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Futebol

Sem rumo, Cruzeiro vive caos esportivo e tem trabalho de gestores questionado

Por Agência Estado

17 de março de 2020, às 09h00 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 12h00

Rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro em 2019, o Cruzeiro ainda não encontrou um rumo para deixar o atual caos esportivo, na maior crise da sua história. Os maus resultados dentro de campo resultaram na demissão do técnico Adilson Batista e do diretor de futebol Ocimar Bolicenho no último domingo e já provocaram questionamentos ao trabalho do Núcleo Dirigente Transitório, até então visto como esperança para colocar a gestão do clube no rumo.

O grupo dirige a equipe desde a renúncia de Wagner Pires de Sá e ficará à frente da gestão até as eleições marcadas para maio, sendo composto por empresários renomados de Minas Gerais. Eles têm buscado viabilizar a rotina do Cruzeiro, que chegou a ter suas dívidas estimadas em R$ 800 milhões no início do ano, e conseguiram manter os salários de 2020 em dia. Mas a falta de experiência no futebol estaria atrapalhando a gestão, na avaliação de Bolicenho. Além disso, dois dos seus nomes mais conhecidos – Pedro Lourenço e Vittorio Medioli – deixaram a gestão em janeiro.

“O clube está perdido na tomada de decisões. São pessoas muito novas no futebol, que chegaram para fazer uma gestão de emergência. São todos bem intencionados, mas não conhecem o dia-a-dia do futebol. A Toca da Raposa é longe da sede. Nunca fui ao conselho gestor conversar sobre os assuntos”, relatou Bolicenho em entrevista ao Estado.

As quedas de Adilson e de Bolicenho foram o reflexo de uma semana desastrosa no Cruzeiro dentro e fora de campo. Nas quatro linhas, o time perdeu por 2 a 0 para o CRB na última quarta-feira, no jogo de ida da terceira fase da Copa do Brasil, no Mineirão, um resultado que o deixou em situação bastante complicada na competição.

A Copa do Brasil, torneio vencido seis vezes pelo Cruzeiro, não é exatamente o maior objetivo esportivo neste ano do clube, que está focado na volta à elite. Mas fazer a melhor campanha possível no torneio mata-mata era fundamental em função da premiação elevada distribuída pela CBF, ainda mais para uma equipe em grave crise financeira.

A participação na Copa do Brasil, porém, tem escancarado a fragilidade técnica do time, que avançou com empates nas duas primeiras fases – com São Raimundo-RR (2 a 2) e Boa (1 a 1 e vitória nos pênaltis). E agora precisará de um triunfo por três gols de diferença em Alagoas para ir à quarta etapa.

No Campeonato Mineiro, a duas rodadas do fim da primeira fase, o Cruzeiro é o quinto colocado, a três pontos da zona de classificação às semifinais, sendo que desde 1957 o time não termina o Estadual abaixo do quarto lugar. Esse cenário ruim foi amplificado no domingo, quando perdeu por 1 a 0 para o Coimbra, que ainda não havia vencido na competição. Esse resultado foi determinante para a demissão de Adilson, que esteve próxima de ser formalizada dias antes.

Na quinta-feira, na sequência da derrota para o CRB, a direção do Cruzeiro chegou a decidir pela queda do treinador, em informação que foi vazada à imprensa antes de ser comunicada ao próprio técnico. Sem um consenso, porém, os membros do Núcleo Dirigente Transitório optaram pela permanência de Adilson.

“A palavra final sempre é dos gestores. Ali não existe uma hierarquia. Todos dão opinião, no final tem um consenso, e aí é decidido”, explicou Carlos Ferreira, o principal interlocutor com o departamento de futebol entre os membros do conselho gestor, em entrevista coletiva.

Os recuos e a demora na tomada de decisões foram, inclusive, alvo de críticas do treinador na sua saída do clube. E isso se dá porque as definições se dão de forma colegiada, embora o conselho tenha um presidente – Saulo Fróes – entre os seus membros. “Está precisando urgente de um presidente. Hoje tem oito gestores e todos querem dar palpite no futebol”, disse Adilson, questionando o modelo de gestão do Cruzeiro na sua despedida do clube.

Até por isso, mas também pelos graves problemas financeiros, dos dez reforços do clube para 2020, um deles, o colombiano Iván Angulo, só chegou a Belo Horizonte nesta segunda-feira. Os zagueiros Ramon e Marllon estrearam diante do Coimbra. Já o volante Jean disputou apenas a sua segunda partida pelo time. E a demora em algumas dessas negociações tem relação direta com a lentidão do conselho em tomar decisões.

Além disso, alguns jogadores contratados já são alvos das vaias de torcedores, casos do lateral-esquerdo João Lucas e do volante Filipe Machado. “Ramon e Jean eram para estar aqui, como o Ariel. O Angulo chega amanhã (segunda-feira). Não foi falado há 30 dias? Tem de entender o processo e ser rápido. Não nos dão tempo para isso”, afirmou o técnico, reclamando da demora para a chegada de reforços ao Cruzeiro.

Ainda assim, o clube optou pela demissão de Adilson, contrariando o discurso de que o Mineiro seria um laboratório para a Série B. A ideia, de acordo com Bolicenho, era reforçar o elenco para a disputa da segunda divisão nacional com jogadores que se destacassem no Campeonato Paulista.

“O Estadual deveria ser o laboratório. Eles achavam que com esse time que sobrou íamos longe na Copa do Brasil e no Mineiro? Não tinha como. Estávamos monitorando o Paulista. Com um folha de R$ 3 milhões, seríamos a maior da Série B. Com salários de R$ 80 mil faríamos uma seleção do Paulista”, acrescentou Bolicenho.

Assim, ainda que sob novo comando, o Cruzeiro repetiu o comportamento dos gestores anteriores no segundo semestre do ano passado. Afinal, após a queda de Mano Menezes em agosto, seus sucessores ficaram pouquíssimo tempo no cargo. Rogério Ceni caiu em setembro, após oito jogos no cargo. Abel Braga sucumbiu em novembro, depois de 14 partidas. E Adilson, que até resistiu ao rebaixamento, dirigiu o Cruzeiro em 15 confrontos.

“O clube estava uma bagunça dentro do vestiário. Uma desordem. Atletas tomaram conta do clube. Derrubaram Mano Menezes, Abel, Rogério Ceni e tomaram conta do clube. Você chega, tem de limpar. Dei treino durante alguns dias, até resolver essa situação, coisa que a gente não queria. Não tínhamos comando lá em cima”, atacou Adilson.

O clima de instabilidade e a volta à estaca zero serão desafios para o time na busca pelo retorno à Série A. “O Cruzeiro ainda percorrerá um longo caminho de reconstrução. O que foi destruído não se ergue em menos de três meses, que é o tempo que este conselho gestor está à frente do clube”, se defendeu o Núcleo Dirigente Transitório em carta aberta direcionada aos torcedores publicada nesta segunda-feira.

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