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Saúde

Persistência e apoio na recuperação pós-infecção por Covid-19

Lidar com as sequelas da doença causada pelo coronavírus pode exigir fisioterapia, ajuda de um psicólogo e paciência para superação

Por Isabella Holouka

25 de abril de 2021, às 10h14

Mesmo pessoas que tiveram sintomas leves a moderados da Covid-19 apresentam queixas de fadiga, falta de ar e dores musculares. Entretanto, com calma, persistência e ajuda profissional, quando possível, exercícios de fisioterapia cardiorrespiratória auxiliam na retomada da capacidade física e da rotina.

“Conhecemos pessoas que faziam atividades físicas em um ritmo muito bom, tiveram a doença e hoje têm uma grande dificuldade para atividades rotineiras. Elas perdem a capacidade física, e isso está diretamente relacionado à gravidade do acometimento pela Covid-19”, observa a fisioterapeuta especialista em fisioterapia cardiorrespiratória Kelly Martins, professora no curso de fisioterapia da FAM (Faculdade de Americana).

O autônomo Claudival, de Americana, se recupera após ter 50% dos pulmões comprometidos – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

A faculdade oferece desde setembro do ano passado acompanhamento gratuito para reabilitação de sequelas da doença, com 20 pacientes ativos e lista de espera aberta. A mesma quantidade de pessoas já teve alta do serviço, que inicia com testes para avaliação da capacidade respiratória e física muscular global dos pacientes, visando um tratamento individualizado, de acordo com o comprometimento de cada um.

Além do programa de reabilitação com atendimento presencial, o curso de fisioterapia da FAM também elaborou uma cartilha que reúne orientações e exercícios, incluindo ainda informações sobre a doença, os sintomas e as formas de proteção. O material lista três passos para a reabilitação após a Covid-19, sendo o primeiro seguir as orientações médicas e cumprir rigorosamente o período solicitado de isolamento.

Em seguida, a recomendação é que o paciente retorne aos poucos a sua rotina habitual, sempre alerta aos sinais de cansaço e fraqueza, repousando quando necessário. Também é enfatizada a importância da alimentação balanceada e com horários definidos, da hidratação e do alongamento do corpo todos os dias.

O próximo passo é a prática de exercícios físicos, com o objetivo de promover uma retomada progressiva ou manter a capacidade física. As vantagens incluem aumento da capacidade respiratória, diminuição da falta de ar, melhora da força muscular de todo o corpo, do equilíbrio e na tolerância ao esforço, além de melhora na função cognitiva, controle do estresse, da ansiedade e da insônia.

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“Um exercício simples é fazer respirações profundas. Também trabalhamos com exercícios para o ganho de força na musculatura global, com pesinhos, caneleiras e movimentos comuns, como dobrar o cotovelo levantando peso, por exemplo. Exercícios de caminhada ou bicicleta ajudam muito na capacidade física e na redução da sensação de cansaço”, explica a especialista em fisioterapia cardiorrespiratória.

A recomendação é começar devagar, mas realizar de 30 a 50 minutos de atividade física moderada pelo menos cinco dias na semana, aumentando a intensidade gradativamente e respirando profundamente entre cada repetição do exercício. À medida em que se sente mais confiante, o paciente deve aumentar o número de séries dos exercícios sugeridos. Também pode caminhar ao redor de casa e evoluir nas tarefas do cotidiano, sempre atento aos sinais de cansaço.

As atividades devem ser feitas pelo menos uma hora após as refeições, e evitadas em caso de febre, dor de cabeça intensa e sensações como palpitações e coração acelerado. É recomendada a ingestão de água durante os exercícios. Uma escala de tolerância ajuda os pacientes a medirem o nível de cansaço e evolução.

Kelly ressalta a importância de se manter uma postura calma e persistente na reabilitação pós Covid-19. Além disso, a avaliação de um especialista permite o conhecimento das necessidades do paciente e a prescrição mais adequada de exercícios.

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“É importante que a pessoa se mantenha ativa, o que ajuda até na recuperação da imunidade, mas que faça tudo conforme a sua capacidade. Não é um trabalho que deve levar o indivíduo à exaustão”, afirma. Segundo ela, ultrapassar limites sem acompanhamento médico pode acarretar em prejuízos e a qualquer sintoma ou mal-estar é necessário procurar orientação especializada.

EXPERIÊNCIA
Infectado pelo novo coronavírus em setembro do ano passado, o autônomo Claudival Jorge, de 57 anos, morador de Americana, ficou internado por dois dias e conta que teve 50% do pulmão debilitado pela Covid-19.

“Não precisei de intubação, graças a Deus. Fiquei muitos dias ruim em casa, já sabia que era Covid. Fui para o hospital e descobrimos. Quando eu voltei para casa, me senti ainda pior, cansaço e falta de ar”, conta o paciente da reabilitação pós Covid-19 da FAM desde novembro de 2020.

“Eu não conseguia falar ao telefone. Não tinha fôlego, se eu ficasse falando muito, tinha que parar, engasgava e não conseguia. A fisioterapia está sendo muito boa para mim, senti uma melhora logo depois. Não conseguia ir na padaria buscar pão, andar dois quarteirões, e logo depois já comecei a fazer caminhada, e me sinto bem recuperado”, comemora ele, que acredita ter melhorado 80% sua capacidade física e respiratória com os exercícios diários, que também são praticados em casa.

O lado emocional: desesperança e valor à vida

Depois de mais ou menos um mês de fisioterapia cardiorrespiratória, Sandra Nogueira, moradora de Americana de 45 anos, já não sente tanta falta de ar. Cerca de 60 dias depois de estar curada da Covid-19, ela afirma ter muitas dores no corpo, mas a maior queixa é emocional.

Faculdade de Americana oferece apoio grátis na recuperação de pacientes que tiveram Covid – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Sandra conta ter entrado em estado de desespero quando foi informada que o marido, que tem pressão alta, seria intubado. Na família, além do casal, a filha de Sandra também contraiu o novo coronavírus, com sintomas leves. Os três estão em recuperação.

“Eu entrei em pânico e estou até hoje. Não podem me dizer que ‘fulano’ está com Covid que eu fico desesperada”, relatou ao LIBERAL a desempregada, que é acompanhada pelas equipes de fisioterapia e psicologia da FAM.

Coordenadora do curso de psicologia e responsável técnica pela Clínica-Escola da FAM, Aracele Tomiato conta que grande parte dos pacientes em recuperação pós-Covid-19 lidam com duas situações emocionais, à primeira vista opostas: a desesperança e a valorização da vida.

“A desesperança geralmente acontece quando o paciente fica muito tempo em coma, e demora para retomar as atividades do dia a dia pelo comprometimento físico. Muitas vezes essas pessoas eram hiperativas, tinham várias atividades profissionais, e se veem limitadas, o que é muito difícil”, relata.

“Outras pessoas, mesmo estando nesta condição limitada, se atentam à finitude, e é onde, muitas vezes, começam a valorizar coisas que não valorizavam no dia a dia, mais tempo para a família, para fazer o que gosta. Temos esses dois lados, e também a idade, pois quanto mais velha é a pessoa, mais difícil é estar retomando a vida e mais angustiante, por uma questão de finitude”, acrescenta a psicóloga, que ressalta a importância dos cuidados com a saúde mental para que o corpo responda melhor na recuperação física.

A Clínica-Escola da FAM tem capacidade para o atendimento psicológico semanal de cerca de 70 pessoas, e atualmente tem uma lista de espera com 80 nomes. Estudantes e professores realizam atendimentos individuais e presenciais, em grupo, com pais e filhos, e têm parceria com outras instituições. Também oferecem acolhimento imediato e encaminham pacientes para consultas psiquiátricas ou neurológicas quando preciso.

A equipe de psicólogos tem atendido pessoas que atravessam o luto, momento em que a ajuda psicológica pode ser fundamental para a elaboração do ocorrido, segundo Aracele.

“É um luto muito imediato, familiar e há um receio também de adoecer, uma angústia. O luto é um processo e pode demorar mais para algumas pessoas, menos para outras. Mas verificando que a sensação de tristeza e angústia não passa, é muito importante o acompanhamento. Muitas vezes a família inteira participa do luto, quando se perde mais de uma pessoa e pode ser feita uma terapia de família”, sugere.

A especialista destaca ainda a importância de que crianças e adolescentes, cujos casos de infecção pela Covid-19 são crescentes, recebam acolhimento após a recuperação e atendimento psicológico especializado enquanto vivem o luto após a perda de familiares para a doença.

Veja as principais orientações de uma cartilha preparada pelo curso de fisioterapia da FAM:

Cuidados: Não deixe de seguir todas as orientações dadas pelo médico, especialmente a necessidade de isolamento nos dias em que a infecção pelo vírus estiver ativa, algo que exige cumprimento rigoroso.

Rotina: Ao retomar atividades do cotidiano, tenha uma alimentação balançeada, não deixe de beber água e fique atento aos sinais do corpo, como cansaço e fraqueza. Repouse sempre que necessário.

Exercícios Físicos: Fazer exercícios após a infecção por Covid-19 pode ajudar na retomada da capacidade física do paciente, melhorando a respiração, o sistema circulatório, as funções cognitivas, o sono e o controle da ansiedade e do stress.

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