29 de março de 2024 Atualizado 08:59

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Bem-Estar

Mel, um rico alimento

O tipo depende de onde está o apiário e o que se tem ali ao redor para as abelhas irem coletar

Por Isabella Holouka - O Liberal

13 de abril de 2022, às 19h01 • Última atualização em 13 de abril de 2022, às 19h02

Além de ser um adoçante natural, o mel é um aliado em dias de dor de garganta, resfriado e gripe na casa de Ariane Nascimento Morales Rabello, em Americana. “Eu consumo pela saúde, porque não sou fã de doces”, conta a compradora de 32 anos, que não fica sem o alimento em casa, consumindo-o com frutas, cereais, chás, com suco de limão e puro.

Já a costureira Cristiane Regina dos Santos, moradora de Santa Bárbara, 38 anos, conta que o mel a ajuda no alívio da tosse e da coceira na garganta decorrentes do contato com a poeira no trabalho. “Eu tenho tudo na ‘família do ite’: rinite, sinusite. Sou muito alérgica. Tomo muito mel com limão, com chá e puro. Adoro o mel”, diz à reportagem.

“O mel é uma solução supersaturada de açúcares, dos quais frutose (38%) e glicose (31%) são os principais constituintes e, em seguida, a água, com contribuição aproximada de 18%. Outros açúcares, proteínas, enzimas, carotenoides, compostos fenólicos, aminoácidos livres, ácidos orgânicos, vitaminas e minerais aparecem em menor proporção entre os elementos presentes”, descreve a professora aposentada da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade de São Paulo), Ligia Bicudo de Almeida Muradian, mestre e doutora em ciências dos alimentos.

“Estudos consideram o mel um adoçante natural, fonte de compostos antioxidantes que, quando incluídos na dieta, tornam-se aliados contra danos oxidativos”, acrescenta ela.

Utilizado desde a antiguidade devido às propriedades que ajudam no equilíbrio do organismo, o mel é considerado um dos alimentos mais ricos da natureza, com mais de 70 substâncias essenciais, incluindo vitaminas como potássio, selênio, ferro, fósforo, manganês e cálcio. Ainda possui proteínas, vitaminas do complexo B, vitamina C e sais minerais, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde).

Para o otorrinolaringologista Ivan Dantas, de Americana, embora existam muitos estudos sobre o assunto, ainda não existe conhecimento científico comprobatório sobre a eficácia do mel no tratamento de doenças respiratórias, dores de garganta ou gripes.

Ele compara o mel a fitoterápicos e afirma que o alimento não pode ser visto como um medicamento, mas como um coadjuvante nutricional que, em determinadas situações, pode ajudar.


“Temos coisas que são consagradas pelo uso, eram usadas pelas avós e continuam até hoje. Na literatura médica, não, o mel não tem essa eficácia; não podemos prescrever o mel como um medicamento que vá curar uma dor de garganta. Mas está comprovado que tem efeitos anti-inflamatórios e várias propriedades farmacêuticas e físico-químicas, e potencialmente pode ter um efeito. Minha mãe me fazia tomar mel com geleia real quando era criança, e quando as mães me dizem que estão dando, eu estimulo a tomar. Mas como medida coadjuvante, adicional, se a pessoa acredita e gosta”, explica à reportagem.


O médico alerta para casos de contraindicação – crianças com menos de 1 ano, diabéticos, alérgicos e intolerantes à frutose – e ressalta a importância de buscar atendimento médico para diagnosticar problemas causadores de desconforto na garganta ou vias nasais.

Ariane Nascimento Morales Rabello não deixa o produto faltar em sua casa, consumindo-o com frutas, cereais, sucos e chás – Foto: Claudeci Junior – O Liberal

Características não aumentam a qualidade do mel

“As abelhas do gênero Apis mellifera, maiores produtoras de mel do ponto de vista comercial, vivem em colônias. O objetivo é sobreviver e para isso elas precisam ter energia. Elas coletam recursos do campo, o néctar, e transformam em mel, para terem reserva e passarem os períodos de escassez no campo”, explica o professor doutor Ricardo de Oliveira Orsi, docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Botucatu. A cidade, localizada no Polo Cuesta, se destaca pela produção de mel no Estado.

Ricardo aponta a predominância no Estado das abelhas africanizadas e do mel silvestre, que não tem origem botânica definida, produzido a partir da coleta de néctar de diversas espécies vegetais. Depois, vêm os méis monoflorais de laranjeira e eucalipto.

“O tipo de mel depende de onde está o apiário e o que se tem ali ao redor para as abelhas irem coletar. Essa é a origem floral do mel. Existe uma origem melhor do que a outra? Não. Depende da preferência do consumidor, porque todos os méis são de qualidade”, explica.
As propriedades físicas, químicas e as percebidas pelos nossos sentidos do mel dependem da sua origem botânica. O mel de laranjeira costuma ser mais claro, enquanto o mel silvestre pode ter uma cor mais escura. Segundo o especialista, a coloração está ligada à concentração de sais minerais; quanto mais escuro o mel, maior a concentração.

A acidez, a umidade e o pH também podem variar de acordo com a florada, porém tais características não aumentam ou diminuem a qualidade dos produtos, representam simplesmente diferenças entre eles.

CRISTALIZAÇÃO

Outra dúvida frequente dos consumidores é com relação à cristalização, com o mito de que o verdadeiro mel não cristaliza. “Todo mel puro vai açucarar. O processo de cristalização é uma propriedade inerente do mel, está relacionada basicamente com a relação glicose-frutose e a umidade. Então temos méis que cristalizam em dois dias, outros demoram quatro meses, e outros, dependendo da origem botânica, cristalizam ainda no favo e o apicultor não consegue nem colher. O que acelera o processo de cristalização é a baixa temperatura”, explica Ricardo.

Por conta disso, os produtores investem em potes com boca larga (que permitem o acesso com uma colher) ou em bisnaga (para consumo mais rápido). De acordo com Ricardo, aquecer o mel em banho-maria ou no micro-ondas pode elevar demais a sua temperatura, desnaturando as proteínas e vitaminas do alimento.
Dentre todas as opções do consumidor, em caso de cristalização do mel, a melhor é deixar a embalagem no sol, para que a temperatura aumente lentamente e não ultrapasse 40°C, permitindo maior preservação das propriedades nutricionais. Outra dica é aquecer somente a quantidade que será consumida.

ACERTE NA COMPRA

Há muita gente vendendo mel adulterado por aí. Em alguns casos, o problema pode ser resultado de um erro do apicultor, mas em outros, falsificação do alimento. Os especialistas ouvidos pela reportagem deram orientações para fazer uma boa compra:

  • Ao optar pelo mel do mercado informal, do pequeno apicultor, certifique-se de que a produção é higiênica, sustentável e não tem acréscimo de aditivos. Uma dica é visitar o local de extração e filtragem do mel antes de estabelecer uma relação de confiança e comprar.
  • O mel, assim como os demais produtos das abelhas, é considerado alimento e, por isso, são registrados no Ministério da Agricultura, possuindo o carimbo SIF (Serviço de Inspeção Federal). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aprovou em 2000 o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel com o propósito de padronizar o controle de qualidade do mel das abelhas Apis melífera. Portanto, na compra de méis no mercado formal, procurar opções que tenham o selo SIF, que estão sob a fiscalização.

Publicidade