido pelo economista e professor de economia da Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Americana, Marcos Dias.