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Bem-Estar

Jornalistas e o AVC

Neurocientista e neuropsicólogo detalha como funciona o organismo do profissional, que está entre as mais perigosas para a saúde

Por Redação

27 de janeiro de 2021, às 10h31

Não é segredo para ninguém que os profissionais da imprensa precisam atender a um grande volume de informações e estar sempre um passo à frente dos acontecimentos para cobrir as mais diversas situações que se desenrolaram por conta da pandemia. Afinal, um dos pontos mais estressantes da profissão é a necessidade de conseguirem o “furo” da notícia, aquela que ninguém publicou, aquela exclusiva, e para isso, eles precisam se colocar em risco para entregar resultados diários.

Além de tudo isso, soma-se a responsabilidade do próprio nome como profissional, preocupando-se com a auto imagem e o estresse do trabalho árduo. Juntando todos estes fatores, o neurocientista e jornalista Fabiano de Abreu alerta que tudo isso pode levar a um alarmante processo de desequilíbrio que pode culminar no desenvolvimento de doenças como o AVC e a fadiga crônica.

Segundo Abreu, “podemos comparar com o trabalho no mercado financeiro, na bolsa de valores, onde a pressão por resultados é alarmante, e os gritos podem surgir de todos os lados. Afinal, a cobrança do jornalista não vem apenas da audiência, mas também da velocidade com que precisam entregar as informações e apurar tudo para não passarem notícias falsas ou erradas. Por isso, em seus cotidianos, recebem uma enxurrada de informações e precisam estar atentos a todo instante”, explica o neurocientista.

O caso mais recente de um comunicador vítima de estresse foi o do apresentador da Rede TV!, Marcelo Bennesby, de 53 anos. Ele sofreu um princípio de Acidente Vascular Cerebral (AVC), e passou por uma cirurgia após passar mal, com fortes dores no peito, dor de cabeça e mal-estar no primeiro dia deste ano.

Em 2015, a repórter Leniza Krauss também sofreu um AVC enquanto cobria uma matéria policial para a Rede Record. Ela tinha apenas 37 anos na época. Após o ocorrido, ela decidiu pedir demissão e não se arrependeu. Em entrevista, ela disse: “Combinei comigo mesmo de ser menos estressada”.

Como o estresse ocorre no corpo

A pandemia elevou a ansiedade, que por sua vez, ativou nosso modo sobrevivência, que buscou memórias da amígdala, levando-as ao lobo pré-frontal da consciência. “Quando não resolvemos os problemas, até porque não podemos matar o vírus e nem resolver a economia ou reaver o emprego, a ansiedade é maximizada e o estresse passa a tomar conta de tudo. Com ela elevada, assim como o estresse, alteram-se os níveis de cortisol, hormônio que controla a nossa imunidade, na tentativa de eliminá-los”.

Aí que está um grande problema, salienta Abreu: “A função do cortisol é ajudar a reduzir a inflamação do corpo, mas quando ele é constantemente injetado, torna-se resistente comprometendo o sistema imunitário. Desta forma ele se torna menos eficiente contra agentes externos, podendo causar fadiga e doenças devido à baixa imunidade”.

O resultado disso é que, quando está em níveis normais no corpo, age no controle dos leucócitos (glóbulos brancos), células do sistema imunológico, mas com a ansiedade constante e o estresse, há um aumento na sua produção. “Os glóbulos brancos quando produzidos em excesso podem se acumular nas paredes das artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo e favorecendo a formação de coágulos, elevando o risco de doenças cardiovasculares, entre elas o AVC”, sintetiza o neurocientista.

Além do AVC, Fabiano de Abreu cita uma outra situação perigosa para os comunicadores: “O jornalismo é uma das profissões com maiores chances de desenvolver a Síndrome de Burnout, por exemplo, outra doença que leva a fadiga e a uma condição de estafa mental ligada ao estresse que pode colocar em risco a vida do profissional”.

Diante de tantos riscos, Fabiano reforça que “é preciso que exista um cuidado preventivo constante para jornalistas que correm riscos diários, sem precedentes. Eles prestam um serviço necessário para a garantia da democracia e merecem todo o nosso respeito”, completa.

Sinais de um AVC. Se não for tratado a tempo, a pessoa pode ter surpresas desagradáveis. Caso sinta algum deles, busque atendimento médico o mais rápido possível:

  • Formigamento, diminuição ou perda súbita da força na face, braço ou perna de um lado do corpo;
  • Perda súbita de visão num olho ou nos dois olhos;
  • Alteração aguda da fala, apresentando dificuldade para articular as palavras;
  • Dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente; e
  • Alteração do equilíbrio, vertigem súbita e intensa, tontura que leva a náuseas ou vômitos e alteração no andar.

Como tratar um AVC

Vale lembrar que a principal causa evitável do AVC é a hipertensão, “pois o aumento da pressão dificulta a passagem de sangue pelas artérias”, lembra o neurocientista Fabiano de Abreu. Já o tratamento do AVC, ele ressalta, “baseia-se na desobstrução do vaso cerebral ocluído, normalizando a circulação cerebral, com o uso de medicamento trombolítico. Geralmente, os cuidados pós AVC envolvem uma equipe multidisciplinar com médico, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, entre outros”.

Por isso, o conselho de Abreu é bem claro: “Cuide da sua qualidade de vida, não deixe que a ansiedade te traga prejuízos como esse. Saiba se organizar diante dos desafios que aparecerem e mantenha a saúde em dia. Cada vez mais as pessoas estão sendo vítimas do estresse, e por isso toda forma de se prevenir é bem vinda para que você não seja mais uma vítima de um AVC”, completa.

Passo a passo descrito por Fabiano de Abreu para os jornalistas

  • Faça exercícios físicos todos os dias, pelo menos 30 min.
  • Uma dieta do mediterrâneo pode ajudar já que os nutrientes estão relacionados às regiões cerebrais mais utilizadas pelos jornalistas, entre elas, a memória.
  • Evite consumo abusivo de álcool e não fume.
  • Não veja aparelhos eletrônicos antes de dormir, de noite liberamos melatonina para dormir e a luz no rosto aumenta a produção de serotonina que é para o dia, ambas são fabricadas no mesmo local.
  • Durma oito horas por dia, de noite e não de madrugada. Tente ler algo agradável antes de dormir, de preferência livros de papel e com hora limite para não deixar de dormir as oito horas essenciais.
  • Tome um chá relaxante antes de dormir, como camomila por exemplo.
  • Faça a refeição de duas a três horas antes de dormir e algo leve.
  • Use a inteligência emocional, a demanda é grande, mas com calma a cumprirá. Não veja as obrigações como algo alarmante, não cumprir ou falhar não o matará, mas o estresse sim eleva os riscos de morte.
  • Busque metas de curto prazo e alcançáveis, como por exemplo, um belo passeio no final de semana. Quando estiver atordoado (a), lembre-se do lazer que logo virá.
  • Desligue o telefone quando não estiver trabalhando.
  • Busque estar junto à natureza nos momentos de lazer, ela tem um poder calmante pois aciona nosso instinto de sobrevivência de forma confortável.

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