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Revista Pets

Liga de heróis: doação de sangue animal mobiliza tutores e ONGs

A doação de sangue salva a vida de muitos cães e gatos todos os anos, mas só é possível graças a uma verdadeira rede de apoio

Por Marina Zanaki

25 de março de 2022, às 09h49 • Última atualização em 25 de março de 2022, às 09h50

Alguns animais não fazem ideia, mas são verdadeiros heróis. A doação de sangue salva a vida de muitos cães e gatos todos os anos, mas só é possível graças a uma verdadeira rede de apoio. Além dos bancos de sangue particulares, também ocorre uma mobilização paralela entre tutores e protetores de animais, que em poucas horas precisam encontrar o doador e garantir a transfusão.

Dayane com Buck e Koda: seus dois pets são doadores desde 2016 – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

A personal trainer Dayane Ribeiro Lopes Piccin, de 31 anos, não esconde o orgulho que sente de Buck, da raça Bernese, e de Koda, um golden retriever. Seus dois pets são doadores de sangue desde 2016, e já ajudaram a salvar a vida de muitos cachorros.

Ela contou que o Bernese é mais tranquilo para as doações, enquanto o golden é bastante agitado. Mas nada que um pouco de carinho não resolva – nenhum dos dois precisou de tranquilizante nas doações, e as carícias dos profissionais foram suficientes para deixá-los quietinhos durante o procedimento.

“Acho que eles nem sentem a picada. Não fico com dó e nem com medo, mas sim muito orgulhosa. Eles não têm noção do que estão fazendo, mas a gente tem”, contou a tutora.

Diferente das doações entre humanos, é possível conhecer o animalzinho que recebeu o sangue. “É muito gratificante, principalmente quando salva. Eu me envolvo nas histórias, teve um que recebeu sangue duas vezes e não sobreviveu, fiquei com a dona sofrendo junto”, lembra Dayane.

 Juliana e a sua rottweiler Tequila: animal foi salvo pela doação de sangue – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Mas no caso da autônoma Juliana Aparecida Moreira da Silva, de 38 anos, a doação de sangue de Buck salvou a vida de Tequila. A rottweiler foi resgatada de uma situação de maus-tratos, desenvolveu a doença do carrapato e, ao final do tratamento, apresentou cinomose. Por conta de seu quadro delicado, precisou de doação de sangue.

“Achamos que ela não fosse sobreviver, não estava reagindo, demorou dois dias para voltar. Mas no terceiro ela começou a reagir. Hoje está muito melhor. A veterinária disse que foi um milagre ela se curar da cinomose e não ter sequelas”, disse Juliana.

As duas tutoras já se conheciam, mas a boa ação aproximou-as ainda mais. “Se não fosse pela transfusão, ela não teria sobrevivido. Graças à Day e ao Buck minha cachorra está salva”, comemora Juliana.

Belinha, a poodle de Regina, precisou de uma transfusão com urgência, e graças ao sangue recebido dos cães Buck e Koda conseguiu sobreviver – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Outra vida salva pela doação de sangue dos cachorros de Dayane foi Belinha. A poodle teve a doença do carrapato e uma anemia forte. Por conta da idade, precisou de uma transfusão com urgência.

Tutora de Belinha, a revendedora Regina Rodrigues Prado, de 32, recorreu à amiga Juliana em desespero. A autônoma então pediu ajuda à Dayane, que prontamente aceitou a doação e apelou para Koda.

“A Belinha ficou super bem. Mas já está com a idade muito avançada, então as plaquetas voltaram a ficar baixas”, disse Regina.

A cachorra está bastante debilitada pela idade, com problemas no rim, fígado, visão e audição. Regina calcula que ela tenha 115 anos na idade de cachorros, mas não desistiu de lutar pela cachorrinha. “Tudo que eu puder fazer por ela estou fazendo”, disse a revendedora.

Renata, tutora de Max e Zé, dois gatinhos aptos a doarem sangue – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

A dona de casa Renata Malagutti Coneglian é tutora de Max e Zé, dois gatinhos que estão aptos a doar sangue. Por enquanto, apenas Max conseguiu praticar a boa ação, e precisou de um leve tranquilizante durante o procedimento.

“Tem que dar um sedativo porque ele é agitado, então depois fica meio sonolento. Mas em duas horas está normal de novo. Eu amo animais e tenho os dois à disposição. Para mim, é uma satisfação eles poderem ajudar”, disse Renata.

Corrida

Um elo importante dessa corrente são as ONGs (Organizações Não-Governamentais). Sempre à frente de situações de resgates, com frequência encontram animais debilitados e que precisam de doação. Mas elas também são procuradas por tutores em desespero. As protetoras começam então a trabalhar para encontrar quem possa doar, e sempre é uma corrida contra o tempo.

Presidente da ONG Anjos Peludos, Cristiane Ochuiuto Marques foi quem acionou Renata para doar sangue para um gatinho que precisava de ajuda. Ela contou que a transfusão para felinos é mais complicada pois demanda compatibilidade sanguínea.

Mas em algumas situações, principalmente à noite ou de madrugada, quando os laboratórios estão fechados, pode não haver tempo para fazer a testagem. A situação se complica se o veterinário alertar que o gatinho não vai aguentar até o dia seguinte. 

“Então morto por morto, vamos tentar salvar. No desespero, pegamos um gato que sabemos que está impecável, coletamos o sangue e rezamos para ser compatível”, disse Cristiane.

Mas o senso de urgência é comum mesmo entre cachorros quando o assunto é doação de sangue. Ela lembrou que existem laboratórios que realizam a coleta de sangue e vendem as bolsas, mas muitos tutores não conseguem arcar com esse custo. O jeito então é apelar para conhecidos e redes sociais.

Ao encontrar um potencial doador, tem início uma corrida contra o tempo. Isso porque é preciso fazer um hemograma para checar se o animal está com boas condições de saúde e só então realizar o procedimento.

“A ONG assume a responsabilidade. Pego o animal do tutor, levo em laboratório para fazer o exame de sangue, pego o resultado e aviso se podemos tirar a bolsa. Porque quando é coisa urgente, não tem tempo para ficar pensando, é a vida do animal que está em risco”, disse a protetora.

Especialista

A doação de sangue é essencial para vários tratamentos, como acidentes, atropelamentos, e doenças como a parvovirose, que provoca diarreia hemorrágica, a babesiose e a erliquiose, conhecidas como doença do carrapato. Em gatos, a principal doença que pode demandar uma transfusão é a leucemia. A explicação é do veterinário Ricardo Stormiolo Adegas, da Agropet Mineiro.

“O problema é que não temos muitos animais doadores. Normalmente, os pets precisam ser de porte grande ou gigante”, disse o veterinário. Ricardo listou algumas raças de cachorros que costumam render bons doadores de sangue, como boxer, pastor alemão, labrador, fila e dogue alemão.

O profissional lembrou que é preciso ter muito cuidado com o doador para garantir que o sangue esteja saudável. Eles devem estar sempre bem tratados, alimentados e com a vacinação em dia. Além do hemograma, ele recomenda também a realização de exames complementares caso seja identificada alguma alteração sanguínea no animal. 

Quem pode doar?

• Cachorros com mais de 25 quilos
• Gatos com peso superior a seis quilos
• Cachorros entre um e oito anos
• Gatos entre dois e cinco anos
• Animais que não passaram por procedimento recentemente, e que estejam com vacinação e vermifugação em dia
• Fêmeas não podem estar gestantes ou lactantes

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