trato feito
Investigação da PF chega a empresário em Americana
Editora de Gustavo Tomazin Bortolucci prestava serviço à Prefeitura de Mauá, cujo prefeito foi preso em operação nesta quinta-feira
Por Marina Zanaki
14 dez 2018 às 10:26
Link da matéria: https://liberal.com.br/arquivo-de-noticias/cidades/americana/investigacao-da-pf-chega-a-empresario-em-americana-927174/
A PF (Polícia Federal) cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa do empresário Gustavo Tomazin Bortolucci, no Jardim São José, em Americana, nesta quinta-feira. A ação fez parte da Operação Trato Feito, deflagrada no Estado com o cumprimento de 52 mandados de busca e apreensão, e dois de prisão preventiva. Nela, é investigada uma organização criminosa que desviava recursos públicos em contratos firmados com o município de Mauá, na Grande São Paulo.
Não foi informado pela PF o que foi apreendido no imóvel do empresário. Ele é proprietário da editora de livros didáticos Brasileirinho Educacional, sediada em Campinas, suspeita de ter pago propina ao prefeito de Mauá, Átila Jacomussi (PSB), preso nesta quinta. A sede da editora também foi alvo da operação.
Além dessa empresa, outras oito são investigadas por repasses feitos em espécie ao ex-secretário de Governo João Eduardo Gaspar e estão proibidas de contratar com o poder público até o fim das investigações. Segundo a PF e a Controladoria Regional da União, as empresas investigadas firmavam contratos com a prefeitura e repassavam de volta entre 10% e 20% do valor total recebido.
O dinheiro, entregue em espécie a Gaspar, era repassado como um “mensalinho” a 22 dos 23 vereadores da Câmara de Mauá – a PF estima que o valor mensal era de R$ 265 mil. Desta forma, o prefeito ampliava seu poder político e conseguia a aprovação de projetos que eram de seu interesse.
A Operação Trato Feito é um desdobramento da Prato Feito, de maio, na qual Gaspar e Átila já haviam sido presos – contudo, eles conseguiram a liberdade e retornaram aos cargos por decisões do STF (Supremo Tribunal Federal). Essa primeira fase tinha como foco o superfaturamento em contratos de merenda e uniforme escolar.
Após Átila ser preso, dois processos de impeachment chegaram até o Legislativo, mas os mesmos 22 parlamentares acusados de receberem o mensalinho votaram contra a saída do prefeito.
Em maio, a PF encontrou R$ 580 mil em espécie e anotações na casa de Gaspar. Ele foi preso em flagrante por lavagem de dinheiro, e as planilhas apreendidas deram início às investigações envolvendo nove empresas e os 22 vereadores, todos citados nominalmente. A editora Brasileirinho aparece nessas anotações com dois repasses, um no valor de R$ 22 mil e outro de R$ 20,4 mil.
O contrato firmado em 2017 entre a empresa de Tomazin e a prefeitura previa a entrega de mais de 15 mil kits de livros que estimulassem a leitura. Estavam previstos cinco tipo diferentes de produtos. A soma entre as quantidades previstas no edital e o valor de cada item proposto pela Brasileirinho chega a R$ 1,5 milhão. Assim, a propina paga pela editora pode ter chegado a R$ 307 mil.
A reportagem tentou contato com Gustavo Tomazin Bortolucci por celular, no telefone da editora e na casa dele, mas o empresário não foi encontrado. A advogada dele foi procurada por telefone, mas não retornou os recados.
Os representantes jurídicos de Átila Jacomussi disseram que “este novo e arbitrário decreto de prisão nada mais faz do que requentar fatos que já eram conhecidos e tinham motivado o decreto anterior que foi revogado pela Suprema Corte”.
A defesa de João Eduardo Gaspar foi procurada para comentar a ação da Polícia Federal, mas não houve retorno até o fechamento da edição.
Gaspar já foi secretário de Esportes em Sumaré durante mandato do ex-prefeito José Antônio Bacchim (PT). Tomazin comandou a Secretaria de Desenvolvimento também de Sumaré no governo de Cristina Carrara (PSDB).