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Celebridades

Outras portas

Entre a comédia e o drama, Marisa Orth destaca a versatilidade exigida por seu papel em “Haja Coração”

Por Caroline Borges / TV Press

20 de fevereiro de 2021, às 07h11 • Última atualização em 20 de fevereiro de 2021, às 07h12

É difícil para Marisa Orth esquecer todos os detalhes e a experiência de participar da trama de “Haja Coração”. A novela, que foi ao ar originalmente em 2016, exigiu uma versatilidade impressionante da atriz, então com 53 anos.

Na pele da matriarca Francesca, ela teve a experiência inédita de passear entre a comédia e o drama ao longo dos capítulos da história de Daniel Ortiz. Conhecida pelos papéis cômicos, Marisa encarou novas oportunidades dramatúrgicas a partir da novela das sete, que voltou ao ar recentemente em virtude da pandemia do novo coronavírus.

Marisa reencontrou a personagem Magda no filme “Sai de Baixo”, uma adaptação da sitcom assinado por Miguel Falabella – Foto: Divulgação

“Foi uma chance de viver, por um longo período, um papel que não fosse uma comédia rasgada. A Francesca era uma mulher verdadeiramente possível, humana, real e responsável por vários momentos dramáticos. Me tirou um pouco do lugar da Magda e dos personagens estereotipados. Fiz uma personagem mais real dentro de uma novela, que ainda é o principal produto da televisão brasileira. Me mostrou para vários autores e público que eu poderia ser utilizada em vários papéis”, afirma.

De folga da tevê desde o fim do “Zorra”, Marisa já está envolvida em novos trabalhos dentro da emissora. Atualmente, ela grava o piloto de um novo humorístico para o Multishow. Na produção, ela contracenará com nomes como Paulinho Gogó, Babu Santana, Paulo Mathias Jr. e Evaldo Macarrão. “A nova política da Globo é que tudo é uma Globo só. Então, acontece uma mistura de elenco. É bem comédia e minha personagem se chama Kellen. Tenho planos para o teatro, mas não dá para falar ainda. A gente faz planos, mas o dinheiro não sai, perde o tempo dos direitos autorais. Está tudo se ajeitando”, planeja.

A trama de “Haja Coração” foi ao ar em 2016. Ficou surpresa com uma reexibição tão rápida da novela?

Me surpreendi com a reprise. Não esperava que a novela voltasse ao ar tão rápido, mas ninguém esperava uma pandemia também. Quando eu vi a reprise de “Totalmente Demais”, eu comecei a pensar que “Haja Coração” poderia voltar também. A novela foi bem de audiência na exibição original. E foi exatamente o que aconteceu. Está sendo uma experiência diferente acompanhar novamente a novela.

Como foi seu processo de composição para viver a Francesca, uma mãezona italiana?

Eu sou um pouco mãezona. Ninguém sabe, mas meu nome é Marisa Domingos Orth. O Domingos é de Domênico, meu avô italiano que mudou o nome no pós-guerra. Minha avó, que nasceu aqui, era bem italiana. A família toda da minha mãe era italiana. Então, me inspirei bastante na minha avó Jandira para criar a Francesca.

Como está sendo essa experiência de acompanhar a novela novamente no mesmo horário?

Estou adorando rever. Estou me surpreendendo com várias cenas na reprise. Algumas sequências que, inclusive, eu não havia dado valor ou assistido na época. Muitas vezes a gente estava gravando quando a novela estava no ar. Gosto muito da cena em que a Francesca vai dançar com o Rodrigo (Paulo Tiefenthaler) em uma gafieira. Também gosto das cenas dramáticas que fiz com a Chandelly Braz e a sequência final, quando a Francesca reencontra o Guido (Werner Schünemann). Foi uma novelinha muito feliz.

Recentemente, você integrou o elenco da última temporada do “Zorra”. Por conta da pandemia, muitas sequências foram feitas de forma remota. Como você lidou com esse processo de gravar de casa?

Contei com o apoio do meu filho, que é estudante do último ano da faculdade de Cinema. Isso facilitou bastante o processo, mas, ao mesmo tempo, foi bastante complicado. Era um outro ambiente profissional, uma outra superfície de contato. Ele tinha de me conhecer profissionalmente e eu tinha de conhecê-lo profissionalmente. Para ele, como futuro profissional, foi um estágio absurdo. Para mim, foi uma experiência impressionante e muito bacana.

De que forma?

Eu tinha de fazer cenário, figurino, cabelo. Tudo isso, claro, com a supervisão da equipe da Globo. Mas essa experiência me fez repensar todo o processo, sabe? Valorizar cada etapa e todos os profissionais que estão envolvidos. Foi muito difícil, mas também foi muito engrandecedor.

Apesar da pandemia ter agravado a crise, o setor cultural já passava por inúmeros desmontes nos últimos anos. Como você enxerga o futuro do setor artístico e cultural?

Eu vejo com muita preocupação, quase com desespero o futuro do setor cultural, audiovisual, cinematográfico, dança… enfim, a cultura em geral. A pandemia nos afeta diretamente, mas é mentira dizer que, quando a pandemia começou, a gente já não estava sofrendo ataques diretos. Ofensas, injúrias e difamações. Eu vi colegas que respeito muito sendo chamados de ladrões. E quem chama a classe cultural de ladra é a classe política, que tem muita tradição em roubar. Irônico, não? Sofremos censura, ataques diretos, cortes assassinos de verbas. Verbas que já estavam aprovadas não saíram, um achincalhe do Ministério da Cultura. Graças a Deus, uma parcela pequena da população pegou carona nisso. Talvez seja algum tipo de inveja. As pessoas têm inveja dos artistas e das pessoas que têm coragem de lutar pela arte em suas vidas. É preciso ter coragem. Muitas não têm essa coragem. É a única explicação que eu tenho. Fiquei com uma mágoa. O que gera esse descaso com a cultura e com a arte é o descaso com a educação. Quem tem o mínimo de educação e cultura garantidos tem muito prazer com a cultura e não joga pedra dessa forma. É difícil para o público entender que o setor cultural gera milhões.

Como assim?

Na Inglaterra, por exemplo, quando o Elton John ou Paul McCartney são condecorados como “lord” ou “sir”, isso mostra um reconhecimento do país pelos artistas. São uma usina ou um gerador de dinheiro para o país. Por que os Estados Unidos valorizam tanto o seu setor cultural? Não é porque eles gostam mais de teatro, mas porque eles gostam de dinheiro e entendem a força dessa indústria. O brasileiro precisa acordar para isso. O brasileiro precisa parar de reclamar do governo. Em vez de atirar no rei, o brasileiro atira no bobo da corte. Estou um pouco farta.

Apesar de ter feito uma rápida participação em “Bom Sucesso”, sua última novela inteira foi “Tempo de Amar”, que foi ao ar em 2017. Você tem desejo de retornar aos folhetins?

Fazer novela foi uma experiência muito gostosa porque, na minha vida, eu fiz pouca novela. Trabalho na casa desde 1990, mas eu fiz cinco ou seis novelas. Fiz muito programa na linha de shows. Então, eu não tenho aquela coisa de não aguentar mais fazer novela que tantos colegas falam após 18, 20 novelas. Para mim, ainda há certo frescor. Embora, eu saiba que é um baita esforço. Mas eu gostaria de fazer mais novelas. Tem vários papéis que eu ainda gostaria de fazer.

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