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Celebridades

Força artística

No ar em “Um Lugar ao Sol”, Marieta Severo valoriza a importância da arte em momentos turbulentos

Por Caroline Borges / TV Press

12 de janeiro de 2022, às 21h28 • Última atualização em 12 de janeiro de 2022, às 21h29

As mais de cinco décadas de carreira gabaritam Marieta Severo para inúmeras situações diante das câmeras de tevê. Ainda assim, toda essa expertise e experiência não preparou a atriz de 75 anos para uma inacreditável pandemia.

A Covid-19 não só gerou uma inédita paralisação das produções audiovisuais, mas também apresentou um cenário de trabalho completamente novo e cheio de percalços para a intérprete da sábia Vó Noca, de “Um Lugar ao Sol”, atual novela inédita das nove da Globo.

A estreia de Marieta na tevê foi em “O Sheik de Agadir”, de 1966, quando tinha 19 anos – Foto: Divulgação

“A arte e a ficção foram minhas salvadoras nesse período horrível. Poder viver uma personagem como a Noca foi salvador. Era uma espécie de refúgio, o meu período de estudo para mergulhar no universo da personagem. Não sei o que seria de mim se não tivesse a novela nesse período”, revela.

Na história do horário nobre, Noca é uma mulher forte e com um passado que guarda muitos segredos. Após a morte da filha, ela assume a função de criar a neta Lara, papel de Andréia Horta. Apesar de em alguns momentos discordar da jovem, é seu apoio em todas as situações. Nos últimos capítulos, o passado da personagem começou a ser desvendado.

Além da mãe de Lara, ela também teve outro filho, Jerônimo, que foi tirado de seus braços em um ônibus. “A Noca carrega uma sombra do passado, mas, ainda assim, ela é uma personagem solar. Não é que a Noca esconda o passado, mas ele vai sendo revelado aos poucos. É uma artimanha da autora, né”, ressalta.

Sua última novela foi “O Outro Lado do Paraíso”, que foi ao ar em 2017. O que a atraiu no convite para participar de “Um Lugar ao Sol”?

Eu acho que “Um Lugar ao Sol” toca em vários pontos importantes e faz reflexões interessantes ao longo dos capítulos. A trama fala sobre várias bandeiras muito atuais. Problemas que estão na sociedade e todo mundo está vivendo. A Vó Noca é uma sobrevivente. Uma sobrevivente do machismo e da falta de oportunidade.

Como você define o papel da Noca dentro da trama das nove?

A Noca tem uma sabedoria da vida e eu acho isso lindo demais de ser explorado. Ela tem um conhecimento que foi adquirido com a vida. Ela é muito sábia, mas não é desse conhecimento formal que estamos falando. Muitas vezes, inclusive, esse conhecimento formal não leva à sabedoria, ok? O conhecimento da vida é absoluto. A Noca compreende as coisas e o outro pelo coração. Tem uma empatia muito forte. Isso é uma necessidade que foi imposta pela pandemia. Ela enxerga a luta do outro e toma para si, seja o que for. A melodia da Noca é: “levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima”. Conviver com ela, absorvê-la para a minha vida foi muito bom, muito importante. A pessoa mais velha é colocada em um lugar muito especial na trama da Lícia.

De que forma?

A Lícia dá espaço para essa vivência da vida, da sabedoria que só a vida dá. É muito bom dar voz para isso. Porque a tendência da sociedade é deixar os mais velhos de fora, não aproveitar tudo isso. A gente tem coisas para dizer. Os índios, por exemplo, valorizam muito a sabedoria dos mais velhos. Um conhecimento que vai passando de geração em geração. Feliz de estar nesse lugar de valorização da terceira idade.

Após a morte da filha, a Noca assume a criação da neta Lara. Como essa relação foi construída ao longo dos capítulos?

Elas têm uma liga muito forte. Ela encaminhou a neta, explicou as coisas boas e bonitas da vida. Cria uma jovem com os melhores valores éticos e morais. Porém, o bonito dessa relação é o contraste. É interessante porque a vó Noca, uma mulher mais velha, muitas vezes, bagunça o coreto da neta. Eu diria que a neta é mais careta que a avó, ela está sempre ampliando os horizontes e as perspectivas da neta. Tem uma forma de se comportar fora do tradicional. A Noca tem mais maleabilidade do que a neta. É um contraponto interessante da juventude e da velhice. A Noca é mais solta na vida do que a própria neta.

Por conta da pandemia de Covid-19, a novela sofreu com um longo processo de paralisação nos anos de 2020 e 2021. Como foi retornar aos estúdios após um período isolada?

Foi salvador ter a ficção ajudando nesse momento horroroso. Poder viver uma personagem como a Noca, no meu caso, foi salvador. Estudar, entrar nesse universo e encontrar os colegas foi redentor. Não sei o que teria sido, no meu caso particular, se não tivesse a novela para passar por esse período louco.

De alguma forma, os novos protocolos de gravação interferiram no seu trabalho?

Claro. Esse processo todo sempre tinha uma tensão do vírus que podia estar circulando no ar. Mas, com todas as precauções e cuidados, podemos lidar com essa coisa meio nova e misteriosa. Foi estranho não me alimentar do outro cena. A gente olha no olho do colega, vê a boca e o jeito. Tudo isso ajuda na nossa construção também. Fomos descobrindo novos estímulos e maneiras de trabalhar. Ainda assim, a gente ganhou uma qualidade enorme durante o trabalho. Nunca tinha visto isso antes em novelas.

Como assim?

Tivemos a oportunidade de fazer menos cenas por dia. Como tudo na vida, tem o lado bom e o lado ruim. A gente pôde usufruir de tudo isso. A gente trabalhou com uma calma que não existe no ritmo normal das novelas. Geralmente, a gente realiza 30 cenas por dia. Dessa vez não tivemos nada disso. Gravávamos com tranquilidade, podíamos repetir. Foi uma chance muito especial. E o resultado está no ar. Vejo como as imagens são sofisticadas, lindas.

Além de “Um Lugar ao Sol”, você também revisitou a vilã Fanny na reexibição de “Verdades Secretas”. Como foi acompanhar a novela novamente?

Foi ótimo. É sempre bom ver de novo um trabalho do qual a gente sente orgulho. E agradeço muito ter feito parte desse. Fanny era amoral, sem escrúpulos, a coisa mais importante para ela era o poder e o dinheiro. Representava muito bem parte da sociedade atual, que se rege por esses valores. A história que o Walcyr (Carrasco) criou era original, densa, dramática, muito reveladora, eram verdades secretas mesmo. A direção do Maurinho Mendonça e da equipe dele foi extraordinária. A estética e a fotografia eram sofisticadas, a trilha sonora era ótima. E tínhamos um elenco muito coeso, com um nível de interpretação muito bom.

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