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Futebol

‘Uma coisa que eu sinto falta demais é a torcida’, diz Raphael Claus

Sem a presença de torcedores nos estádios, árbitro barbarense chega a 100 jogos no Paulista e está prestes a atingir marca de 150 no Brasileiro

Por Rodrigo Alonso

07 de março de 2021, às 10h33 • Última atualização em 07 de março de 2021, às 13h23

No momento em que pisa no gramado, o árbitro de futebol já recebe vaias. E, com a bola rolando, a situação só piora. O público, inclusive, faz coro para mandar o juiz a lugares onde ninguém quer ir.

Mesmo assim, o que o barbarense Raphael Claus mais sente falta em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19) é, justamente, a presença dos torcedores. Em entrevista ao LIBERAL, ele diz que a torcida representa a magia do futebol e dá um incentivo a mais, até mesmo, para os árbitros.

Com o estádio da Vila Belmiro vazio, na última quarta-feira, durante o empate entre Santos e Ferroviária por 1 a 1, pela segunda rodada do Estadual, Claus completou 100 jogos como árbitro principal do Campeonato Paulista da Série A1. O profissional também está prestes a atingir a marca de 150 partidas no Brasileirão – ele já apitou 148.

O barbarense de 41 anos, que integra o quadro da Fifa, ainda acumula experiência em torneios internacionais, com 13 aparições na Copa Libertadores e 20 na Copa Sul-Americana. Neste ano, Claus quer ir além e trabalhar pela primeira vez em uma edição dos Jogos Olímpicos, em Tóquio, no Japão.

Claus em ação na reta final do Brasileirão 2020, no jogo entre Flamengo e Inter; árbitro conversou com o LIBERAL – Foto: Thiago Ribeiro – AGIF – EC

Como foi a sensação de chegar a 100 jogos no Paulistão?
Quando fiz curso de árbitro lá no início, em 2002, tinha o sonho de trabalhar em um jogo da Série A1. Agora, chegar a 100 jogos é uma coisa que eu não imaginava. É claro que a gente vai construindo, e isso você só consegue tendo uma regularidade boa, uma credibilidade boa. E também agradecer as comissões que passaram. É muito gratificante. E, acima de tudo, agradecer a Deus, que me dá saúde, me dá condição para desempenhar em alto nível.

Dessas 100 partidas, quais foram as mais marcantes?
O primeiro jogo meu, que foi entre Oeste e Monte Azul, em Itápolis, foi um jogo em que eu me senti bastante ansioso, com a expectativa de fazer um bom trabalho, já que era o primeiro. Eu queria dar sequência nos próximos. Demorei oito anos para apitar na primeira divisão. Então, você fica com receio de chegar, fazer um jogo e não ir tão bem. Podem achar que você está muito “verde” ainda ou que não tem condições. Essa ansiedade no primeiro foi gigantesca, uma das maiores. Também coloco nessa lista as cinco finais que eu fiz de Campeonato Paulista, que foram em 2014, 2016, 2017, 2019 e 2020.

E teve algum jogo em que você ficou impressionado com a atmosfera ao redor?
Acho que o primeiro clássico meu, que já foi com casa cheia. Foi em 2011, meu segundo ano de Campeonato Paulista. Aí você já tem uma proporção de um grande jogo do futebol brasileiro. No final de semana anterior, foi um jogo entre Palmeiras e Portuguesa, que também já foi com estádio lotado. E, depois, fiz o Corinthians e Santos, também lotado, com muita chuva. E era um jogo de rede aberta, às 4 da tarde. Tem uma proporção muito grande de exposição na mídia, de tudo que se fala antes do jogo. Foi o primeiro jogo em que eu tive essa sensação.

Nesta trajetória, você também dividiu campo com grandes jogadores. Quais mais te marcaram?
No meu terceiro ou quarto jogo da Série A1, teve o Marcos, goleiro pentacampeão pela seleção, do Palmeiras. Também pude fazer, como quarto árbitro, jogo do Ronaldo Fenômeno, que foi um dos maiores jogadores que eu vi jogar. O Rivaldo também. Pude trabalhar num jogo quando ele estava no São Paulo e, depois, no Mogi Mirim. São os grandes jogadores com os quais eu pude trabalhar. O Kaká também, quando passou pelo São Paulo. São jogadores que foram melhores do mundo.

E como a pandemia está afetando a sua rotina dentro da arbitragem? O quanto isso mexeu com você?
Mexe bastante, principalmente no nosso dia a dia de treinamento. Agora, a gente já tem essa disponibilidade de espaço para treinar. Mas, no princípio da pandemia, tinha de ficar praticamente preso dentro de casa, não conseguia treinar. Uma coisa que eu sinto falta demais é a torcida nos estádios. É muito diferente trabalhar em um jogo sem torcida, porque acho que a grande magia do futebol está nos torcedores. Até mesmo para os jogadores, é um incentivo a mais. Para a gente, também não é diferente.

Sem a torcida, é possível ouvir mais as reações das pessoas presentes. Isso muda alguma coisa para você?
É mais chato, na verdade. Porque, a partir do momento que você consegue ouvir qualquer coisa, e os microfones captam tudo que se fala dentro de campo, aí você tem de ter atitude para coibir essas ações. São pessoas que são profissionais, estão trabalhando ali. Se elas não têm uma postura adequada, merecem uma sanção disciplinar. Então, fica um pouco chato. E também você consegue ouvir tudo dentro de campo: os chutes, alguns contatos mais fortes… Então, potencializa um pouco mais o som ambiente. Mas eu sou 100% mais com torcida do que sem.

E, neste momento, quais são suas ambições na carreira? Pensa na Copa do Mundo de 2022?
Com certeza, é um sonho, mas a gente sabe que, para chegar lá, ainda tem praticamente dois anos. O foco neste ano aqui é a Copa América, as Olimpíadas… Fico na expectativa de trabalhar em um grande evento neste ano. A minha meta é mais próxima, pensando ainda neste ano de 2021.

Fora de campo, como está sua vida hoje?
Estou aqui em São Paulo hoje, minha esposa é daqui. Tenho um estúdio de pilates. Tenho assessoria de corrida também, que agora, devido à pandemia, está difícil de controlar, porque as atividades são feitas em grupo. Mas quem toma conta de tudo extracampo é a minha esposa. Eu fico mais só na administração.

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