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Bem-Estar

O perigo do cuidador familiar

Cuidadores profissionais são peças fundamentais quando falamos de familiares adoentados crônicos; o perigo ocorre quando um familiar se coloca no papel de cuidador

Por Bem me Care

24 de setembro de 2021, às 11h44 • Última atualização em 24 de setembro de 2021, às 11h45

Cansaço que vem junto com a função e a falta de preparo favorece um ambiente mais tenso - Foto: Adobe Stock

À frente do programa Bem me Care, que promove atendimento psicológico emergencial para familiares de pacientes que receberam um diagnóstico médico difícil, a psicanalista Cláudia Barroso enfatiza: “Se colocar no papel de cuidador do adoentado pode ser uma das mais difíceis e equivocadas escolhas que alguém que não é um cuidador profissional pode fazer”.

Pode parecer uma fala difícil de ser digerida, em um País no qual cuidar dos outros parece ser uma regra instituída para ser “uma pessoa de bem”, mas é a mais pura verdade. Cláudia revela que é gigante o número de pessoas que deixa sua vida de lado acreditando que precisa cuidar do familiar adoecido e acabam, elas mesmas, sofrendo da mesma forma ou até mais dos próprios efeitos emocionais advindos dessa dedicação, como depressão, ansiedade e até mesmo síndrome de burnout.

“Assumir o papel do cuidador do ente adoentado parece algo extremamente romântico no início, tem inclusive a ver com outra pauta que já divulgamos e questiona se o amor cura tudo. O amor é um ingrediente importante nessas relações, mas ele não pode ter a responsabilidade de curar tudo, não tem o dom da cura, infelizmente”, lembra a psicanalista.

Ela enfatiza: “O amor, muitas vezes, nos cega e nos faz tomar decisões acaloradas que, com o tempo, podem se mostrar extremamente penosas, para quem já está doente e para quem, aos poucos, deixa a própria vida de lado, esquecendo do autocuidado e se tornando alguém que passa a existir só através do cuidado com o outro”. Por isso, no programa Bem Me Care essa escolha é chamada de “o canto da sereia”, algo romantizado e que parece ser o mais certo a se fazer em um primeiro momento.

Adoecimento emocional
“É difícil para muitos de nós não se colocar nesse papel e acreditar que tudo vai dar certo”, reitera Cláudia, que explica: “Com o tempo, a necessidade de aprender sobre os cuidados com o doente, as demandas permanentes e infindáveis, o cansaço que vem junto com a função e o fato de que aquela pessoa que se colocou nesse papel, na maioria das vezes, não tem o preparo necessário vai favorecendo um ambiente mais tenso, hostil, de culpas e arrependimentos, de acusações e insatisfações, minando as relações e trazendo o adoecimento emocional também, além do físico, como já citado acima.

“O Bem me Care vem exatamente desmistificar o fato de que só o familiar adoentado precisa de cuidados. Pelo contrário. O que vimos, nesses mais de 10 anos de atuação, é que ajudar a família a lidar com a situação, a se recompor e a ter mais equilíbrio emocional ajuda, inclusive, no sucesso do tratamento do paciente”, revela Cláudia.

Cláudia explica: “O paciente já tem seu lugar de cuidado com a equipe médica, os psicólogos, exames, medicamentos etc. Quem fica à deriva, muitas vezes, é a família. Ao invés de considerar autocuidado como supérfluo, o programa trata como fator fundamental na reconstrução da dinâmica familiar.

No caso do cuidador familiar, essa questão se torna ainda mais imperativa: “É preciso que essa escolha seja muito consciente, que venha com muita disposição para olhar também para as suas próprias questões e que tenha, sim, se possível, acompanhamento psicológico. No caso de ser possível, um profissional qualificado é sempre a melhor opção”, finaliza Cláudia.

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