Doença
O que é a insuficiência istmo cervical, que causa abortos espontâneos
Moradora de Americana contou que sofreu quatros abortos espontâneos até descobrir que tinha a doença
Por Marina Zanaki
10 de fevereiro de 2020, às 10h46 • Última atualização em 10 de fevereiro de 2020, às 15h33
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“A gente começa a se sentir uma pessoa fraca, imagina o seu filho está lá, dentro do seu útero, batendo coração, tudo certinho, mas seu corpo está fazendo com que ele saia. Você começa a se sentir muito mal, é muito horrível a sensação”. O depoimento é da controladora de acesso Jaqueline Silva Neto, de 25 anos, que sofreu quatro abortos espontâneos desde 2014.
A moradora de Americana sofre de uma condição chamada insuficiência istmo cervical, uma das causas mais comuns de abortos espontâneos. De acordo com dados da Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, a doença está entre os principais fatores de prematuridade e é responsável por até 20% das perdas gestacionais ocorridas no segundo trimestre de gestação.
Essa doença consiste em uma incapacidade do útero em suportar o peso do feto conforme ele cresce. Com isso, ocorrem dilatações e a abertura do útero antes do tempo, provocando abortos.
A doutora Marilza Vieira Cunha Rudge, docente aposentada da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, explicou que essa doença é considerada uma causa local de abortos espontâneos, já que o problema está no sistema reprodutor feminino.
“As causas (da insuficiência istmo cervical) não estão claras, podem ser muitas. Um trauma no útero pode desencadear, a retirada de parte do colo por câncer, colonização, cauterização. Pode ser um mau desenvolvimento do colo, associado a uma infecção vaginal algumas vezes”, indicou a médica.
O primeiro aborto sofrido por Jaqueline ocorreu quando ela estava com 13 semanas de gestação, em 2014. Dois anos depois, Jaqueline engravidou novamente e sofreu o aborto com apenas oito semanas. Da mesma forma, ela fez a curetagem e foi liberada sem uma investigação.
A médica Marilza explicou que, rotineiramente, não são realizadas investigações até o terceiro aborto.
“A causa mais frequente de abortamento espontâneo é genética, de 25% a 30%”, afirmou a profissional.
Com Jaqueline, foi justamente no terceiro aborto, ocorrido em 2018 com 14 semanas, em que a insuficiência istmo cervical foi detectada.
“Os médicos começaram a investigar porque estava acontecendo isso. Na terceira gravidez, tive que fazer cerclagem no colo do útero”, disse a controladora.
Tratamento
A cerclagem mencionada pela paciente é o tratamento mais comum para a insuficiência istmo cervical. Marilza explicou que o procedimento consiste em um fio colocado ao redor do útero quando a mulher já está grávida, com o objetivo de fornecer o suporte necessário para suportar o peso da criança.
Mesmo com esse tratamento, Jaqueline sofreu um quarto aborto, no final do ano passado.
Um outro tratamento, chamado cerclagem definitiva, foi indicado à paciente. A médica Marilza Vieira Cunha Rudge explicou que o procedimento consiste na colocação de um fio inabsorvível ao redor do útero antes mesmo da gravidez. Nesse caso, há a indicação da realização de cesariana ao final da gestação.
Jaqueline Silva Neto conseguiu a realização do procedimento por meio do convênio médico Irmam e vai tentar novamente o sonho de ser mãe.
“Na verdade, eu já me considero mãe porque tenho quatro irmãos menores. Comecei a trabalhar com 14 anos para ajudar minha mãe em casa, sempre tive esse sentimento de ser mãe”, disse.
Causas comuns de aborto espontâneo
– alterações cromossômicas no feto
– infecções
– doenças como câncer, HIV, problemas na tireoide, diabetes, deficiência de progesterona
– contato com substâncias como álcool, drogas, cafeína em excesso e radiação
– incompatibilidade genética entre pai e mãe
– insuficiência istmo cervical
– má formação uterina
– paredes do útero coladas após realização de curetagem