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Revista Pet

Posse responsável: em boa companhia

Antes de levar um animal para casa, é importante entender que o gesto exige responsabilidade e que a posse responsável é um ato de amor

Por Isabella Holouka

07 de julho de 2020, às 07h43 • Última atualização em 07 de julho de 2020, às 12h59

A cena já virou clichê: passando por uma feira de adoções, bate a vontade de ter um bichinho, surpreender as crianças, presentear a família com a chegada de um ente especial. Afinal, eles são encantadores, principalmente quando filhotes, e têm tudo para se tornarem grandes companheiros.

Infelizmente, nem sempre o impulso para adoção ou compra de um animal se mostra uma boa ideia. Muitas vezes, ao ceder à emoção momentânea, as pessoas acabam colocando os bichinhos em uma situação arriscada.

Legislação brasileira protege os animais contra maus-tratos – Foto: Adobe Stock

Para a médica veterinária Aneli Marques, responsável pelo CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de Americana, a adoção por impulso é uma realidade problemática, já que alguns animais podem viver até 20 anos, como é o caso dos cachorros.

“A adoção é um ato de amor, mas que precisa ser feito com responsabilidade. Se não, o animal acaba sofrendo. Um animal que é adotado e depois devolvido pode ter traumas”, explica Aneli.

A autônoma Natália era recém-casada quando se encantou pelo cachorrinho Doce ao conhecer a AAANO e o levou para casa – Foto: Divulgação

“Por isso é muito importante o processo de adoção, a pessoa precisa entender as responsabilidades de ter um animal. Seja ele adotado ou comprado”, defende Larissa Frias, diretora social da AAANO (Associação Amigos dos Animais de Nova Odessa).

O resultado de uma adoção irresponsável é doloroso para muitos animaizinhos, que acabam abandonados, mal cuidados e em algumas situações chegam a sofrer maus-tratos – uma face obscura do relacionamento entre as pessoas e seus animais de estimação, que pode ser potencializada com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

“Abandonam porque o filhote cresceu, abandonam porque não querem mais cuidar, não querem mais as responsabilidades. Abandonam porque ficou velho ou porque ficou doente”, lembra Larissa. “E as pessoas não denunciam, o que facilita o abandono”.

Ela acredita que o abandono animal é um problema cultural, que ainda hoje é aceito pela sociedade, o que facilita este tipo de conduta.

“Muitas pessoas ainda aceitam o abandono como uma coisa comum, e não denunciam. Elas acham que o cachorro ou gato vai conseguir se virar na rua, e nem sempre isso acontece. Por isso, é importante denunciar”.

Para denunciar uma situação de maus-tratos ou abandono animal, o cidadão deve entrar em contato com o setor de zoonoses do município. É importante ter em mãos o endereço da ocorrência, além de fotos ou vídeos, para embasar a denúncia.

Outra possibilidade é a denúncia online, e até anônima, pelo site do Depa (Delegacia Eletrônica de Proteção Animal).

A legislação brasileira protege os animais contra maus-tratos e estabelece detenção de três meses a um ano e multa para quem abusar, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, sejam eles nativos ou exóticos.

Contudo, a diretora social da AAANO opina que o enquadramento na lei é raro de se ver: “Em cinco anos na causa animal, vi um único caso em que foi gerada multa, que foi recentemente”. De acordo com ela, entretanto, o cenário vem mudando em favor dos bichinhos.

Para a médica veterinária do CCZ de Americana, uma grande dificuldade em responsabilizar quem pratica maus-tratos ou abandona animais é a falta de identificação. Ela é possível com a colocação de microchip, que insere os dados do animal em sistemas eletrônicos e é obrigatório em alguns municípios, como Americana.

“Nós não temos uma identificação animal estadual, cada município tem o seu. Então, se pegamos um cachorro de Limeira, teremos mais dificuldade para tentar localizar o proprietário do animal”, explica Aneli.

A responsabilidade ao adotar ou comprar um animal é a mesma. Entretanto, Larissa destaca a importância da adoção.

“Quando a gente adota, estamos dando uma nova chance a um animal de rua, de ONG ou de abrigo. Uma chance de eles terem uma família, um lar, amor”.

Após ser espancado, perder um olho e ficar 20 dias internado, o poodle John encontrou a chance de ser feliz ao lado da estudante Larissa – Foto: Divulgação.JPG

Bons exemplos: Uma segunda chance foi dada ao John, poodle que hoje é o mascote da estudante Larissa Portes, moradora de Nova Odessa, de 23 anos. Ele foi espancado, perdeu um olho e ficou 20 dias internado, mas há cinco anos foi adotado pela Larissa e sua mãe. Apesar de ser bem cuidado agora, os maus tratos deixaram marcas.

“Ele é bem apegado com a gente, quer colo toda hora, parece um cachorro inseguro. E eu acho que é fruto, sim, dessa maldade que ele sofreu. É triste pensar no que ele passou”, comenta a estudante.

Outro bom exemplo de adoção é o da autônoma Natália Begmami Pissaia, de 24 anos. Há cerca de um ano, ela havia acabado de se casar e não pretendia adotar um animal, até conhecer a AAANO pelo Instagram e se encantar pelo Doce. Idoso, o cachorrinho estava há mais de 2 anos aguardando uma doação, o que derreteu o coração de Natália.

“Ele é um cachorro muito calmo, e você vê muita gratidão no olhar dele. Eu engravidei, então ele acompanhou toda a minha gravidez, a gente fez o nosso ensaio de gestante e ele está junto em todas as nossas fotos. Ele é um membro da nossa família mesmo, eu e o meu marido planejamos fazer uma tatuagem com a patinha dele”.

ANTES DE ADOTAR, PONDERAR

A médica veterinária Aneli Marques, do CCZ, pontua critérios importantes que devem ser levados em conta antes da compra ou adoção de um animal.

  • A LONGEVIDADE DO ANIMAL
    “Se você pensar que um cachorro pode viver até 20 anos, é uma decisão que vai surgir efeito por muito tempo”.
  • SE TODOS DA FAMÍLIA ESTÃO DE ACORDO
    “Não adianta só um querer, essa é a primeira coisa. Todos têm que estar de acordo com a adoção”.
  • CONDIÇÕES FINANCEIRAS
    “A família está com condições de ter um animal agora? Ele precisa de uma alimentação adequada, atendimento veterinário, vacinas, tudo isso tem que ser ponderado”.
  • ESPAÇO
    “O animal vai passar a fazer parte da família. Quando ela se mudar, por exemplo, tem que procurar um imóvel que comporte toda a família. Um cachorro precisa de espaço e isso tem que se levado em consideração”.
  • VIAGENS E OUTRAS SITUAÇÕES
    “Quando a família vai viajar precisa ter com quem deixar o animal. Todas as situações precisam ser pensadas antes de adotar o animal. O animal é parte da família e vai gerar responsabilidades, gastos, e isso tudo tem que ser bem pensado”.

ADAPTAÇÃO EM CASA
Se o caso for realmente de adotar ou comprar um mascote, a médica veterinária orienta com relação ao período de adaptação em casa, em que é preciso criar regras e estabelecer uma rotina.

“O cachorro está acostumado a viver em matilha. Há os animais dominantes e os dominados. Se na casa ele não for dominado pelos seus proprietários, ele tende a virar o dominante. Então podemos ter problemas de comportamento, de agressividade, em alguns casos é preciso um treinador”, explica.

“Animais adultos também aprendem, mas o filhote é como uma criança, que está em fase de absorção. É mais fácil de aprender”, pontua.

ONDE ADOTAR

  • Americana
    CCZ (Centro de Controle de Zoonoses)
    Avenida Heitor Siqueira, número 1520, na Praia Azul. Telefones (19) 3467-1187 ou 3467-2344.
  • Santa Bárbara
    CCZ (Centro de Controle de Zoonoses)
    Estrada da Cachoeira, número 1220, no bairro São Joaquim. O telefone para contato é o (19) 3454.4020.
  • Nova Odessa
    AAANO (Associação Amigos dos Animais de Nova Odessa)
    O contato deve ser feito pelo Facebook ou Instagram da ONG: @aaanovaodessa
  • Hortolândia
    DPBEA (Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal)
    Rua Atanásio Gigo, número 60, na Chácara Recreio 2.000. Telefone (19) 3245-1781.
  • Sumaré
    DEMBEAS (Departamento Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal)
    Rua Alcina Raposeiro Yanssen, número 651, no Parque Franceschini. Telefone (19) 3828-8440.

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