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Turismo

Viajantes podem ter que apresentar imunização

Na Organização Mundial da Saúde (OMS), um grupo foi montado para definir padrões para um certificado digital de vacinação

Por Agência Estado

11 de abril de 2021, às 10h04

A ideia de um passaporte de vacina e sua eficácia para restabelecer as viagens tem hoje alguns entraves - Foto: Markus Winkler - Pixabay

A exigência de vacinação contra a covid-19 vem sendo cogitada mundo afora por destinos e companhias de cruzeiros. Um passe de viagem da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) começa a ser testado pela Singapore Airlines. Na Organização Mundial da Saúde (OMS), um grupo foi montado para definir padrões para um certificado digital de vacinação. A criação de um passaporte de vacina, então, parece ser o caminho natural nas viagens internacionais. Mas, na opinião de especialistas em turismo e saúde do viajante consultados pelo Estadão, é cedo para se pensar na medida como obrigatoriedade global.

A ideia de um passaporte de vacina e sua eficácia para restabelecer as viagens tem hoje alguns entraves: questões éticas sobre privilegiar quem foi vacinado, levantadas pela própria OMS, quando a maior parte do mundo aguarda a imunização, processo bem atrasado no Brasil; a privacidade dos dados dos viajantes; e até aspectos científicos, pois não está claro por quanto tempo as diversas vacinas contra a covid protegem a pessoa imunizada e quem está ao redor de pegar o coronavírus.

“A intenção é permitir que as pessoas possam voltar a voar. No app, os passageiros poderão saber se o País tal exige PCR ou antígeno”, explica Filipe dos Reis, diretor de Aeroportos, Passageiros, Cargas e Segurança da Iata nas Américas. Muitos governos estão implementando, com o apoio da associação, esquemas de teste para facilitar as viagens – exigem que sejam realizados de 48 a 72 horas antes do embarque.

A Iata, que representa cerca de 290 empresas responsáveis por 82% do tráfego aéreo global, desenvolveu o Iata Travel Pass, aplicativo para os passageiros incluírem dados de saúde e agilizarem a entrada nos destinos.

Como o processo de vacinação está em diferentes estágios de um País para outro, Reis estima que os dados do aplicativo irão incluir teste e vacinação por um período superior a um ano. No entanto, o Iata Travel Pass poderia eliminar as exigências de períodos de isolamento na chegada aos destinos, explica o diretor da associação.

O médico Jessé Reis Alves, do Ambulatório de Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas, pondera que a solução depende de respostas por vir. “Acho difícil que, de uma maneira muito rápida, a vacinação elimine a necessidade de quarentena. Exatamente porque a gente não sabe qual é a efetividade de cada vacina impedir uma infecção. Elas podem ser efetivas no que diz respeito ao não adoecimento, mas o indivíduo pode ser um carregador do vírus”, explica o infectologista.

Embora existam ainda muitas incertezas, Alves imagina que a imunização será exigida no futuro. “Não sei como vão organizar isso porque a gente vai ter muitas vacinas surgindo, mas acredito que ela vai fazer parte do nosso cartãozinho amarelo ou algo mais tecnológico”, referindo-se ao documento que comprova a imunização contra a febre amarela.

Comprovantes
A União Europeia discute a possibilidade de criar o Digital Green Pass, passaporte de vacina que facilitaria o trânsito entre países por quem recebeu a imunização. A China já tem certificado digital com dados de exame e vacina contra a covid, assim como Israel lançou o Green Pass para os vacinados.

A comprovação de teste ou vacina vem sendo cogitada no mundo como requisito não só em viagens. O Digital Health Pass, da IBM, seria usado para as pessoas entrarem em lugares como escritórios, universidades, estádios e aviões. Outra iniciativa é o CommonPass, proposto pela fundação Commons Project com o Fórum Econômico Mundial.

Segundo o diretor de Segurança da Iata nas Américas, a associação trabalha com órgãos das Nações Unidas para até maio definir uma padronização para a certificação eletrônica nos países. “Isso é a base para a construção das próximas regras. O passageiro vai se vacinar e recebe do governo um certificado. Isso fica armazenado no celular. Toda vez em que for solicitado, pode compartilhar as informações com os dados pessoais”, diz Reis.

A Emirates deve começar a testar o Iata Travel Pass este mês para exames PCR antes do embarque. “Nossos clientes que viajam de Dubai poderão compartilhar seu status do teste de covid-19 com a companhia aérea antes de chegar ao aeroporto, por meio do app, que automaticamente preencherá os detalhes no sistema de check-in”, explica Stephane Perard, diretor geral da empresa no Brasil.

Viajantes de Dubai ou em conexão na cidade passam pela nova experiência tecnológica da Emirates, combinando reconhecimento facial e de íris. “O caminho biométrico integrado garante aos passageiros um processo de viagem perfeito, do check-in aos portões de embarque, melhorando o fluxo do cliente no aeroporto, com a redução de filas e verificações de documentos”, diz Perard Pesquisa da Iata em meio à crise da covid, publicada em setembro de 2020, mostra 70% dos viajantes preocupados com contaminação ao entregar passaporte, telefone ou cartão de embarque e 85% mais seguros em processos sem contato físico.

Tecnologia é a aposta das companhias para resgatar a confiança dos passageiros. Antes da covid, a frota da Air Canada contava com filtro HEPA, que elimina quase 100% de bactérias e vírus, renovando o ar no avião a cada três minutos. Desde o início da pandemia, a empresa vem ampliando o programa CleanCare+.

Despachar a bagagem sem contato físico já é possível em Toronto e Montreal. Depois do check-in online, o viajante armazena o cartão de embarque no celular. No terminal, imprime a etiqueta e põe a mala na esteira. “A máquina de entrega automática de bagagem elimina a necessidade de toque nos dispositivos”, diz o diretor da companhia no Brasil, Giancarlo Takegawa. “Os protocolos de biossegurança vieram para ficar. A tendência é que sejam aprimorados com base na ciência.”

Complemento
Em outros segmentos do turismo, empresas já anunciaram que vão exigir a vacina contra a covid, caso da Crystal Cruises e da Victory Cruise Lines, ambas de navegação. “É cedo para avaliar se a vacinação será obrigatória nos cruzeiros. Estamos acompanhando o que vem sendo feito no mundo. Isso nos dará uma boa perspectiva sobre as melhores conduções no Brasil”, diz Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros (Clia Brasil).

Ele e Roberto Haro Nedelciu, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), veem a imunização mais como complemento aos protocolos do setor. “A gente vai mudar os hábitos como ocorreu após o 11 de Setembro”, diz Nedelciu. “Alguns países, como a Croácia e a Grécia, começaram a falar em exigir a vacina; cruzeiros, também. Mas a gente não deve abrir mão da segurança sanitária”.

Para Magda Nassar, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), é urgente que o viajante seja responsável. “A indústria do turismo mundialmente se preparou com protocolos. A gente tem de aprender a seguir e, infelizmente, tem uma parcela grande que não segue”, diz. “Hoje, com PCR e protocolos, a gente já tem um caminho. A vacina não é o único, mas obviamente é o ideal. A gente precisa dela para voltar a viver na sua plenitude, mas não é uma solução atrelada só a viagens”.

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