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SPFW celebra a diversidade com cultura afro e causa trans

Nas passarelas, a diversidade de etnias e tipos físicos deixou claro que a era das modelos muito brancas e muito magras acabou

Por Agência Estado

21 de outubro de 2019, às 07h00 • Última atualização em 25 de outubro de 2019, às 17h06

Plural, diversa, responsável e inclusiva. A moda da próxima década está pautada em movimentos de expressão – e não de exclusão. Prova disso foram os desfiles do São Paulo Fashion Week, que terminaram sexta, 18, no Pavilhão das Culturas, no Parque do Ibirapuera. Nas passarelas, a diversidade de etnias e tipos físicos deixou claro que a era das modelos muito brancas e muito magras acabou.

Imagens altamente glamourosas, assim como belezas inatingíveis, não criam empatia e identificação, e não ecoam nas redes sociais no Brasil. Por isso, perderam o encanto. “A moda desceu do salto e isso é um sinal dos tempos. O próprio SPFW está menor, mais despretensioso, mais pé no chão. Não cabem mais editoras de moda esnobes, não cabe mais carão”, diz Daniel Falcão, CEO da Globo Condé Nast, que publica a revista Vogue.

Foto: Agência Fotosite
Nas passarelas, a diversidade de etnias e tipos físicos deixou claro que a era das modelos muito brancas e muito magras acabou

Daniela lembra que, com a fragmentação da comunicação e das formas de produção e de varejo pela internet, a moda se democratizou. Em busca de ações que engajem a audiência, as marcas assumem a defesa de diversas bandeiras e causas, muitas delas ligadas ao universo LGBTQ+. Não à toa, o brasiliense Sam Porto assumiu o posto de primeiro homem transgênero a desfilar no evento e já estreou como um dos recordistas de desfiles, sendo destaque em nove das 26 apresentações da temporada.

Aos 25 anos, Sam, que é tatuador em Brasília, foi escalado tanto para menores e mais alternativos, quanto para shows de marcas consagradas. Para a Korshi, marca jovem participante do Projeto Estufa, Sam chegou a desfilar de peito aberto, com as cicatrizes da cirurgia de remoção à mostra. “Quando você vê marcas de moda do mainstream ressaltando modelos trans, percebe que a questão da diversidade começa de fato a atingir um público mais amplo e a se estabelecer”, observa Camila Yahn, editora-chefe do portal FFW.

Entre os desfiles mais disputados, estavam os de dois estilistas negros estreantes no evento, Isaac Silva e Ângela Brito, ambos interpretando suas origens africanas, questionando o status quo e transformando a passarela em uma espécie de lugar de fala. A coleção de Isaac, Acredite no seu Axé, composta só de looks brancos exibidos por modelos pretos, foi ovacionada efusivamente do início ao fim. A plateia, formada por amigos do estilista, clientes da marca, além de artistas e ativistas negros, reagiu a tudo com vibração, alegria e energia, ao contrário dos gestos contidos e ares blasés que normalmente imperam nesse ambiente. “Moda é cultura, é uma maneira de valorizar nossa ancestralidade com confiança e amor e é também uma forma de expressão potente”, diz o estilista.

Já Ângela Brito brilhou com uma coleção inspirada no blues das décadas de 1930, 40 e 50, baseada em nuances de amarelo, azul e verde, em looks desfilados também só por negras. De maneira geral, os castings dos desfiles contaram com belezas bem diversas. As três modelos mais requisitadas da temporada foram afro: Nayara Oliveira, Mariane Calazan e Isadora Oliveira.

Segundo números informados pelo evento, dos 834 modelos cadastrados para participar da semana de moda, 204 são de origem afro e apenas 10 de origem indígena. Lembrado que, há menos de dez anos, a discussão girava em torno da ação do Ministério Público Estadual que previa cota de 10% de modelos negros, afrodescendentes ou indígenas no SPFW – e, naquela época, muitos estilistas não chegavam a atingir.

Em relação à idade a ao tipo físico, os desfiles de Fernanda Yamamoto e da plataforma Free Free, comandada pela diretora criativa Yasmine Sterea, foram os grandes palcos da semana. Free Free fez uma ode à pluralidade, convocando mulheres de idades variadas e diversos tipos físicos em seu desfile-manifesto. Os looks, doados por acervos de marcas como Paula Raia, Reinaldo Lourenço, Osklen, Cris Barros, foram adaptados e renovados por artesãs de 10 comunidades. Também foi bonito de ver a passarela da estilista Fernanda Yamamoto, que faz uma moda ageless e decidiu comemorar os 10 anos da grife com modelos que fizeram parte de sua história, incluindo parceiras, costureiras e clientes.

Em uma outra iniciativa inédita, como parte de um projeto da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED), os desfiles do Projeto Estufa ganharam narração descritiva para deficientes visuais feitas por jornalistas convidados. “Foi emocionante, me senti honrada”, disse a jornalista Lilian Pacce. (Colaborou Lays Tavares)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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