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Celebridades

Dose dupla

Fã da obra de Benedito Ruy Barbosa, Irandhir Santos se emociona por integrar a saga de “Pantanal”

Por GERALDO BESSA - TV PRESS

24 de julho de 2022, às 15h03

Depois de muitos anos dedicado quase integralmente ao cinema, Irandhir Santos vem ressignificando a tevê em sua trajetória de forma gradual. Sem preconceitos, mas também selecionando bem cada passo, é com um papel duplo em “Pantanal”, que o ator celebra mais uma participação no vídeo e abraça a boa popularidade que a atual novela das nove pode proporcionar. “Que novela linda, né? Eu sou apaixonado por tudo o que o Benedito Ruy Barbosa fez e acho que a obra está muito bem adaptada aos dias atuais pelo Bruno Luperi. A resposta do público está sendo muito carinhosa. Brinco que já estava envolvido com esse trabalho antes mesmo dele existir”, ressalta o ator, que interpretou o patriarca Joventino na primeira fase da história e agora dá vida ao “sem eira nem beira” José Lucas de Nada. “São personagens que se complementam e ambos são atraídos pela força da natureza”, conceitua.

Natural da pequena cidade pernambucana de Berreiros, aos 43 anos Irandhir é um dos atores mais premiados de sua geração. Tudo por conta de desempenhos intensos e arrebatadores em filmes como “Baixio das Bestas”, “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” e “Tatuagem”. Em 2007, o burburinho em torno de seu nome fez com que ele estreasse na tevê em “A Pedra do Reino” sem a necessidade de testes. Mesmo gostando da experiência sob a direção de Luiz Fernando Carvalho, só retornou aos estúdios da Globo sete anos depois, para papéis de destaque na minissérie “Amores Roubados” e no “remake” de “Meu Pedacinho de Chão”. “Voltei e fiquei. Acho que a televisão é um lugar de grandes personagens. Tenho tido muita sorte e vou aproveitando isso enquanto me chamarem”, garante o ator, que também esteve em “Velho Chico” e nas recentes “Onde Nascem os Fortes” e “Amor de Mãe”.

Depois de interpretar o Joventino na primeira fase de “Pantanal”, você voltou à trama como o neto desconhecido dele. São personagens complementares?

Ambos são atraídos pelo Pantanal. O Joventino tem a missão de zelar pelo bioma e por sua família e vira uma entidade. Já o Zé Lucas se sente atraído pela força daquela região e pela vontade de encontrar suas origens, de alguma forma, se sente conectado com um ambiente em que ele nunca esteve. São dois papéis totalmente diferentes, mas que guardam esse elo com a natureza a quebra dos próprios paradigmas.

A preparação foi feita de maneira paralela?

Tudo foi acontecendo de maneira muito livre. Fui construindo o Joventino como uma espécie de pedra fundamental. Afinal, é da figura desse personagem que se desenvolve toda a história. Tudo mudou quando soube que quem iria interpretar o personagem no restante da trama seria o Osmar Prado.

Por quê?

Não me contive de felicidade. Sou um grande admirador desse homem, cidadão e artista. Então, meu Joventino passou a ser moldado para o que eu entregaria ao Osmar. Estudei sozinho, como sempre faço, tive encontros com a preparadora de elenco e conversei muito com a direção e outros departamentos da equipe técnica. Mas confesso que o personagem só se estabeleceu quando eu encontrei o Osmar e a gente conversou.

Como foi esse contato?

Tivemos uma conversa longa no Pantanal. Ali, pude entender até que ponto eu cavalgaria e desceria do “cavalo” para entregar as rédeas para esse ator. Olhava para o Joventino e já o entendia como um homem um passo antes da entidade, prestes a ser um guardião da natureza. Isso foi potencializado pela presença do Osmar Prado no projeto. Achei a transição muito bonita.

Foi sua primeira vez na região do Pantanal?

Sim. Era um pedaço do Brasil que eu não conhecia pessoalmente. Mas as imagens da primeira versão da novela até hoje são muito nítidas nas minhas memórias. Tinha de 12 para 13 anos e quando ligava a televisão toda aquela exuberância entrava na minha casa. De alguma forma aquela história do Benedito mexeu de verdade comigo. Agora, 30 anos depois, viajar até o Pantanal, pisar e olhar, tem uma sensação de “eu já estive aqui”. Já estive como espectador, mas foi tão próxima a experiência que existe um sentimento de pertencimento.

Foi esse sentimento que o fez aceitar interpretar dois personagens?

É meio louco, mas tenho a sensação que o Benedito já está me convidando para fazer parte das histórias dele há muito tempo. Essa sensação vem da minha infância, quando eu assistia às novelas, e ela se perpetuou na minha formação como ator. Afinal, das quatro novelas que fiz na minha vida, três tem a ver com o Benedito: “Meu Pedacinho de Chão”, “Velho Chico” e agora “Pantanal”. Apesar de não ter muitos folhetins no currículo, sei do trabalho e entrega que eles exigem. E mesmo assim vibrei muito com esse convite.

Sua relação com a tevê vem se consolidando ao longo da última década. Como foi esse processo?

Natural. Trabalhei com o Luiz Fernando Carvalho em “A Pedra do Reino”, em 2007, e depois disso eu comecei a fazer muito cinema. Não tinha tempo para me envolver com projetos de longa duração, era um momento que eu precisava e queria muito viver. E foi um filme atrás do outro mesmo. Entre 2005 e 2010, por exemplo, estive em 12 longas (risos).

Você tinha algum preconceito ou mesmo falta de interesse pelos temas e formatos da televisão?

Nada disso. Eu precisava, é claro, de um projeto que me fizesse ter vontade de estar na televisão. Em 2014, isso aconteceu de forma dupla. O José Luiz Villamarim me chamou para fazer “Amores Roubados” e o Luiz Fernando me mostrou o projeto incrível de “Meu Pedacinho de Chão”. Aproveitei a agenda mais folgada e fiz os dois trabalhos. Foi muito gratificante e, pela primeira vez, pude sentir a repercussão popular que é estar em uma novela. Nos últimos anos, encontrei personagens incríveis em produções como “Onde Nascem os Fortes” e “Amor de Mãe”. Descobri a tevê e ela me descobriu também.

Medo de voar

Apesar dos suntuosos Estúdios Globo, complexo da emissora localizado no Rio de Janeiro, grande parte das cenas de “Pantanal” foi realizada em externas no Mato Grosso do Sul, onde elenco e equipe técnica passaram cerca de 40 intensos dias de trabalho. Sabendo das dificuldades de se chegar nas locações selecionadas e com muito medo de viajar em aviões de pequeno porte, principal meio de locomoção entre as fazendas da região, Irandhir Santos teve de negociar com a Globo uma saída para não passar sufoco durante a estadia no Pantanal. “Abri o jogo com a produção, falei do meu medo e eles foram supercarinhosos. Colocaram um carro à disposição e foi assim que pude trabalhar sem sustos”, destaca, entre risos.

Por conta do medo, a rotina de trabalho de Irandhir acabou se diferenciando da do restante do grupo. Ele tinha de acordar cerca de uma hora mais cedo para chegar às localidades mais escondidas, além de enfrentar estradas carentes de infraestrutura. “Foi uma grande aventura! Viajava abrindo e fechando porteiras. De avião, as viagens duravam de sete a dez minutos. De carro, era toda uma confusão, mas pelo menos chegava tranquilo para trabalhar”, conta, aliviado.

Olhar de fora

A concentração e o jeito com que Irandhir Santos encara a câmera sempre impressionou o diretor de fotografia e cineasta Walter Carvalho. A fixação de Walter com o método de criação de Irandhir ao longo das filmagens do longa “Redemoinho”, dirigido por José Luiz Villamarim, em 2017, acabou rendendo outro trabalho: “Iran”, documentário carregado de poesia onde Carvalho flagra o ator em seu habitat natural: a atuação. “Não fui nem avisado sobre essas filmagens. Quando vi, o material já existia”, conta.

Fugindo de qualquer viagem ególatra, entre anotações, comentários, entrevistas e exercícios, a produção se utiliza de tom experimental para desnudar Irandhir em cena. “Walter me disse uma coisa que me deixou mais seguro em relação a ser o único nome dessa produção. ‘Iran’ não é um filme sobre mim, mas sobre a experiência do ator”, analisa.

Instantâneas

Irandhir Santos é formado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Pernambuco.

Mesmo contratado da Globo, o ator continua com residência fixa em Recife, capital de Pernambuco.

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