24 de abril de 2024 Atualizado 19:16

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

ENTREVISTA

Fora de ordem

Renato Góes vive o protagonista José Leôncio na primeira fase de “Pantanal”

Por CAROLINE BORGES - TV PRESS

11 de abril de 2022, às 10h29 • Última atualização em 11 de abril de 2022, às 10h31

Com sua participação em “Pantanal” finalizada, Renato Góes está escalado para “Mar do Sertão”, próxima novela das seis - Foto: DIVULGAÇÃO_GLOBO

trama de “Pantanal” se apresentou de forma inédita para Renato Góes em diversos sentidos. Acostumado a mergulhar em vivências intensas a cada trabalho, o ator de 35 anos procurou um caminho completamente novo para compor o protagonista José Leôncio na primeira fase do enredo assinado por Bruno Luperi. Assim que soube que viveria o icônico personagem criado por Benedito Ruy Barbosa, Renato tratou de mergulhar nos detalhes do texto da novela das nove.

“Costumo fazer o contrário, viver o dia a dia do personagem. Para fazer o Marcelo D2, eu fui trabalhar no camelô, criei uma banda, tudo por minha conta. Para fazer um médico em ‘Os Dias Eram Assim’, eu fui entender o trabalho dos Médicos Sem Fronteira… Mas nesse eu quis ficar mais no que o texto de fato tinha como tempo, como forma de falar. Eu achava que seria mais interessante se eu levasse ele para o texto da fábula, da criação, do que trazer para a realidade, que seria mais um empréstimo meu. Fui deixando o texto me levar, me conquistar”, defende.

Na história do horário nobre, José Leôncio foi criado no lombo do cavalo de seu pai, Joventino, papel de Irandhir Santos. Após o desaparecimento do peão, José Leôncio carrega essa dor em ferida aberta a vida inteira. Pai de Jove, Tadeu e José Lucas de Nada, interpretados por Jesuíta Barbosa, José Loreto e Irandhir Santos, carrega, além de suas amarguras, a frustração de nunca ter sido para nenhum dos três filhos o que o velho Joventino foi para ele.

“O José Leôncio é um homem real, com falhas, mas ele tem uma honestidade e retidão que é muito admirável. Você tem outras coisas da fantasia, da fábula, do herói, mas o que mais me atrai no Zé Leôncio são os defeitos dele, de não fugir deles, de encará-los. Entender como traços que dizem quem é esse cara”, explica Renato, que será substituído por Marcos Palmeira na segunda fase da história.

Como o convite para viver o José Leôncio chegou até você?

Recebi uma ligação do Papinha (Rogério Gomes, diretor). Me tremi todo durante a ligação. Desde que anunciaram o “remake”, havia uma expectativa em cima da escalação. Sabia que seria um trabalho de responsabilidade grande. Fiquei muito empolgado, mas também passei um tempo na apreensão de dar certo ou não.

Por quê?

Tinha uma questão de agenda de trabalho, junto com mudanças de datas devido à pandemia. Mas foi um presente realmente porque eu gosto muito do personagem herói quando ele tem traços anti-herói. Quando ele consegue não ser mocinho nem vilão, mas transcender isso tudo. Esse é o tipo do personagem que me motiva, me empolga, que me dá prazer mesmo.

Antes do início das gravações, você chegou a passar 15 dias no Pantanal. Como foi essa experiência?

Foi um mês antes de começarem as gravações. Liguei para alguns amigos e expliquei que eu gostaria de conhecer a região, fui com eles, passamos juntos essas duas semanas. Dentro desse período, fui para a casa do Almir (Sater) passar três dias e o restante foi nas redondezas de Aquidauana, no Bosque Belo, a meia hora de Aquidauana. Foi um impacto muito grande. É uma quantidade de bichos… Eu queria perder isso, queria que meu personagem não tivesse um deslumbramento de quem está vendo isso tudo pela primeira vez. Meu personagem está acostumado com biomas diferentes. Eu precisava quebrar isso. Mas foi uma tarefa difícil perder esse encantamento.

Como assim?

Cada cenário era uma coisa completamente nova e impressionante. Desde o dia que cheguei, procurei ver como era o dia a dia dos peões, a lida, o manejo. Eu tenho alguma conexão com isso por ter frequentado muito o agreste pernambucano. Entendia a lida, gostava disso, mas cada lugar é um lugar. O Pantanal tem suas peculiaridades, principalmente as nomenclaturas das coisas, a guaiaca, o alforje, a bainha, tudo que você usa que é legal você tratar com respeito e falar os nomes certos, para ter essa identificação. As pessoas locais que estiverem vendo vão saber que fizemos o dever de casa. O Almir tem um espírito que eu queria buscar muito para esse pantaneiro, essa expressão calma, serena, sábia, com a visão longe, de quem enxerga muito as coisas. Ele só de olhar sabe quais são todas as árvores, porque estão secas, porque um animal está ali fazendo o que está fazendo. Eu estava buscando isso.

Você passou cerca de 50 dias gravando no Pantanal. Quais foram os principais percalços ao longo do trabalho na região?

Eu vivi um outro Pantanal, peguei 12º C lá. No dia mais quentinho desse período estava 18º, 19º C. Inclusive, toda hora meus amigos de lá e o Almir me diziam que eu ia encontrar outro Pantanal. Eu realmente vi dois pantanais diferentes em um curto espaço de tempo. A rotina de trabalho, para mim, não foi tranquila.

De que forma?

Eu gravava todos os dias, gravei bastante coisa mesmo. O meu corpo cansava, mas acordava zerado, novo, porque foi muito bom de fazer. Sabe quando você malha pela manhã e está mais disposto para o dia? Eu me sentia assim. Um dia era sempre melhor que o outro. Nos momentos de folga eu só descansei. Lá a gente tem o privilégio de fazer diversas locações. Levamos boi de uma fazenda para outra. Então estávamos realmente vivendo as coisas. Domingo eu tirava para de fato me reconectar com o que eu queria. No dia a dia eu vivia o personagem, e, no domingo, eu voltava para entender o que eu queria para a semana, dentro do quarto, quieto.

Quando “Pantanal” foi ao ar originalmente, você tinha cerca de quatro anos. Você tem alguma lembrança da obra do Benedito Ruy Barbosa antes do convite para o “remake”?

Sim, não da primeira (versão), mas de quando reprisou. Essa reprise eu lembro bastante. A primeira eu lembro de ouvir a música, lembro dos comentários das pessoas. Tenho bastante lembrança desde quando tinha dois anos, então quando exibiu a reprise eu lembro bastante. Sobre Zé Leôncio, o nome eu lembrava, mas não lembrava do personagem em si. Na época, eu lembro de ficar muito marcado com o Velho do Rio, com Juma, Jove e o Tadeu. Foram os personagens que mais me marcaram. Mas o Zé Leôncio lembro principalmente do Paulo Gorgulho, eu não entendia bem essa coisa de primeira e segunda fase.

Você chegou a rever o folhetim original antes do início dos trabalhos ou preferiu não se influenciar?

Assisti agora, sim, porque não sou besta, né? (risos). Queria pegar tudo de bom que todos fizeram. Eles arrasaram. Queria rever para entender a dramaturgia da novela. A nossa grande função é, no mínimo, fazer com que esses atores e o Benedito se sintam homenageados. Claro que vamos dar a nossa cara para os personagens, mas a obra foi importante de base.

Conexões passadas

Ao longo dos 50 dias em que esteve gravando no Pantanal, Renato Góes conseguiu articular uma visita da esposa, Thaila Ayala, ao bioma. No entanto, com a restrição de pessoas ao “set” por conta dos protocolos de combate à Covid-19, a atriz e modelo ficou alguns dias na casa do músico Almir Sater. “Ela foi escondida para a casa do Almir quando estava grávida de seis meses. E foi uma coincidência mágica incrível. Porque, durante a primeira versão, o Paulo Gorgulho também levou a esposa grávida de seis meses escondida para a casa do Almir”, afirma.

Durante um de seus passeios, Renato passou por uma das experiências mais emocionantes do período em que esteve na região. O ator se deparou com uma onça tomando banho de rio. Apesar do choque inicial, ele ainda conseguiu fazer alguns registros do animal. “Sempre perguntava para o Almir como seria se encontrássemos com uma onça. Ele sempre dizia para respeitar e se afastar. Consegui pegar meu celular e filmar um pouco. No dia seguinte, voltamos lá para ver as pegadas na terra. Foi especial eu, Thaila, uma onça e o pôr-do-sol”, relembra,

Dono do pedaço

A longa passagem pelo Pantanal mexeu bastante com Renato Góes. O ator, que já conhecia uma parte da região antes do início dos trabalhos, assumiu a função de anfitrião do elenco que chegava para as gravações da novela. “Eu ouvia as histórias do Pantanal uma vez só, mas contava para todo mundo como se fosse um profundo conhecedor daquelas árvores e medicinas (risos). Quis ser uma espécie de anfitrião na segunda passagem por lá”, ressalta.

Os quase 50 dias de convívio com a equipe e o elenco foram cruciais para Renato ao longo do trabalho. Inicialmente, a preparação da novela começou a ser feita de forma remota por conta das restrições da pandemia. “Tinha um certo medo dessa preparação feita de forma distante, sem tantos encontros por conta dos protocolos. Mas deu tudo certo no final. Conseguimos absorver e trocar bastante durante as gravações no Pantanal”, valoriza.

Instantâneas

Antes mesmo de ser chamado para “Pantanal”, o ator já tinha algumas noções de montaria. “A Globo sempre tem esse cuidado da gente fazer aulas antes, mas eu já tinha essa familiaridade, ando a cavalo desde moleque. Eu já sabia laçar e quando começou nossa preparação peguei um dia só para relembrar”, afirma.

Renato e Thaila Ayala são pais do pequeno Francisco, que nasceu em dezembro do ano passado.

A primeira participação de Renato Góes na tevê foi na trama de “Pé na Jaca”, de 2006.

Publicidade