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Revista Pet

Mais unidos que nunca

Isolamento social tem contribuído para estreitar os laços de amor, amizade e companheirismo que unem humanos e seus pets

Por Isabella Holouka

07 de julho de 2020, às 07h44 • Última atualização em 07 de julho de 2020, às 09h12

Na casa da costureira de 26 anos, Helena Barbosa Dominici Pompermayer, de Americana, os cães se tornaram as únicas companhias do Antonio, de 5 anos, enquanto a família espera a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) passar.

Antonio seus amigos inseparáveis a buldogue francês Tiana e o vira-lata Mickey – Foto: Marcelo Rocha – O LIBERAL

“Eles sempre foram muito ligados e agora são a diversão dele, os amigos dele. Chega a ser engraçado, porque eles fogem quando cansam, mas eu escuto o Antonio fechando todas as portas da casa para ficar com os cachorros”, conta a mãe entre risos.

A relação do Antonio com os seus bichinhos expressa o que vem acontecendo na casa de muita gente, nesses tempos de pandemia. É que o isolamento social tem contribuído – e muito – para estreitar os laços de amor, amizade e companheirismo que unem humanos e seus pets. Essa relação, tão comum no dia a dia, nunca esteve tão forte.

A história das irmãs Polyana, Vitoria e Amanda Lavrador com as gatas Acácia e Miu Miu também expressa esse momento. Elas contam que estão mais apegadas às gatinhas, enquanto seguem rigorosamente a quarentena, estudando e trabalhando de casa.

As irmãs Polyana, Vitoria e Amanda com as gatas Acácia e Miu Miu relação fortalecida com a pandemia – Foto: Arquivo pessoal – Manuela Lavrador

“Eu sempre achei que ter um animal era uma coisa boa, mas nesse momento está nos fazendo ainda melhor. É uma distração, é algo que faz com que a gente fuja dos pensamentos sobre a pandemia, de estar isolada, de não ter contato com as pessoas”, opina Amanda, lash designer de 36 anos.

Vitória, advogada de 25 anos, conta que o apego às gatinhas é grande, desde a adoção em 2016. Agora, com a família convivendo em uma nova rotina, as irmãs estão com os bichinhos o tempo inteiro.

Para a psicóloga Gabriela Cordeiro, os animais de estimação são de fato importantes neste período de isolamento social, principalmente por amenizar a solidão.

“Sentimentos como ansiedade e medo tendem a aparecer e os animais de estimação podem ajudar a promover o bem-estar emocional. A rotina com os animais também pode ser útil, pois as pessoas tendem a se distrair e esquecer um pouco as notícias sobre a pandemia”, comenta ela

Uma rotina mais leve

A pandemia mudou a rotina de muita gente e isso tem permitido passar mais tempo com os bichos de estimação e até a prestar mais atenção no comportamento deles.

Jéssica tem uma porquinha da índia chamada Catarina e recentemente adotou uma gatinha, a Pitty – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

Foi o que aconteceu com a educadora infantil Jéssica Thais da Silva, de 28 anos, moradora de Hortolândia, que pode acompanhar o nascimento de uma amizade entre suas duas mascotes.

Ela tem uma porquinha da índia chamada Catarina e recentemente adotou uma gatinha, a Pitty. “Como eu ficava a maior parte do tempo fora, eu não deixava elas juntas. Roedor e felino, eu imaginava que não iriam combinar e que era melhor deixá-las separadas. Mas eu percebi que a Catarina faz companhia para a gatinha”, conta.

Como a gata passou a dormir com a porquinha da índia, a solução da Jéssica foi adicionar uma rede à gaiola e agora as mascotes descansam juntas, uma situação impensável antes da quarentena.

A psicóloga Ana Carolina Barufaldi explica que os bichinhos são aliados nos momentos difíceis pois, em períodos de incertezas, em que sentimos tão pouco controle sobre as situações, a responsabilidade por eles tende a ser reconfortante.

“Os animais garantem um senso de responsabilidade, de controle, e conseguimos nos sentir úteis por sermos responsáveis por eles. Essa sensação de controle ajuda muito no combate do estresse, da depressão. Ao manter o controle, a pessoa se acalma”, revela.

Além disso, o contato físico, com carinho e brincadeiras, enriquece e estreita os laços, agregando benefícios. “De acordo com estudos, as interações constantes com os animais podem auxiliar no controle de estresse, alterações cardíacas, casos de depressão, ansiedade, entre outras doenças mentais”, explica a psicóloga.

“Porém, os pets são coadjuvantes, eles contribuem para uma melhora, mas não dispensam os relacionamentos interpessoais e o auxílio de profissionais da saúde nesses quadros”, lembra ela.

Cuidado para não sobrecarregar o pet

Diante de um cenário em que os tutores passam muito mais tempo com seus animais e podem enfrentar estados de ansiedade, angústia, tristeza ou preocupação, a médica veterinária Salete Cândito, especialista em medicina preventiva e integrativa, afirma que é importante cuidar da saúde dos bichinhos para evitar problemas.

“Os cães e os gatos são como esponjinhas dentro da nossa casa, eles absorvem toda a energia do ambiente, da família, de equipamentos. Um exemplo é a energia eletromagnética de celular, de Wi-fi e a energia das emoções”, explica ela.

Por isso, é fundamental que os tutores ajudem os animais na reciclagem da energia negativa que eles absorvem. Isso é feito principalmente com um estilo de vida saudável, com boa alimentação, exercícios físicos, contato com a natureza, períodos ao sol e socialização com outros animais.

“Os felinos têm maior facilidade para isso, porque o próprio ronronar, o barulhinho que eles fazem, é uma reciclagem da energia que eles absorvem do ambiente. O cão tem uma tendência maior a adoecer se ele ficar em um ambiente em que não consegue reciclar a energia”, pontua

Amor e respeito aos animais

A relação entre ser humano e animais é um tema de estudos que vem crescendo nos últimos anos. A psicóloga Ana Carolina Barufaldi explica que as pesquisas apontam os animais de estimação como auxiliares na redução de problemas emocionais, devido às mudanças afetivas, sentimentais e comportamentais.

“As trocas entre homem e animal acontecem de forma natural, espontânea, sem julgamentos, de forma empática. São ricas em comportamentos não verbais e demonstrações afetivas, como um rabo abanando e uma lambida, que podem validar o quanto aquela pessoa é especial e importante, podendo contribuir para a autoestima”, pontua.

Não é exagero dizer que os animais são companheiros que podem mudar a nossa vida. Um exemplo disso está na história da Helena. Os pets não fizeram parte da sua família na infância, depois que ela se casou e teve um filho, entraram de vez na vida dela.

“Eu nunca tive cachorro, na minha família a gente não tinha bichos. Mas o meu marido sempre teve cachorros grandes, então quando a gente se casou ele quis. Eu fui relutante, mas comecei a pesquisar raças e decidimos comprar uma buldogue francês, a Tiana”, relembra. A decisão foi há cerca de 4 anos, quando Antonio, filho de Helena, tinha mais ou menos um ano de idade.

“A primeira reação do Antonio foi muito engraçada, ele ficou receoso, mas queria fazer carinho. Ficou com ciúmes, fingia que ela nem existia. Depois ele percebeu que ela era de verdade, ia morar em casa, e então começou o amor. Eles dormem na mesma cama, sempre foram grudados”, conta a costureira.

Pouco tempo depois veio Mickey, vira-lata adotado que também conquistou a família. Em seguida, as tartarugas Marina e Elton John, tigre d’água e cágado de barbicha, respectivamente, que foram encontradas na rua.

Antonio também é dono das tartarugas Marina e Elton John, encontradas na rua Marcelo Rocha – O LIBERAL.JPG – Foto: Marcelo Rocha – O LIBERAL

Hoje a Helena acredita que a convivência com os pets traz mais carinho para o dia a dia, além de possibilitar uma nova visão sobre os animais. “A gente beija, abraça, faz carinho, eles nunca estão de mal. Aqui em casa, nossos cachorros são nossos filhos. O Antonio tem uma relação com os bichos muito mais respeitosa do que a visão que eu tinha. Eu mudei muito, e ele já cresceu assim”.

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