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Fique em casa

Efeitos invisíveis da pandemia

O cérebro e o emocional também sofrem diante de uma crise como a que o mundo enfrenta com a Covid-19

Por Danilo Reenlsober

04 de abril de 2020, às 07h25

A pandemia de Covid-19, doença respiratória causada pelo novo coronavírus, tem causado preocupação, enchido hospitais e causado mortes ao redor do mundo. Para tentar frear a doença, ainda sem cura, a orientação das autoridades médicas e sanitárias é buscar o isolamento.

Esses são alguns dos sintomas sociais que o coronavírus tem gerado, mas há preocupações à mais, afinal, cada pessoa reage de maneira diferente a todo esse processo. A insegurança devido a manutenção do emprego ou de uma possível falta de alimentos, além do medo de se infectar ou passar a doença para algum familiar pode causar danos também ao nosso cérebro e saúde emocional.

“A iminência de algo ruim ocorrer nos assombra, é difícil pensar que uma pessoa informada e sensata, neste momento, não se sinta com medo”, explica o médico Saulo Nader, neurologista do Hospital Albert Einstein e da USP (Universidade de São Paulo). “O problema é que o receio e o medo podem dominar nossa mente e adoecer nosso cérebro”.

Foto: Adobe Stock
O isolamento somado as constantes notícias e incertezas sobre o futuro intensificam os distúrbios emocionais que afetam diretamente nossa imunidade

De acordo com o especialista, o sistema límbico, que é o responsável pelas emoções no cérebro, funciona por meio de partículas químicas chamadas neurotransmissores (como serotonina, noradrenalina e histamina). “Com o medo e o receio, essa química cerebral pode entrar em colapso”, diz. “O excesso da adrenalina e noradrenalina produzida pelo pavor pode causar ansiedade, angústia, depressão ou pânico”.

Com o emocional fragilizado, as defesas do organismo também caem, tornando as pessoas mais expostas e menos resistentes, não só a Covid-19, como também a outras doenças. Além disso, ansiedade e angústia excessiva podem causar falta de ar e dificuldade para respirar, um dos sintomas característicos da nova doença.

FAKE NEWS

Consumir informações de qualidade e de veículos reconhecidos é essencial para evitar entrar em pânico sem motivo. “Existem muitas fake news e mentiras sobre cura”, aponta a psiquiatra Maria Fernanda Caliani. “Infelizmente há muitos profissionais de má fé aproveitando o momento do temor para vender falsas notícias e curas milagrosas. Isso gera ainda mais ansiedade”, diz a especialista.

Para manter a saúde mental durante a quarentena

Com muitas pessoas isoladas em casa devido à quarentena imposta por diversas cidades e estados, especialistas apontam que encontrar atividades prazerosas e que colaborem para a manutenção da boa saúde mental são indispensáveis nesse período de mudança de rotina.

“Para nos manter saudáveis mentalmente é fundamental estarmos conectados às pessoas que gostamos, ainda mais nesse período, por conta do estresse, bombardeio de notícias e o próprio isolamento”, enfatiza Wagner Bento, coordenador do curso de Psicologia na Faculdade Anhanguera, de Santa Bárbara D’Oeste.

No entanto, como o contato físico (abraços, beijos e aperto de mão) são formas de transmissão do novo vírus, o ideal é fazer ligações ou mesmo videoconferências com pessoas que vivem distante, principalmente para os idosos.

Mesmo dentro de casa é importante praticar atividades físicas. Aplicativos podem ser uma boa forma de encontrar exercícios que podem ser feitos em casa. “Além disso, assistir filmes e séries são boas opções para manter a mente sã. O importante é procurar atividades prazerosas, ocupando o tempo com coisas das quais gostamos”.

ALIMENTAÇÃO

Manter uma alimentação saudável e balanceada ajuda a fortalecer a imunidade e ampliar as chances de defesa do organismo, contribuindo de forma geral para o bom funcionamento do corpo e da mente. Dormir bem também faz toda a diferença, contribuindo para a diminuição dos níveis de estresse e ajudando a manter o bem-estar e o bom-humor, tão importantes nesse período.

Fobias mais impactadas

Saúde mental também precisa ser uma prioridade

Namofobia

Envolve a fobia de ficar longe de aparelhos eletrônicos. Devido ao alto uso durante este isolamento, muitas pessoas podem acabar desenvolvendo essa dependência, mesmo após o final da quarentena.

Agorafobia

Pessoas que apresentam essa fobia (medo de estar em locais públicos abertos e com grandes aglomerações) podem ver o seu sintoma se intensificar ou ressurgir nesse momento, impedindo ou dificultando a saída de casa mesmo sendo para uma situação emergencial. Pode apresentar um medo que venha a ocorra um ataque de pânico e não ter ninguém para socorrê-la.

Claustrofobia

O medo de estar em locais fechados, como aviões, elevador, espaços pequenos também podem vivenciar novas crises neste momento.

Fobia hospitalar

Ter medo de hospitais, médicos e consultórios é um grande desafio durante uma epidemia. Pessoas com essas fobias podem intensificar o quadro pelo medo de contrair a doença e ter de ir em algum ambiente médico.

Fobia Social

Ao mesmo tempo em que nos aproximamos dos aparelhos, existe um distanciamento social muito grande e não apenas físico, mas também mental. Os noticiários alimentam o medo da aproximação e cada vez mais as pessoas associam o convívio social a uma ameaça – o que, a longo prazo, pode prejudicar o quadro fóbico.

Quando falamos em fobia social é importante lembrarmos que ela é o transtorno de ansiedade mais comum e que, em tempos de isolamento, quem já possuí essa fobia precisa se prevenir contra a depressão.

Isso porque, segundo estudos, a depressão é muito comum após o desenvolvimento da fobia social. Por que? O isolamento pode gerar um quadro de solidão e tristeza, que, sendo prolongada, pode evoluir para uma depressão. Por isso, é necessário que neste período, tenhamos ainda mais cuidado com nossa mente.

Fonte: Nataly Martinelli, psicóloga clínica especialista no tratamento de Transtornos de Ansiedade.

Como me prevenir?

Evitar desenvolver ou agravar um quadro de fobia é fundamental nos tempos em que estamos vivendo. Por isso, Nataly Martinelli, psicóloga clínica especialista no tratamento de Transtornos de Ansiedade separou algumas dicas do que fazer neste período.

1. Pratique o autoconhecimento: procure por técnicas que podem acalmar mente e corpo por meio do autoconhecimento: meditação, yoga ou outras atividades podem fortalecer a mente contra os medos e ansiedades.

Foto: Adobe Stock
Estar em contato com outras pessoas faz bem à saúde

2. Continue em contato com outras pessoas: estar em contato não significa apenas estar junto. A tecnologia ajuda a nos mantermos próximos, mesmo que seja via videoconferência. Teste! Mande mensagens e compartilhe seus sentimentos e emoções.

3. Mantenha sua terapia online: não interrompa seu tratamento e, se for preciso, inicie um! O atendimento online é uma alternativa muito eficaz para você se abrir e realizar exercícios com acompanhamento profissional.

4. Concentre-se em aprender algo novo: ocupar a mente com algo novo sempre é uma boa opção. Seja um novo idioma, uma nova profissão, um exercício físico, algum serviço manual. Não importa o quê, mas sim a sua satisfação em perceber sua evolução, além, claro, de distrair a mente.

5. Estabeleça uma rotina: tente administrar o seu dia, entre trabalho, exercício, refeições, descanso, organização da casa e lazer. Reserve um tempo para fazer algo que lhe de prazer como ler, assistir um filme, jogos.

6. Pratique a intolerância à incerteza: aprenda a enfrentar gradualmente a incerteza na vida cotidiana. Viva intensamente o dia de hoje, sem colocar tantas expectativas e medos no futuro. Foque no presente.

7. Fortaleça o seu sistema imunológico: o excesso de preocupações pode prejudicar o sistema imunológico. A região do cérebro que “armazena” esse conteúdo é o córtex pré-frontal e essa região tem conexão direta com o hipotálamo que regula o apetite, sede, ciclo de sono, o sistema nervoso autônomo e também apresenta influência na imunidade. Por isso, é importante cuidar da ansiedade e do medo para fortalecer seu sistema imunológico.

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