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+ Esportes

Atleta paralímpico corre risco 50% maior de lesão, explica médico do CPB em Lima

Por Agência Estado

20 de agosto de 2019, às 12h52 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h44

O período de treino, as metas e a ambição de subir no degrau mais alto do pódio são as mesmas. Mas há algumas diferenças entre os atletas paralímpicos dos olímpicos, especialmente no cuidado na preparação e recuperação física. Segundo estudos do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o competidor com deficiência física tem de estar mais precavido em relação à contusões.

“Analisamos os competidores olímpicos e paralímpicos nos Jogos de Londres-2012 e Rio-2016. No contexto geral, os dados nos mostraram que a possibilidade de lesão é 50% maior nos paralímpicos. Em termos de doenças, como gripe, resfriado, sinusite… é na ordem de dois terços maior”, afirmou em entrevista ao Estado o médico do CPB, Hesojy Silva.

Hesojy foi um dos primeiros da delegação brasileira a desembarcar em Lima, onde ocorrerá a partir de sexta-feira os Jogos Parapan-Americanos de 2019. Ele chegou na capital peruana no último sábado junto com os primeiros atletas. Entre os 337 competidores brasileiros, no entanto, não há como generalizar nada. As prevenções são diversas que atendem a distintas complexidades.

As lesões e problemas crônicos acontecem, geralmente, no período de treinamento. Os amputados de uma perna, por exemplo, costumam enfrentar contusões no tornozelo. “É a lâmina da perna mecânica contra o pé humano. Essa cinética dá problema na articulação do tornozelo e na coluna lombar pelo balanço”, informou o médico.

A adaptação com a prótese exige, em média, um ano e meio de adaptação. A perna mecânica precisa ter a altura acertada e atender aos padrões estipulados pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês). “Houve mudanças recentes. Antes havia uma altura máxima e uma mínima para a prótese. Agora há um cálculo que estipula um tamanho de acordo com a proporcionalidade dos membros”, disse Hesojy. “E isso muda tudo. O posicionamento para a largada, a aceleração e também a desaceleração. O atleta tem de aprender a correr de novo”, prosseguiu.

Recordista mundial nos 100m da classe T63 (amputados de perna acima do joelho), Vinicius Rodrigues vai em busca de sua primeira medalha de ouro em Jogos Parapan-Americanos. “Estou ansioso porque no último Parapan estava recém amputado e não disputei. Faz quatro anos que treino em São Paulo com a seleção e já consegui bons resultados. Sou o único da minha categoria a correr abaixo dos 12 segundos”, disse ele em relação à marca de 11s95 alcançada em abril.

DANIEL DIAS x CESAR CIELO – Ao analisar dois dos principais nadadores da história brasileira é possível notar semelhanças e, claro, diferenças no treinamento. Daniel Dias e Cesar Cielo permanecem quase que o mesmo período nas piscinas durante a semana. O volume de atividades é bem parecido. Ambos se dedicam na mesma intensidade e frequência, cada um de acordo com biotipo.

Daniel Dias, que tem 27 medalhas de ouro em Parapans, nasceu com má formação congênita dos membros superiores e da perna direita. Esse problema está relacionado à falta de musculatura. “Se comparado com o Cielo, o Daniel precisa de maior adaptação, de mais tempo para achar o nado com mais eficiência energética. Como tem o volume muscular proporcional menor, o gasto energético é maior. Ele não tem, por exemplo, palma da mão, o que é fundamental para alta performance na natação convencional.”

No Parapan, Daniel Dias disputará sete provas em seis dias – 50m, 100m e 200m livre, 50m costas, 50m borboleta e dois revezamentos 4x50m livre 20pontos e 4x50m medley 20 pontos. A disputa da natação começa no domingo. “Não é o maior número que já disputei. Em Guadalajara-2011, nadei 11, mas ainda é uma competição puxada. Como já sabíamos que o formato do evento é este, traçamos as estratégias de treinamento no ciclo de acordo”, disse o atleta, dono de 27 medalhas de ouro em Parapans.

DIFERENTES PREOCUPAÇÕES – Nos lesados medulares, atletas que utilizam cadeira de rodas, há um cuidado maior com problemas cardiorrespiratórios. “Há a disautonomia reflexa. Ou seja, eles não conseguem aumentar e regular a frequência cardíaca. A pressão durante a atividade pode ir lá em cima. Com isso há um risco maior de enfarte e AVC (acidente vascular cerebral)”, disse o médico.

Nos atletas com paralisia cerebral há que ficar mais atento na contratura muscular. A atenção especial está em evitar convulsões. “Quase todos usam anticonvulsivantes”, informou Hesojy. Os de deficiências neurológicas, com deformidade nos membros, o esporte em alta intensidade exige sempre uma sobrecarga. “Muitos têm dor crônica como patologia”, disse o médico.

Os cegos, aparentemente, possuem a mesma estrutura física de uma pessoa que enxerga. Mas, na prática, o condicionamento físico é um pouco menor. “Acredita-se que pelo desenvolvimento infantil não ter sido potencializado. A fadiga é mais precoce. Por isso tem de ser feito trabalho constante de muitos anos para elevar condicionamento. Recuperação depende da capacidade de treinamento”, comentou.

O Brasil disputará o Parapan a partir de sexta-feira com a sua maior delegação da história. Todas as 17 modalidades terão representantes nacionais. A expectativa é a de se manter no topo do ranking de medalhas pelo quarto ano consecutivo. Desde o Rio-2007, os atletas brasileiros não conhecem outro resultado que não seja o primeiro lugar. Foi assim também em Guadalajara-2011 e em Toronto-2015. No Canadá foram obtidas 257 medalhas, das quais, 109 de ouro, 74 de prata e 74 de bronze.

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