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Turismo

Dicas para quem busca contato com a natureza nas viagens

No Brasil, a crise no turismo resultante da pandemia pode ser uma oportunidade para a promoção de viagens mais sustentáveis

Por Agência Estado

18 de setembro de 2020, às 16h02

Inovação e sustentabilidade nas viagens são o novo normal. Ou deveriam ser, segundo a Organização Mundial do Turismo. Ao lado das medidas sanitárias e econômicas já tomadas pelas empresas, a entidade recomenda a transição para um turismo mais eficiente, com baixa emissão de carbono, e a construção de um setor sustentável, com experiências de qualidade oferecidas ao viajante e dados para planejamento.

Segundo dizem especialistas, há um interesse de viajantes por destinos na natureza e perto de casa, onde possam ir de carro.

“As pessoas estão há muito tempo longe de ambientes naturais. O ecoturismo promove segurança, impacto positivo e bem estar a todos”, afirma Gabrielle Monteiro, gerente de Marketing da Pisa Trekking, especializada em roteiros de aventura.

Mais distantes estão sendo procurados, como a Península do Maraú, na Bahia – Foto: Divulgação

Trilhas e escapadas devem ser o primeiro tipo de viagem a voltar nesse segmento. “Essa é uma tendência muito forte. É um cenário que já conseguimos enxergar, no qual temos investido nossos esforços”, diz Gabrielle.

Os pacotes para lugares perto de São Paulo vão da adrenalina de Brotas, com passeios radicais, à calmaria do Vale do Ribeira, hospedado no Paraíso EcoLodge.

Sonia Werblowsky, diretora da Freeway Viagens, já lista destinos distantes entre os mais procurados: Monte Roraima, Chapada das Mesas (Maranhão), Alter do Chão (Pará), Fernando de Noronha (Pernambuco), Península do Maraú (Bahia) e Bonito (Mato Grosso do Sul). “Viagens aéreas pelo Brasil, para destinos de natureza e com os devidos protocolos de biossegurança, têm movido as pessoas”, diz Sonia.

Preservação ambiental em Bonito
Bonito já era referência nacional em conciliar viagens e cuidado com a natureza, bem antes da pandemia. “O limite de visitação é extremamente importante para controle e preservação do meio ambiente”, diz Nelson Izidoro Chemin Junior, administrador do Aquário Natural, que recebia em torno de 1,5 mil pessoas por mês para curtir flutuação, tirolesa e trilha, entre outras atividades.

Proprietário dos espaços Recanto Ecológico Rio da Prata, Lagoa Misteriosa e Estância Mimosa Ecoturismo, o Grupo Rio da Prata também oferece flutuação e trilhas, além de passeios a cavalo e visitas a cachoeiras.

“Temos o compromisso de praticar o ecoturismo, a agropecuária e ações socioambientais visando a conservação e proteção dos recursos naturais. Realizamos ações ambientais como plantio em fazendas da região e doação de mudas para ONGs”, afirma Luiza Coelho, diretora de sustentabilidade do grupo.

No início do ano, a empresa adquiriu um barco movido a energia solar, que permite realizar passeios com emissão zero de poluentes na água e no ar, e inaugurou uma fábrica de biofertilizantes em agosto.

O Grupo Rio da Prata também oferece flutuação e trilhas, além de passeios a cavalo e visitas a cachoeiras – Foto: Márcio Cabral / riodaprata

Em Bonito, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Mato Grosso do Sul (Sebrae/MS) desenvolve um trabalho para a retomada das atividades locais. “A percepção relacionada à sustentabilidade já era bem madura entre a maior parte dos empresários. O Sebrae trouxe para o destino a possibilidade e a viabilidade de realizar com mais segurança o retorno das atividades turísticas, atendendo a preocupação relacionada à saúde e à segurança dos trabalhadores, dos clientes, da comunidade local”, explica Matheus Oliveira, gerente da Regional Oeste do Sebrae/MS.

O Sebrae/DF também vem capacitando donos de negócios entre 30 e 60 quilômetros de Brasília. “A gente está criando experiências alternativas ao que o brasiliense ia buscar na África do Sul, na Argentina ou na Espanha, adaptando a oferta que já existe. O entorno de Brasília é riquíssimo do ponto de vista natural”, diz Jaqueline Gil, fundadora da Amplia Mundo, consultoria parceira do projeto.

No Airbnb, destinos até 300 quilômetros de cidades maiores estão entre os mais buscados para aluguel. A plataforma registrou aumento em maio na procura por casas de campo ou de praia e chácaras em lugares como Juqueí (no litoral norte paulista) e Domingos Martins (na serra capixaba).

Parque Estadual das Águas Quentes
Sócio da Natureza Urbana, escritório de arquitetura, urbanismo e planejamento estratégico, Pedro Lira fez estudos técnicos para mudar a cara do Parque Estadual das Águas Quentes, no Mato Grosso, com o aproveitamento dos recursos naturais e termais.

Parque Estadual das Águas Quentes – Foto: Divulgação

“A ideia é fazer um novo conceito para o hotel que tem lá, e não ser um resort a mais. O projeto inclui outros tipos de acomodação, como cabanas, chalés integrados à natureza, trilhas para explorar cachoeiras e a valorização das águas quentes, que são um fator único do lugar ” Uma concessão do governo do Estado prevê ceder o parque para uma empresa privada fazer as obras necessárias e cuidar da operação por 30 anos.

Documenta Pantanal
Pensando em dar visibilidade ao bioma e em promover sua preservação, foi criada há pouco mais de um ano a Documenta Pantanal, com a participação de empresários de turismo, ambientalistas e profissionais de artes visuais.

A iniciativa registra e divulga a cultura e a natureza da região, por meio de exposições fotográficas, publicação de livros e produção de filmes, entre outras ações. “O turismo é uma grande e eficaz saída para aquela região. E lá tem gente especializada, muita pousada boa”, afirma Mônica Guimarães, diretora executiva da Documenta Pantanal.

Documenta Pantanal – Foto: Documenta Pantanal

As queimadas do norte do Pantanal não haviam migrado para a parte sul, onde fica o Refúgio Ecológico Caiman, em Miranda, no Mato Grosso do Sul. “A seca neste ano está pior”, diz Roberto Klabin, proprietário do hotel, lamentando a reviravolta sofrida pelo bioma: “O Pantanal até a pandemia estava caminhando para se tornar esse destino de observação de fauna. É a nossa planície africana, inundável.” Dentro do hotel, funcionam projetos como Onçafari e Arara-Azul, de conservação e contemplação dos animais locais.

Responsabilidade social e experiências genuínas
Entre os integrantes da Roteiros de Charme, iniciativas de suporte à população no entorno são comuns. Por exemplo, o Anavilhanas Jungle Lodge, na Amazônia, ajuda na melhoria da educação de populações ribeirinhas.

O hotel colaborou com a instalação de fossa ecológica, de sistema de energia solar e de uma biblioteca na escola local. Já o Ronco do Bugio Pouso e Gastronomia usa ingredientes de produtores locais e emprega moradores de Piedade, cidade no interior paulista onde o empreendimento se localiza.

Anavilhanas Jungle Lodge – Foto: Divulgação

Para Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Serviço Social do Comércio no Estado de São Paulo (Sesc-SP), o turismo depois da pandemia só poderá ser encarado pelo seu viés social. “As comunidades que recebem os turistas podem fazer desse encontro uma oportunidade de fortalecerem suas identidades e compartilharem suas visões de mundo”, afirma.

O Sesc-SP promove a prática do turismo social, conceito implantado pela instituição no Brasil há 70 anos, com a organização de viagens para destinos pouco explorados pelo mercado convencional. “São roteiros riquíssimos do ponto de vista de nossa formação histórico-social, como a região das Missões Jesuíticas, no Rio Grande do Sul, ou temáticos, como a excursão Caminhos Drummondianos, que apresenta a cidade mineira de Itabira e sua relação com o poeta Carlos Drummond de Andrade “

Viagens de um dia também estão entre as organizadas pelo Sesc por todo o Estado de São Paulo. “Realizamos esses passeios há mais de 20 anos, focando na característica que será comum no pós-pandemia: a valorização do local, do regional”, afirma.

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