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Pelas Páginas da Literatura

Resenha: ‘Nêmesis’, de Philip Roth

Livro conta sobre um surto de poliomielite em Newark, nos Estados Unidos, no ano de 1944

Por Rodrigo Alonso

03 de dezembro de 2022, às 10h41

“Nêmesis”, do americano Philip Roth, foi um dos livros mais impactantes que li este ano. Ele conta sobre um surto de poliomielite em Newark, nos Estados Unidos, no ano de 1944. A prosa do escritor é precisa ao descrever os sentimentos daquela comunidade, que sofre por medo, desespero e culpa. Tudo isso ambientado em um verão quente e sufocante, que dá o tom da história.

O personagem principal é Eugene “Bucky” Cantor, professor de educação física e inspetor de pátio de uma escola judaica. Ele vê os alunos sob sua responsabilidade contraírem a doença, e sofre por não saber como ela se propaga e como evitá-la. É difícil não relacionar os sentimentos de Bucky com a forma como a pandemia da Covid-19 marcou nossas vidas nos últimos dois anos.

Para mim, “Nêmesis” é um livro sobre culpa. Bucky se afunda nela, ao mesmo tempo em que se revolta e começa a colocar a responsabilidade do vírus em Deus. A descrição dos sintomas da doença, suas consequências no organismo, a utilização de dispositivos como o pulmão de aço para que os pacientes continuem respirando e, por fim, a devastação que ela provoca deixando um rastro de mortes são muito intensas.

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A obra, que já seria relevante por conversar com tantos sentimentos vividos durante a pandemia, se torna uma leitura ainda mais importante no contexto em que a cobertura da vacinação contra polio está em 61% no Brasil, longe dos 95% preconizados. Por conta disso, a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) nas Américas, emitiu um alerta em setembro de que o país corre risco de reintrodução da doença.

“Nêmesis” é uma obra que, além de toda a importância do tema que aborda, ainda tem uma incrível qualidade literária. O livro se consagra nas últimas 20 páginas, quando o narrador se revela como um dos personagens da história. A partir dali, ele insere sua própria perspectiva do passado e da trajetória de Bucky. A passagem com que Roth encerra o livro é tocante e melancólica. A última obra do escritor americano soa como um lamento por tudo aquilo que foi perdido.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.