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Vida de garçom

Ganhando a vida e novas amizades na noite de Americana

Alegria, respeito e vontade de aprender são pontos fortes de garçons de Americana ouvidos pela reportagem

Por Isabella Holouka

22 de junho de 2021, às 08h31

Olhos atentos percorrem o salão, ouvidos sensíveis a qualquer chamado e a cordialidade que é característica da profissão. É impossível falar de gastronomia sem mencionar os garçons.

Mais que anotar e entregar pedidos, eles mantêm um contato direto com a clientela de bares e restaurantes, conquistando o respeito e a confiança a ponto de se relacionarem como amigos. Confira relatos de três garçons de Americana que contam suas experiências, ganhos pessoais, profissionais e planos para o futuro.

Acompanhando transformações através dos anos

Garçom em Americana há mais de 26 anos, o paranaense Moisés Pereira de Lima, de 54, conta ter presenciado, no salão do Pizza Company, localizado na Avenida Brasil, fragmentos da história mundial, brasileira e americanense.

“O mundo se transformou comigo aqui, e eu acompanhei essa transformação. Aqui eu vi o 11 de setembro, vi o Brasil ganhar duas Copas do Mundo e trocar de moeda, de cruzeiro para real. Vi um operário chegar à Presidência da República, e estou vivendo esse período terrível da pandemia [Covid-19]. São coisas que vão marcando a gente”, lembra com os olhos marejados, ressaltando os hábitos de leitura, informação e atualização.

Moisés, o “Mister Bean”, está na ativa há mais de 26 anos – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Conhecido como ‘Bean’ ou ‘Mister Bean’, em referência ao personagem de comédia britânico, o garçom comemora as amizades colecionadas ao longo dos anos de trabalho. São casais apresentados no restaurante e que hoje formam famílias, crianças cujo crescimento foi acompanhado por ele e já seguiram para a faculdade, entre outras histórias familiares, com novos episódios coletados no dia a dia.

“Temos que ter bastante jogo de cintura. Isso é muito marcante, porque apertos a gente passa, mas eu prefiro contar as experiências positivas”, diz emocionado. Questionado se as amizades também lhe rendem gorjetas, Moisés lembra que a remuneração extra não é prioridade, mas sim, manter a positividade.

“Tentamos passar uma tranquilidade, uma mensagem de paz, um incentivo, alegria, colocar um sorriso, mesmo que seja forçado, como um ator. Às vezes temos que fingir. A gente faz tudo pelo trabalho e pela profissão”, afirma ele, que confessa fazer uma piada vez ou outra, ”dependendo do humor do momento”, tal qual o Mister Bean original.

Muito mais do que apenas um sustento, com o trabalho na pizzaria o garçom afirma ter conquistado uma casa própria e preciosas experiências turísticas e culinárias, em diversas partes do mundo. “É gratificante”, conclui.

Diretamente do Ceará

Com apenas 23 anos, o cearense Manuel Erlândio de Araújo é garçom há 5, atualmente no Bluesteco Bar, localizado na Rua Washington Luís, região central de Americana. Ele chegou à cidade aos 18 anos, atraído pela possibilidade de integrar o quadro de funcionários em um restaurante, convencido por um vizinho que já ganhava a vida em uma
churrascaria americanense.

Com apenas 23 anos, o cearense Manuel veio para Americana atraído por um emprego em restaurante – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Natural de Acaraú, 230 quilômetros distantes de Fortaleza, ele planeja fazer a vida no Estado de São Paulo, conta sobre o desejo de melhorar na profissão e de voltar ao Ceará para visitar a família.

“Lá eu não tinha serviço, as coisas eram difíceis. Eu vim diretamente para Americana, por indicação de um amigo meu. Faz 5 anos que eu não volto, mas graças a Deus a família está bem. Temos uma relação próxima, falo com a minha mãe todos os dias, e às vezes eu mando um dinheirinho para eles. Não porque me pedem, eu quero ajudar mesmo”, conta o garçom, que já trabalhou em diferentes bares, restaurantes e lanchonetes de Americana.

“Eu pretendo continuar nessa profissão, quero melhorar. Sinto um aprendizado aqui no salão. Se eu errei alguma coisa em uma mesa, eu já resolvo. Dizem gostar do meu jeito, porque eu sigo as indicações dos clientes. É muito boa a profissão de garçom, top demais, a hora passa ligeira”, afirma.

Respeito pela profissão

A história de Marcelo Luis Ongaro, de 48 anos, no atendimento ao público começou na Sede Social do Rio Branco Esporte Clube, antigamente localizada na Rua Fernando de Camargo, na região central de Americana, em eventos sociais marcantes na história da cidade, como bailes Arara Vermelha e Honolulua.

Mais ou menos 5 anos depois, por indicação, ele começou na Cachaçaria Beba & Babe uma trajetória de mais de 12 anos, que lhe renderia prêmio, um casamento e conquistas pessoais, além de muitos amigos.

Marcelo, trajetória de 12 anos lhe rendeu um prêmio e um casamento – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

“Eu disse ao Odir [Demarchi, fundador e antigo proprietário do bar] ‘a única coisa que eu não sirvo é para ser garçom, eu tremo muito, tenho um problema hereditário’. Mas eu me acostumei e estou até hoje nesse bico”, conta Marcelo, que mantém outro emprego durante o dia, fazendo manutenção em uma empresa.

Participante em todas as edições do Roteiro de Buteco, evento que movimentava Americana em meados de 2010, ele chegou a levar o prêmio de Melhor Garçom para a cachaçaria, além de ter sido bem classificado em todas as outras edições em que participou.

“Eu frequento restaurantes de domingo, vou em churrascaria. O que eu digo é que a gente tem que tratar as pessoas como gostaria de ser tratado. Eu não sou de ficar dando risada, mas eu trato com educação e procuro fazer o meu serviço da melhor maneira possível”, afirma.

Ter paciência, cuidado e gostar da profissão são pré-requisitos essenciais, segundo ele, já que o garçom está na “linha de frente” e muitas vezes precisa “engolir alguns sapos” no relacionamento com o cliente. Por outro lado, o americanense aponta o contentamento em trabalhar em meio a tantos amigos que entendem e respeitam o trabalho de garçom.

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