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Celebridades

Júlia Lemmertz sente a força de voltar ao ar na pandemia

Por Caroline Borges / TV Press

19 de janeiro de 2022, às 10h03

Júlia Lemmertz conhece a fundo os bastidores e detalhes que envolvem a televisão. Filha dos atores Lineu Dias e Lílian Lemmertz, ela, que conta com mais de quatro décadas de trabalho à frente do vídeo, sabe que a dramaturgia tem um papel fundamental na sociedade brasileira.

Atualmente no ar na lúdica “Quanto Mais Vida, Melhor!”, a atriz de 58 anos viu essa função social da tevê ganhar proporções gigantescas diante do turbulento período da pandemia de Covid-19. “Muita gente se foi. É uma tragédia que assolou o mundo. Temos de nos conscientizar da nossa função de artista. Eu nunca subestimo o poder da tevê de praticar boas ideias e pensamentos. A tevê aberta chega onde o streaming ainda não chega. Ela é muito absorvida. É um trabalho construído com muito tesão, amor e uma equipe sensacional”, valoriza a atriz, que vive a empresária Carmem.

Durante o período de reprises da pandemia, Julia esteve no ar nas reexibições de “Novo Mundo” e “Fina Estampa” – Foto: Divulgação

Na história de Mauro Wilson, Carmem sonha acabar com o império de Paula, papel de Giovanna Antonelli. É um vulcão à beira da erupção, enquanto não destruir sua arquirrival, cuja rotina vigia de sua própria sala, com o uso de binóculo. Mantém um caso de puro interesse com Marcelo, de Bruno Cabrerizo.

“As duas são do ramo dos cosméticos, mas uma com uma linha mais popular e a outra mais sofisticada, mas essa rivalidade vai se espalhando por todos os níveis. Elas se alimentam disso, isso impulsiona elas para serem melhores. É muito louco, é quase amor…”, defende.

A Carmem nutre uma rivalidade muito tensa com a Paula. Como você definiria a Carmem dentro da novela das sete?

Carmem é uma mulher de muita personalidade, muito determinada a ser sempre bem-sucedida em tudo que faz, não admite falhas, competitiva e com uma elevada autoestima. Ela também tem um temperamento forte e, com isso, passa por cima das boas práticas de gentileza, empatia e generosidade. Seu foco é arrasar com sua única rival, Paula Terrare. As duas têm um misto de emoções, que variam do ódio ao amor, da competição à parceria. Visto que esse é um trabalho de comédia, a novela é meio uma fábula, então nada é tão calcado na realidade, nos sentimentos ruins, todos os personagens têm seu lado bom e ruim, são humanos.

De que forma você enxerga essa rivalidade entre a Paula e a Carmem?

As duas são mulheres muito diferentes, mas complementares também, competem porque no fundo acho que uma queria ser como a outra, ter o que a outra tem. As duas são do ramo dos cosméticos, mas uma com uma linha mais popular e a outra mais sofisticada, mas essa rivalidade vai se espalhando por todos os níveis. Elas se alimentam disso, isso impulsiona elas para serem melhores. É muito louco, é quase amor… Eu comecei a novela com essa personagem meio vilã, poderosa e bélica. Mas a novela foi andando e tudo mudando.

Como assim?

Então, a gente teve o agravante de não ver a novela, né? Ao longo do processo de gravação, eu não vi nada, não sabia de nada. Quando eu acabei de gravar, a Carmen se modificou muito. Teve uma espécie de segunda chance, aprendeu com a experiência. Ela e a Paula descobriram o afeto um pela outra. Desenvolvi um carinho enorme pela personagem e pela humanidade que ela foi criando. Estava louca para ver todo mundo em cena. Pela primeira vez, eu faço uma novela que posso ver junto com o público. Seja o que Deus quiser (risos).

A novela teve a estreia atrasada em mais de um ano por conta da pandemia de Covid-19. Como foi gravar durante esse momento tão turbulento e com todos os protocolos de biossegurança?

O início da novela foi extremamente difícil de gravar para mim. Eu olhei para tudo e pensei: “Caramba, como a gente vai fazer isso?”. Parecia que a gente estava na NASA. Todo mundo com macacão branco, máscara, face shield… A gente ensaiava de máscara e só tirava a máscara no momento de gravar. Eu precisava de um momentinho para acostumar que tinha boca (risos). A gente precisava ter uma segurança de ficar frente a frente para o parceiro. Será que vou passar algo para ele? Será que ele está bem mesmo? É uma novela leve, divertida e engraçada. Enquanto a gente gravava essa trama, estávamos passando por um momento barra pesada da pandemia. A primeira gravação com figuração ficou muito marcada para mim.

Por quê?

Era a cena de um lançamento de um produto da empresa da Carmem. Todo mundo testado, um cenário grande e todo mundo meio espalhado pelo local. Então, na hora de gravar, alguém da equipe falou: “Tirem a máscara e divirtam-se. Vocês estão em uma festa”. Todo mundo se olhou meio constrangido, ninguém sabia muito bem como se comportar. Ninguém estava festejando na vida real, tinham mais 1000 pessoas morrendo por dia. A arte tem esse ofício de ajudar a gente a passar por esses momentos difíceis. No início, o Alan (Fiterman, diretor) falou que eu estava muito dramática, tinha de pegar um prazer. Eu deixei essa onda de medo ir para a personagem. A gente tinha de usar aquele espaço para brincar. Falei muito com o Mauro no início do processo. Infernizei a vida dele, mas com todo amor (risos).

Onde você buscou inspirações para compor a Carmem?

As inspirações vieram de vários lugares. Teve uma pitada da Meryl Streep em “O Diabo Veste Prada”, um pouco da energia de competição de uma série ótima chamada “The Morning Show”, tem um jeito cool de ser de uma atriz que me inspirou o corte de cabelo, a Tilda Swinton, tem um pouco de cartoon, nas brigas da Carmem e da Paula, tipo gato e rato. Eu acho que esse cabelo combinava com uma figura mais andrógena. A figura da Carmem se construiu muito também com o figurino bafo da maravilhosa Natalia Duran, nossa figurinista. E também com a parceria com a Giovanna. A gente vai construindo junto.

De que forma?

Esse trabalho foi um grande encontro com a Giovanna. Televisão ninguém faz sozinho. A gente faz com a outra pessoa. Agora, como ser o contraponto de uma mulher como a Giovanna? Ela é uma atriz extraordinária, uma pessoa incrível e uma amiga querida. Ela entra pra jogar com os 11, sabe? Ela quer que todo mundo jogue junto, não quer a bola só para ela.

A novela tem como mote uma segunda chance após um encontro com a morte. Você mudou sua forma de encarar a finitude da vida após o folhetim?

Acho que a pandemia fez com que a gente pensasse muito nisso. Fiquei pensando muito: “Por que tanta gente boa vai embora e tanto filho da puta fica por aqui?”. A gente não consegue entender isso. Não é questão de merecimento. É uma questão de hora mesmo, de vida e de missão cumprida. Acho que sempre devemos celebrar a vida das pessoas. Claro que o fato de irem embora traz tristeza, mas a gente tem de celebrar o que de bom deixaram para gente e como nos impactaram. Acho que o grande legal da novela é como esse assunto é abordado de forma lúdica.

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