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Revista L Saúde

Para uma vida mais feliz em 2022

A chegada de um novo ano traz consigo a renovação da esperança; entenda o papel do pensamento positivo para uma vida mais leve e feliz em 2022

Por Marina Zanaki

31 de dezembro de 2021, às 17h26 • Última atualização em 31 de dezembro de 2021, às 17h27

Entenda o papel do pensamento positivo para uma vida mais leve e feliz em 2022 – Foto: Adobe Stock

Feliz 2022. Mais do que uma frase clichê que será dita à meia-noite de 31 de dezembro de 2021, esse é o desejo mais profundo de todos os brasileiros. Depois de dois anos marcados pelo isolamento social e mais de 600 mil vidas perdidas pela pandemia, as pessoas querem voltar a ser felizes.

O novo ciclo traz consigo a renovação da esperança de dias melhores. Mas o otimismo com a chegada de 2022 pode, na prática, ajudar a reencontrar a felicidade? A ciência diz que sim.

A psicóloga Vanessa Rodrigues, que ministra na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) uma disciplina inspirada na Ciência da Felicidade, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, explicou que a neurociência identificou padrões de comportamento otimista e pessimista.

As pessoas com uma visão pessimista acreditam que a razão dos problemas que enfrentam são elas mesmas, resultando em uma perspectiva fixa da realidade. Já quem é positivo enxerga que os motivos são externos e o conflito é temporário.

“Perceba a diferença de ótica, são dois tipos bem distintos de encarar a vida. Se você entende que seu problema é permanente, significa nas entrelinhas uma desesperança muito grande, nada do que você fizer vai mudar”, explicou a psicóloga.

Emoções positivas ativam partes importantes do lado esquerdo do cérebro, como o córtex pré-frontal esquerdo, uma área que diferencia os seres humanos dos outros animais, e o Núcleo Accumbens, conhecido como o “centro do prazer”.

Já emoções como medo e preocupação ativam o lado direito do cérebro e estimulam a liberação de hormônios como cortisol e noradrenalina. A exposição prolongada a esses hormônios é prejudicial à saúde, e as emoções positivas conseguem regulá-los a um nível adequado.

A explicação é do psiquiatra Leonardo Machado, que é professor da Universidade Federal de Pernambuco e palestrante. Com base em diversos estudos da neurociência, ele defende uma relação entre otimismo e qualidade de vida.

“Pensamentos otimistas e positivos acionam nosso cérebro de forma diferente. Isso tem consequências no corpo, deixa o organismo com marcadores de estresse menores, com repercussão na mortalidade, qualidade de vida e vitalidade”, resumiu o médico.

Contudo, ter um padrão de pensamentos negativos não é uma sentença. Tanto a psicóloga quanto o psiquiatra defendem que é possível recalibrar para uma visão mais otimista através de técnicas.

Mas para a Ciência da Felicidade, a regra de ouro é uma só: cultivar bons relacionamentos. “As relações humanas são o maior previsor de felicidade. É lógico que as pessoas também nos decepcionam, nos traem, mas as coisas mais importantes da vida envolvem outra pessoa. É o nascimento de um filho, alguém que se forma, um ‘eu te amo’. É sempre gente que preenche nosso coração”, defende a psicóloga.

“As pessoas me perguntam porque é importante aprender felicidade, e eu sempre respondo que precisamos entender a importância de dar valor para as coisas certas. E as coisas certas não são coisas, são pessoas”, finaliza.

Família

A empresária Marly Lauletta Grecco, de Americana, inicia a conversa com a reportagem elogiando o esposo Rui Gilberto Grecco e as três filhas que foram fruto da união. Sem perceber, ela já mostra na prática aquilo que a psicologia defende como o fator mais importante para felicidade – as relações humanas.

Os laços afetivos ajudaram Marly Grecco a superar momentos difíceis – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

Rui faleceu no final de 2020 aos 82 anos por complicações da Covid-19, mas a primeira frase sobre o esposo relembra as quase seis décadas juntos, e não a doença.

“Meu marido morreu, mas fizemos 58 anos de casados. Vivemos bem, como qualquer casal, não era tudo uma maravilha, mas vivemos bem. Tivemos três filhas que são anjos da guarda, então isso já é uma dádiva. Querer ficar a vida inteira não vai ser, é egoísmo”, considera sobre a morte do companheiro.

É com essa tranquilidade que ela relembra outros momentos difíceis, como quando descobriu, ao mesmo tempo, um câncer do tipo linfoma e uma Hepatite C crônica que tornava impossível a quimioterapia. Recentemente, quebrou o calcanhar e precisou se afastar do trabalho. Em todas as situações, encarou com leveza.

A explicação está em quatro regras de ouro de Marly: não falar mal das pessoas, não reclamar dos problemas, não ser perfeccionista e manter viva a fé. A inspiração vem de um laço afetivo.

“Minha mãe foi a melhor escola que tive. Ela morreu com 53 anos, mas viveu intensamente. Era super positiva, amada, uma mulher excepcional. Minha mãe está dentro de mim, não tenho tristeza de lembrar, só alegria”, recorda.

Otimismo se aprende, e na casa de Marly passa de geração em geração. Uma de suas filhas é a empresária Maria Fernanda Grecco Meneghel, fundadora do projeto Rosa do Bem, que oferece apoio a mulheres com câncer de mama. A postura otimista com que ajuda as pacientes, não tem dúvidas, aprendeu com a mãe.

“Todas as vezes que a vida a desafiou, ela reagiu com muita espiritualidade e positividade. Uma das coisas que ela ensina a todos quando está triste é estalar os dedos e mudar a frequência. Em vez de admirar as borboletas dos outros, cuide do seu jardim que elas virão”, recita Fernanda.

A mãe de Marly morreu em 24 de dezembro e o esposo Rui em 25 de novembro. As perdas poderiam facilmente marcar a época natalina com tristeza, mas a empresária encomendou bolas decorativas com fotos da família, e a árvore este ano estará carregada de boas lembranças.

Reencontros

A redução dos índices da pandemia tende a diminuir as distâncias entre as pessoas. Chave para um ano mais feliz, os reencontros já começaram. Mas a consolidação dessa tendência depende da vacinação. A descoberta da variante Ômicrom e a Europa como o novo epicentro da pandemia, com situação mais crítica em países com baixa cobertura vacinal, servem de alerta para o Brasil, segundo a infectologista de Americana, Ártemis Kílaris.

“O Brasil está caminhando super bem com a vacinação, mas até hoje encontro pessoas que não se vacinaram e falam que não vão tomar porque têm medo. Não podemos mais correr esse risco. Estamos em uma crise econômica absurda, se tiver um novo boom de casos, o que vai ser de nós? Então todo mundo tem que fazer sua parte”, cobrou a médica.

A Fiocruz estima que é necessário alcançar 80% de vacinação completa da população total do Brasil, mas até o fechamento da reportagem o índice estava em 63%.

Historiador da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Campinas, Lindener Paretto considera que, à medida em que as pessoas voltem a se encontrar, há chances de uma articulação da sociedade protestando por um mundo mais justo, e nisso reside uma grande esperança para o próximo ano. Contudo, questões que se arrastam há gerações vão seguir presentes na sociedade.

“Teremos um dos anos mais difíceis da história brasileira porque não paramos para expurgar os fantasmas do passado, como racismo, misoginia e autoritarismo. Em termos de eleições, tudo isso virá à tona”, considera o professor.

A esperança precisa de bases sólidas para que seja realista. O psiquiatra Leonardo Machado explicou que ela é a união de expectativa, paciência e ação.

“Quando tenho esperança que não se pauta nesse tripé é uma esperança irrealista, negacionista. Temos condições de coletivamente construir em 2022 uma esperança mais realista, baseada em ações, números e evidências que mostram que a situação está melhor. Podemos acionar nossa paciência e voltar a fazer algum planejamento – não fixo porque ainda há incertezas, mas com alguma prospecção”, avalia.

Motivação

É consenso entre os especialistas que o pensamento positivo não atrai coisas boas, mas ativa uma postura mais motivada que ajuda a correr atrás dos sonhos e desejos.

É essa a proposta do site Razões para Acreditar, portal que traz boas notícias. Criado há nove anos, o grupo viu os seguidores da página no Instagram saltarem de um para quatro milhões na pandemia. Para o fundador Vicente Carvalho, as pessoas sentiram necessidade de boas histórias para acreditar que a situação vai melhorar.

“O otimismo tem o papel de nos impulsionar a querer fazer mais, ser uma pessoa melhor. Nosso compromisso é mostrar que tem pessoas fazendo coisas boas, ajudando umas às outras. É importante se informar do que está acontecendo, mas é primordial não se deixar afogar em notícias que acabam nos aprisionando em algo que não está no nosso controle”, disse Vicente.

Mas pode não ser fácil ser otimista no próximo ano, já que tantos levam de 2021 uma bagagem com muitas perdas. Nesse momento, a fé tem sido um dos caminhos para reencontrar a esperança.

Pai Tadeu Mestre Yatabaiara, dirigente espiritual do Centro de Umbanda Anjos da Caridade – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

“Busque a harmonia e o equilíbrio da vida através da fé. Nem sempre ela nos livra de problemas e sofrimentos, mas sempre nos reveste de forças para suportarmos as atribulações com mais tranquilidade”, orientou o Pai Tadeu Mestre Yatabaiara, dirigente espiritual do Centro de Umbanda Anjos da Caridade, em Nova Odessa.

Vice-presidente do Centro Espírita Paz e Amor, de Americana, Josilda Rampazzo motiva as pessoas usando como argumento a responsabilidade.

Vice-presidente do Centro Espírita Paz e Amor, Josilda Rampazzo – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

“Deus nos dá liberdade de escolhas, mas cada um é responsável por seus atos. Não adianta culpar o outro, a família, o antecedente. Isso é uma motivação para a gente se responsabilizar diante das atitudes. Se Deus nos deu inteligência, liberdade e ação, podemos mudar nossa trajetória”, declarou a líder religiosa.

Mãe Dango, líder da organização cultural de tradição matriz africana Nação Angola Candomblé, há 40 anos em Hortolândia, motiva através do resgate da memória de tudo que foi superado, da crença na ancestralidade e pela solidariedade.

Mãe Dango, líder da organização cultural de tradição matriz africana Nação Angola Candomblé – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

“Entendo que o que vai alimentar nossa esperança é a coragem de dizer: esse país é nosso, essas pessoas são nossos irmãos. Aqueles que não entenderam isso vão continuar não entendendo, egoístas vão continuar existindo”, declarou Mãe Dango.

O pastor Ailton Gonçalves, da Igreja Presbiteriana de Americana, também acredita na solidariedade como uma das faces da esperança. A igreja acolheu 450 pessoas em situação de rua em 2020 por conta da pandemia.

O pastor Ailton Gonçalves, da Igreja Presbiteriana de Americana – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

“Sabíamos que a pandemia tinha início, meio e agora está tendo fim, graças a Deus e à ciência, à vacinação. Mesmo em meio à pandemia, a igreja cristã acredita na vida, ela sempre vai superar a morte porque Deus é Deus de vida”, disse o pastor.

Reitor da Basílica Santo Antonio de Pádua em Americana, o padre Valdinei Antônio da Silva citou que, mesmo na solidão provocada pela pandemia, é possível silenciar e encontrar a mística da fé na oração, assim como o Papa Francisco fez diante da Praça de São Pedro vazia em ato emblemático de março de 2020.

Reitor da Basílica Santo Antonio de Pádua em Americana, o padre Valdinei Antônio da Silva – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

“Cito uma frase de Rubem Alves: a esperança é quando sendo seca absoluta lá fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração. A esperança é a gestora do futuro, nos ajuda a romper a dureza do existir para podermos colher os frutos da nossa vida. Temos a capacidade de estar com outros e pensar que o mundo é uma grande tarefa e devemos fazer o melhor possível”, finalizou. 

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