O secretário de Governo de Americana, Juninho Barros, tem tido a ajuda de um servidor da prefeitura, em horário de expediente, para manter um galinheiro ao lado de sua casa. O encarregado de serviços Ewerton Willian dos Santos Bento, lotado atualmente na Unidade de Obras Públicas, usa carro da administração para levar restos de alimentos para um terreno ao lado da casa de Juninho, no bairro Werner Plaas, em Americana, onde ele cria galinhas e coelhos.

Ao LIBERAL, Juninho diz que não vê nenhum problema na situação. Já o servidor admitiu o contrário. “Eu acho que foi errado eu ‘estar levando’ em horário de serviço”, afirmou ao LIBERAL quando questionado se havia algum problema em carregar os restos para Juninho em horário de expediente. Ambos negam que o secretário tenha pedido pelo “transporte”.

O caso chegou ao LIBERAL por meio de vídeos que mostram como o transporte e a descarga são feitos. Nesta semana, a reportagem presenciou pelo menos duas situações em que sacos são descarregados de um carro da prefeitura e levados para dentro do terreno.

A fonte que gravou os vídeos enviados ao LIBERAL pediu que sua identidade fosse mantida em sigilo, por segurança. As imagens gravadas por ela em maio mostram que dois servidores da Prefeitura de Americana carregam um carro da administração com sacos com descartes de alimentos em um depósito de um supermercado da cidade, que afirmou não ter relação com a prefeitura. Depois, segundo a fonte, há uma troca de motoristas e o servidor Ewerton assume o transporte até Juninho.

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A movimentação ocorre no início da manhã. Em duas ocasiões presenciadas pela reportagem, nesta terça e quarta-feira, a descarga dos alimentos aconteceu entre 7h20 e 8h. Na quarta-feira, Juninho ajudou o encarregado com a “carga”. As imagens feitas pelo LIBERAL mostram o secretário e o servidor carregando sacos em frente ao terreno.

O terreno para onde as caixas com alimentos são levadas fica ao lado da casa em que o secretário mora, na Rua Brasília, no Werner Plaas, bairro de classe média alta de Americana. No local, Juninho diz criar galinhas e coelhos, mas nega que tenha ajuda do encarregado de serviços para manter os animais.
Ele diz, entretanto, que é comum o encarregado passar para “tomar um café” na casa dele, mesmo em horário de expediente. “Não há problema nenhum”, afirmou.

Dirineu Soares de Barros Júnior, o Juninho Barros, é o nome mais forte do governo de Omar Najar (PMDB). O prefeito, inclusive, é um defensor da austeridade no município, e orienta que secretários usem o próprio carro, por exemplo, para realizar atividades da prefeitura. Visto como articulador político, Juninho é ligado ao PV e foi auxiliar e secretário parlamentar do deputado estadual Chico Sardelli (PV), na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) entre março de 2007 e janeiro de 2015, quando foi escolhido por Omar para compor o secretariado do governo tampão.

Ewerton, segundo Juninho, é um “faz-tudo” da Secretaria de Obras e Serviços Urbanos. O servidor ocupa o cargo de encarregado de serviços, uma função gratificada. Ele é responsável, por exemplo, por gerenciar equipes que fazem limpeza em espaços públicos.

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Afirmação sobre ajuda é ‘leviana’, declara prefeitura

O LIBERAL conversou com Juninho Barros na tarde desta quinta-feira. O secretário chegou a dizer, inicialmente, que o encarregado de serviços não levava nada ao terreno onde ele mantém os animais.
“Não leva absolutamente nada. Se o Ewerton levar alguma coisa, eu não estava lá. Só se ele se sensibilizou e jogou alguma coisa por cima do muro. Se levou alguma coisa, com certeza não foi a pedido meu”.

O secretário afirmou, depois, que o servidor chegou a levar capim. “Ele jogou por cima do muro”, afirmou. “Não é alimento. Talvez ele tenha levado capim”, disse Juninho.

“Eu nunca pedi absolutamente nada pra ele. Quando ele está na rua, se por ventura ele encontra algo, joga por cima do muro. Se eu estiver no portão 7h, se ele passar lá, ele me dá na mão. Ele não sai da rota do trabalho em absolutamente nada”, comentou o secretário. “Ele pode continuar fazendo. Se fizer até me ajuda”, afirmou Juninho.

Ao LIBERAL, Ewerton afirmou a versão de Juninho, de que levaria materiais descartáveis ao terreno do secretário, sem qualquer pedido dele. Entretanto, ele admitiu que seria errado fazer em horário de expediente. O encarregado, que afirmou começar o expediente às 6h30, disse também que ninguém da prefeitura sabe que ele faz os descartes no terreno ao lado da casa de Juninho.

Em nota enviada ao LIBERAL por meio da assessoria de imprensa, subordinada à Secretaria de Governo, a Prefeitura de Americana afirmou que é “leviana a afirmação de que um servidor ajuda o secretário manter animais”. “O que ocorreu, e sempre foi admitido, foi entrega de material inservível, o que ocorre esporadicamente”, afirmou a administração. Segundo a nota, o servidor “não deixou de cumprir suas funções” e nem “cometeu uma irregularidade”.