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Turismo

Seis perguntas e respostas sobre o turismo da vacina

Assim como o passaporte de vacina, esse tipo de turismo é criticado por questões éticas, já que privilegia quem tem dinheiro

Por Nathalia Molina / Agência Estado

10 de junho de 2021, às 07h13

Nova York, Orlando e Miami sempre estiveram entre os destinos preferidos dos brasileiros. Ganharam mais um atrativo: a vacina contra a covid-19. Após a divulgação da notícia, o buscador Kayak registrou alta de até 719% na procura por voos para essas cidades em maio, em relação a abril. O turismo da vacina já deu origem até a produtos criados para isso.

1. Em quais destinos o turismo da vacina vem sendo mais comum?

Brasileiros têm ido aos Estados Unidos. Hotéis de luxo como os da rede Four Seasons, em Nova York, já percebem aumento de hóspedes do Brasil desde a divulgação do turismo da vacina, especialmente após a declaração do prefeito da cidade, Bill de Blasio, de que ofereceria o imunizante em pontos turísticos.

Na Romênia, quem vai ao Castelo do Drácula toma vacina e visita a atração de graça – Foto: Julia Volk / Pexels

Outros destinos, como Cuba com a sua Soberana, também são lembrados quando o assunto é turismo da vacina, mas a ilha divulgou que doaria doses para países sem recursos. “A Rússia está vacinando com a Sputnik sem burocracia, mas tem de ficar lá pelo menos três semanas”, explica Roberto Haro Nedelciu, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa). Na Romênia, quem vai ao Castelo do Drácula toma vacina e visita a atração de graça.

“Tem as Maldivas. Estive lá e vão vacinar depois que atingirem 70% da população vacinada. Eles querem usar a vacinação como um marketing para atrair turismo, que é 90% da economia local. Vão usar o plano 3V: visit, vaccine e vacation (visita, vacina e férias)”, diz.

2. Quais países vêm sendo destino de quarentena antes dos Estados Unidos?

Os brasileiros têm de permanecer 14 dias em outro País fora da lista americana de bloqueio sanitário, antes de ir para os Estados Unidos. “O pessoal fica 15 dias nesses destinos e depois vai para Miami ou Nova York porque são os lugares onde eles não estão pedindo comprovação de residência”, afirma o presidente da Braztoa. Segundo ele, o México é o País mais procurado por brasileiros, mas outros também aparecem nos roteiros, caso de Panamá, República Dominicana, Costa Rica e Anguilla. Resorts na mexicana Cancún, como os da rede Palladium, estão nos pacotes da BWT.

De acordo com Simone Mariote, vice-presidente para a América Latina da Preferred Hotels, selo global de hotelaria de luxo, a notícia de imunização para viajantes aqueceu as reservas. “A gente tem visto aumentar o número de brasileiros que viajam para o México para fazer quarentena. Muito acabam trocando de hotel para curtir dois ou três diferentes”, conta.

3. E se o viajante testar positivo ao longo da roteiro?

Gabriel Cordeiro Strobel, gerente-geral da BWT Operadora, ressalta que o passageiro tem de estar ciente da possibilidade de estender a viagem, caso teste positivo para covid-19 em alguma das etapas. “No México, o viajante faz um exame antígeno ou PCR porque os Estados Unidos aceitam os dois. Se a pessoa contraiu a doença lá, tem de ter tempo disponível para seguir de quarentena”, diz. “Depois, o passageiro faz o PCR dois dias antes da voltar para o Brasil. Caso dê positivo, precisa prorrogar a viagem”.

4. Quais outras despesas o viajante deve considerar?

Além do valor do pacote, é preciso levar em conta alimentação, transporte e exames. Se a pessoa testar positivo para covid-19 no exterior, o custo sobe com diárias extras de hotel, refeições e diferenças tarifárias nos trechos aéreos (caso a passagem esteja mais cara na nova data em relação ao voo inicial).

Para esses casos, resorts do México criaram uma oferta para garantir a hospedagem sem custo adicional. “A gente tem hotéis que oferecem ao cliente a garantia de que, se o PCR der positivo, ele tem 14 noites gratuitas, numa ala separada, com todo o conforto e comida incluída”, diz Simone, da Preferred.

5. Em Nova York e na Flórida, onde os viajantes estão sendo vacinados?

Nedelciu, da Braztoa, afirma que passageiros brasileiros já foram imunizados em Nova York em lugares como Empire State Building, Times Square, Brooklyn e Central Park. “As lojas da Publix e as farmácias da CVS também estão vacinando”, diz. Segundo Strobel,  o pacote da operadora tem Miami como destino, onde um funcionário recebe o viajante no aeroporto. “Ele leva o passageiro até a farmácia para tomar a vacina. O agendamento é feito pelo site”.

De acordo com Simone, os empreendimentos de Miami estão fazendo campanhas voltadas para os viajantes latinos. “Eu estive na semana passada num hotel com shutle para o Aventura Mall, onde os estrangeiros podem tomar vacina. Eles estão realmente promovendo o turismo da vacina, e o resultado tem sido bem promissor. A gente está com bastante solicitação para Miami e Nova York também. É uma tendência e, se a fronteira americana finalmente abrir no meio do ano, a gente vai ter um número considerável de brasileiros viajando para se vacinar”, afirma.

6. O viajante com certeza consegue ser imunizado?

Nedelciu e Strobel ressaltam que não há garantia. “Busquei informação sobre a vacina em Nova York, mas não consegui identificar como está sendo esse procedimento”, diz Jessé Reis Alves, médico do Ambulatório de Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas. “Lá, é a vacina da Janssen, que tem efetividade atribuída não tão alta quanto a da Pfizer e da Moderna, mas tem a vantagem de ser de dose única. Entretanto, não achei nada que informasse definitivamente se esse indivíduo vai ser vacinado.”

7. Por que há críticas ao turismo de vacina?

Assim como o passaporte de vacina (possível exigência de comprovação de imunização para entrar em alguns países, como os da União Europeia), o turismo da vacina recebe críticas pela questão ética. “É complexo, é um tema que precisa ter uma abordagem múltipla. Eu sou bastante favorável à publicação da OMS (Organização Mundial da Saúde), que faz uma análise ética e científica”, afirma Alves. “Aquelas pessoas que têm dinheiro conseguem se vacinar antes da própria população do local. Você gera algum tipo de privilégio num momento de pandemia, em que isso realmente não poderia ocorrer”, diz o infectologista.

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