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Revista L

Como incentivar crianças e jovens a serem proativos?

Especialistas apontam o uso sem critério da tecnologia como um dos principais obstáculos para a necessária valorização dos estudos

Por Danilo Reenlsober

16 de novembro de 2019, às 09h02

Não se pode negar que o mundo está passando por uma revolução tecnológica. Uma pesquisa realizada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo e divulgada em abril mostrou que existem mais smartphones em funcionamento no Brasil do que habitantes para utilizá-los. De acordo com os dados, são 230 milhões de celulares ativos hoje no País, para uma população composta por 209 milhões de pessoas.

Foto: Pixabay
Estimular crianças e jovens a serem proativos é um desafio dos educadores nos dias de hoje

As crianças e jovens em idade escolar fazem parte dessas estatísticas e geram um novo e desafiador problema para as unidades de ensino: como lidar com uma geração que nasceu em meio à tecnologia e fazer com que ela privilegie os estudos, em vez de manter o foco nas telas dos celulares e nas redes sociais? Como estimular crianças e jovens a serem proativos e voltarem o olhar para a importância da aquisição de conhecimentos necessários para o futuro profissional?

“É impossível a gente pensar num profissional que não domine a tecnologia para os futuros empregos, mas ela [a tecnologia] pode atrapalhar quando não é entendida por esse jovem como um recurso para auxiliar sua maneira de olhar e aprender o mundo”, aponta Mariza de Fátima Pavan Stucchi, coordenadora pedagógica do Colégio Objetivo, de Americana. O maior desafio, diz ela, “é fazer com que esses jovens olhem para essa tecnologia da forma adequada”.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Mariza de Fátima Pavan Stucchi, coordenadora pedagógica do Colégio Objetivo, de Americana

Jaime Klava, diretor-geral do Colégio Politec, de Americana, defende que é papel da escola e também da família proporcionar ambientes favoráveis para a tomada de consciência, por parte da criança e do adolescente, sobre a importância dos estudos e do uso das ferramentas tecnológicas com parcimônia e sabedoria: “O ser humano aprende fazendo e pensando sobre o que faz. Celulares, tablets, acesso à internet… Tudo isso são coisas maravilhosas, desde que usadas da forma correta”, diz Klava.

Atualmente é comum crianças e adolescentes passarem muito tempo diante do celular e do computador gastando um tempo precioso com atividades que pouco acrescentam ao seu desenvolvimento. Esse hábito gera jovens descompromissados com a educação e que negligenciam os estudos.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Jaime Klava, diretor-geral do Colégio Politec, de Americana

Na opinião de Mariza, “esse é um problema crescente nos últimos anos, principalmente na última década”. “Hoje, é como se o celular fizesse parte do corpo deles. É uma necessidade, há uma ‘dependência’”, aponta a coordenadora, que reforça que o aluno precisa perceber que a tecnologia pode sim trazer riquezas para o conhecimento, mas que é preciso fazer um uso consciente dela. “O que nós buscamos trabalhar é a importância da valorização do aprendizado, da convivência com os colegas dentro e fora da escola, desenvolver esportes, etc., viver atividades que são pertinentes à faixa de idade dele”.

Diálogo em casa

Para Mariza de Fátima Pavan Stucchi, coordenadora pedagógica do Colégio Objetivo, a família tem papel importante no desenvolvimento educacional das crianças e adolescentes. “Buscamos criar essa consciência de que os jovens têm que ter tempo para todas as atividades, inclusive os estudos em casa.

Nas reuniões de pais, temos levado essa reflexão de que o diálogo é essencial e, além disso, de que a família precisa se policiar e orientar que há momentos para tudo”, explica a coordenadora.

Jaime Klava, diretor-geral do Colégio Politec afirma que a responsabilidade educacional deve ser dividida entre a família e a escola. “Não adianta o aluno vir para a escola e o pai não olhar o caderno ou sequer acompanhar as notas. A responsabilidade é uma parceria. Quando esse aluno não está na escola, as regras são determinadas pela família no momento do estudo individual e da resolução de exercícios, trabalhos e resumos”, completa.

Jaime defende ainda que a falta de interesse de muitos jovens pela escola extrapola as questões tecnológicas. “O aluno que não leva muito a sério o estudo, ele se interessa só em passar de ano? Às vezes, ele não gosta de estudar porque ele está defasado. Se existem lacunas, elas podem ser supridas. Para isso, o jovem tem que ter equilíbrio entre as atividades de sua vida e estabelecer critérios de estudo”.

Além do suporte familiar é preciso envolver os alunos no planejamento das metas a serem alcançadas. Leiza Oliveira, CEO da rede educacional Minds Idiomas, destaca que a “forma de ensino receptiva em que um professor fala e os demais ouvintes apenas concordam já foi comprovada ser ineficaz, pois gera apenas memorização e não absorção na prática e conhecimento a longo prazo”. Segundo Leiza, quando os objetivos são alinhados com os estudantes fica mais fácil promover um ensino mais ativo, proativo e prático.

“Assim, antes de estabelecer o conteúdo programático, ouça os estudantes, entenda o que os motiva, e adapte o que será ensinado em uma forma lúdica e ao encontro da realidade na sua sala de aula. Com essas ações, esperamos colher no futuro profissionais mais capacitados, cidadãos mais conscientes e principalmente adultos mais felizes”, finaliza.

Atividades práticas

A falta de interesse pelos estudos em detrimento de um maior tempo em frente às telas dos celulares pode parecer um problema enfrentado apenas pelos colégios responsáveis pelo ensino Fundamental e Médio. No entanto, a dificuldade se repete – até com certo agravamento – nas instituições de ensino superior.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Eryvelton Baldin, coordenador-geral de EAD (ensino a distância) na FAM

“É um problema que a gente encontra em todos os níveis, Fundamental, Médio e também no superior”, garante Eryvelton Baldin, coordenador-geral de EAD (ensino a distância) na FAM (Faculdade de Americana).

“As faculdades estão recebendo muitos jovens que nasceram nos anos 2000 e que veem a internet e o celular como algo comum no dia a dia”. Segundo ele, os professores universitários também sentem na pele os desafios de “tirar” o aluno do celular e trazer sua atenção para dentro da sala de aula.

“É preciso focar nas chamadas metodologias ativas, que são atividades práticas, situações em que o pessoal coloca a ‘mão na massa’, experimentando ações que ele não teria fora daquele espaço de educação”. Mesmo assim, ainda segundo Baldin, a tecnologia não precisa ser tratada como uma vilã da educação. “Já existem ferramentas para transformar o celular em algo a ser utilizado a favor do professor e da educação, deixando a aula mais dinâmica”.

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