28 de março de 2024 Atualizado 18:57

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Celebridades

Uma visão de futuro

Entusiasta de temas contemporâneos e observadora nata, Gloria Perez entrega inspirações e celebra retorno de “O Clone”

Por Geraldo Bessa / TV Press

22 de outubro de 2021, às 11h41

Gloria Perez está sempre de olho em tendências e novos comportamentos. E é a partir do contraponto entre o novo e a tradição que a autora, geralmente, costuma arquitetar suas novelas. Por conta desse “radar”, os folhetins da autora foram pioneiros ao abordar temas como fertilização “in vitro”, centro da história de “Barriga de Aluguel”, de 1991, ou os primórdios da internet e da popularização dos computadores, alvo de Glória em “Explode Coração”, de 1995.

No final da mesma década, as experiências com clonagem, em especial o caso da ovelha Dolly, dominavam as manchetes e não saiam da cabeça da novelista. Por isso, acabou inspirando sua novela seguinte, o sucesso “O Clone”.

Os folhetins de Gloria Perez foram pioneiros ao abordar temas como fertilização “in vitro” ou os primórdios da internet e da popularização dos computadores – Foto: Divulgação / Globo

Exibida originalmente há exatos 20 anos, a trama aglutinou os avanços da ciência e os costumes muçulmanos e se tornou um dos maiores sucesso de sua carreira. “Escrever é uma forma de ampliar a minha visão de mundo. ‘O Clone’ foi uma novela transgressora e que criou laços muito profundos com o público. Vai ser ótimo rever na companhia de todos os fãs”, valoriza.

Natural de Rio Branco, no Acre, Glória é historiadora formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No final dos anos 1970, trabalhou de forma esporádica na tevê como pesquisadora. A estreia de verdade no vídeo foi sob a batuta de Janete Clair. Em 1983, a experiente autora já estava doente e, pela primeira vez, decidiu contar com a ajuda de uma colaboradora para o texto de “Eu Prometo”. Com o falecimento de Janete durante a exibição do folhetim, Glória acabou tendo de levar a história até o fim de forma solitária, tática que acompanha a novelista até hoje.

Após uma passagem bem-sucedida pela Manchete, foi na Globo que Glória acabou por construir uma sólida e premiada carreira, que ainda conta com títulos mais recentes como “América”, “Caminho das Índias” e “A Força do Querer” no currículo. “Minhas novelas são todas feitas a partir da observação da rua. Gosto de ter gente por perto e conversar. É por isso que as pessoas se identificam com grande parte das coisas que crio. Essa conexão com o povo é essencial para qualquer novelista”, avalia.

Como você recebeu a notícia de que “O Clone” seria novamente reprisada no “Vale a Pena Ver de Novo”?

Fico muito feliz de revisitar esse universo. E acho que esse é um dos motivos que levam o público a gostar tanto de rever novelas. Durante um tempo das nossas vidas convivemos com os dramas daqueles personagens, eles se tornam íntimos de nós. Revê-los é retornar também a um tempo do nosso passado. “O Clone” foi um trabalho maravilhoso de fazer, era uma equipe tão unida, tão apaixonada. Isso transparece na tela.

Qual sua principal lembrança do processo de criação na novela?

Fiquei 20 dias no Egito e outros 20 no Marrocos, pois precisava conviver com pessoas típicas do local. Minha ideia sempre foi buscar o muçulmano médio. Fiz amizade com o guia que nos acompanhou na viagem e convivi muito com a família dele, com os amigos dele, de modo a poder observar os costumes, as maneiras, a forma como viam a si próprios e como nos viam também. Por outro lado, estive em diálogo constante com o Sheik Jihad, que me presenteou com um Alcorão.

De onde surgiu a inspiração para unir cultura muçulmana e clonagem humana em uma mesma história?

O ponto de partida foi a ovelhinha Dolly. Se era possível clonar uma ovelha, não seria possível clonar um ser humano? Quis falar dos conflitos de identidade inerentes a uma experiência assim. Como se sentiria uma pessoa feita em laboratório como cópia de outra? Também quis falar dos limites éticos da ciência. Para se contrapor a esse Ocidente que desafiava Deus criando a vida, fui buscar pessoas inteiramente submetidas a Deus: os muçulmanos. Por isso eles entraram na trama.

“O Clone” também abordou o uso de drogas com os dilemas da jovem Mel, de Débora Falabella. Como foi a pesquisa para retratar o tema e o resultado da campanha socioeducativa?

Meu método é antropológico: chego perto, convivo. Percebia que tudo o que sabia sobre dependência química era a visão da polícia, dos médicos. E quis observar os dependentes. Pensar a campanha do ponto de vista deles. Essa foi a chave de ela ter sido tão bem-sucedida. Frequentei muitas clínicas, conversei com pessoas internadas e com outras que tinham conseguido superar a dependência.

Com as constantes mudanças sociais, como você acredita que a novela será recebida em 2021?

O ser humano é essencialmente o mesmo, desde que o mundo é mundo. Seus instintos básicos estão ali. Cada época valoriza algumas dessas características e reprime outras, mas a essência não muda. É nisso que eu foco. Acredito que quando você consegue tocar o humano, as histórias se tornam atemporais. Podem ser compreendidas em qualquer época e por culturas muito diferentes.

Publicidade