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Bons companheiros

Convivência com pets proporciona envelhecimento com saúde física e mental

Animais têm um poder terapêutico e o contato com eles gera um envolvimento emocional saudável

Por Isabella Holouka

26 de abril de 2021, às 09h14 • Última atualização em 26 de abril de 2021, às 09h15

Carinhosos e dependentes, os animais de estimação têm poderes terapêuticos que auxiliam na qualidade de vida das pessoas na melhor idade.

Uma pesquisa sobre envelhecimento divulgada em 2019 pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, revelou que 90% dos idosos que têm cães, gatos e pássaros afirmam que o animal os ajuda a aproveitar a vida e se sentir amados.

Foram ouvidas 2 mil pessoas com idades entre 50 e 80 anos, sendo que 55% tinham um animal de estimação. Quase 80% dos tutores de cachorros garantiram que o animal os ajuda a serem fisicamente ativos – porque demandam cuidados diários e, muitas vezes, passeios, além de lhes dar um propósito na vida. Mais de 60% das pessoas que têm um bicho disseram que eles ajudam a lidar com problemas como depressão, isolamento social e solidão.

Na opinião da psicanalista clínica Elisabell Castro, que atende em Americana, os animais têm um poder terapêutico e o contato com eles gera um envolvimento emocional saudável e bastante benéfico aos idosos.

“Se a pessoa tem afinidade, ela não terá ansiedade por estar sozinha. Também vai diminuir possíveis pensamentos suicidas, porque terá preocupação com o serzinho que tem que cuidar, sem contar na dinâmica de carinho que o animal oferece, que está sempre esperando, sempre pronto, dando atenção”, explica ela.

A relação com os animais faz a diferença na rotina de pessoas ociosas, mas também tem efeito para quem ainda trabalha ou tem atividades externas. Basta lembrar da sensação de chegar em casa e ser recebido pelo pet, um acolhimento que também faz muito bem a quem sofre com doenças psicológicas, como síndromes de ansiedade, pânico ou depressão – independente da idade.

Além disso, a psicanalista cita a obrigação diária de fazer o animal comer, beber, dormir e fazer exercícios físicos, que pode ajudar quem tem sintomas depressivos, como dificuldade em sair da cama. “No que ela se levanta para dar comida para o cachorro, acaba comendo. Vai levar o animal para fazer as necessidades, e toma um ar, toma sol, isso para a cura da depressão é sensacional”. 

A aposentada Vivian com Sheron, uma de suas cachorras – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Tutora de uma poodle e uma border collie, a aposentada Vivian Martinelli, de 70 anos, é apaixonada por animais. Ela chegou a ser destaque no LIBERAL, há alguns anos, juntamente com sua mascote, uma basset paralítica, com quem costumava passear pelo bairro Vila Santa Catarina, em Americana, em um carrinho de bebê.

“Hoje são Sheron e Duda. Faz muito tempo que eu tenho cachorro. A vida inteira. Sempre gostei de cachorro, periquito, papagaio, tudo. Saio para passear com eles”, conta.

Neta de Vivian, a analista de 26 anos Thaís Martinelli destaca que os animais são muito importantes para a saúde física e mental da avó.

“Ajudam na questão do sedentarismo, ela também se preocupa em alimentá-los, ajudando na memória e mantendo-a ativa, mesmo em casa, sem tantas atividades a fazer. Além de serem ótimas companhias, são dóceis e é fácil notar o amor que ela tem, como se fossem membros da família”, afirma.

A aposentada Carmen tem na gata Claudete uma companheira e uma amiga – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

A aposentada Carmen Terezinha Vandemiatti, de 66 anos, tem na gata Claudete muito mais do que uma companheira. “Ela foi comprada para mim, é uma persa mestiça, e veio com os olhos verdes. Quando ela chegou eu achei que parecia a Claudete, minha amiga de infância. Então ficou o nome”, lembra a aposentada.

Elas moram sozinhas, há três anos, em Americana, e os cuidados com a felina ajudam Carmen a não se sentir só. “Sou eu e ela aqui dentro, nessa pandemia”, conta.

“Ela é uma companhia essencial, uma distração para mim. Enquanto eu cuido dela, não estou sozinha. Tenho muitos vídeos dela. Peço para esticar a patinha para a vovó, e ela faz que está entendendo. É uma gata muito tranquila, gosta de brincar de bolinha”, comenta.

Todas as manhãs, Carmen limpa os olhos da gata e a leva para passear na coleira ao redor do prédio onde mora. Elas pisam na grama e ouvem os passarinhos, para depois iniciarem o dia.

Nego, o companheiro de todas as horas da professora Conceição – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Uma rotina semelhante descreve a professora Conceição Aparecida Giacomini Soares, de 60 anos. Ela convive com pelo menos seis cachorros e seis gatos, em Americana, mas conta que a verdadeira identificação foi com o cãozinho Nego, adotado há menos de um ano.

“É um cachorro velhinho. Ele estava no abrigo há muito tempo, e ninguém o adotava. Quando eu soube da história dele eu não aguentei, chorei o dia inteiro, até que eu consegui entrar em contato”, conta entre risos.

Se não fosse por Nego, talvez a professora não fosse tão ativa. “Temos um jardim aqui próximo, e às 5h da manhã estamos lá correndo. Eu sei que precisamos. Se fosse só por mim, acho que eu nem iria, sinceramente. Eu não ia me importar muito. Mas como eu sei que ele precisa, então é um incentivo”, afirma Conceição.

A professora observa as vantagens de ter contato com os animais, em todas as fases da vida, mas sobretudo na velhice. “Uma coisa interessante de adotar um idosinho é que eu sei que ele é bem parecido comigo, tem as mesmas dores, limitações, e isso me ajuda. É a fase da vida da gente em que estamos praticamente nos despedindo do mundo. Pode ser que demore mais, pode ser que demore menos, e eles nos ajudam”, disserta.

Ela acredita que os animais nos auxiliam a observar o que vem pela frente e compreender que nossas ações têm objetivos. Eles não entendem completamente a nossa linguagem, mas sim nossas atitudes. Têm grande sensibilidade, e percebem quando as coisas não vão bem. São carinhosos, mas não rancorosos. São mais do que companheiros, pois precisam de disciplina e cuidados.

Para Conceição, os animais são um eterno lembrete de que “não estamos sozinhos aqui, estamos uns pelos outros”.

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