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Basquete

‘Não podemos ser imediatistas. Foram 9 anos de desmandos na CBB’, diz Guy Peixoto

Por Agência Estado

14 de março de 2020, às 08h00 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h47

Eleito em março de 2017, o presidente Guy Peixoto entrou no último ano de mandato na Confederação Brasileira de Basketball (CBB). Apontado como salvador da pátria ao assumir com o esporte no fundo do poço, suspenso pela Federação Internacional de Basquete (Fiba) das competições e com uma dívida de R$ 40 milhões, o dirigente reafirmou ao Estado que não vai buscar uma reeleição e que promete seguir trabalhando para entregar uma entidade com boa saúde financeira para o sucessor em 2021.

Guy afirmou que se sentirá triste se o basquete brasileiro não conseguir ir aos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, já que conquistar uma medalha olímpica era um dos seus desejos no início da gestão, mas culpa os desmandos da administração anterior. O masculino ainda briga por vaga no 5×5 e no 3×3. Ele confirma também que o croata Aleksandar Petrovic e José Neto continuam para o ciclo de Paris-2024.

O senhor entra no quarto e último ano do mandato na CBB. Qual o seu maior objetivo até março de 2021?
Dentro de quadra, conquistas as classificações olímpicas do basquete masculino 5×5 e 3×3 para Tóquio-2020. Continuar o trabalho de renovação da seleção feminina, para que possamos voltar a ter um time vitorioso, como já tivemos. Na base, manter a hegemonia no continente. Além da realização do Campeonato Brasileiro de seleções estaduais. Extraquadra, quero continuar o processo de reestruturação administrativa e financeira do basquete brasileiro, dentro das mais sólidas normas de Compliance Internacional.

Qual será o tamanho da sua frustração se o Brasil não conseguir levar nenhuma equipe para Tóquio?
Frustração nenhuma. Tristeza, sim. Mas não podemos ser imediatistas. Foram quase nove anos de desmandos na CBB, que não serão resolvidos do dia para a noite. O orçamento da Federação Francesa é 25 vezes maior do que o nosso. O da Austrália é 15 vezes maior. O altíssimo nível que o basquete internacional hoje vive, não permite planos imediatistas. Nossa gestão está à frente da CBB há três anos, sendo que em quase metade dela, estivemos suspensos pela Fiba, herança da gestão anterior, sem poder participar de qualquer competição internacional. Todo esse episódio aconteceu justamente no atual ciclo, o de Tóquio-2020.

O Petrovic continua na seleção masculina, independentemente do resultado do Pré-Olímpico? Como avalia o trabalho dele até o momento?
Avaliamos da melhor forma possível. É um técnico Top 10 no mercado mundial, que soube mesclar a juventude e a experiência, sempre unidas e com um ambiente ótimo de grupo. Também acreditou na nossa visão de renovação. Em 2017, colocou em quadra o Yago como titular nas Eliminatórias aos 17 anos. Depois, trouxe Didi, e agora dois jovens de 17 anos, o Guilherme e o Márcio. É o nosso projeto que ele faça o ciclo de renovação para a próxima Olimpíada, em Paris-2024.

E o José Neto continua na seleção feminina? O senhor conversou com ele sobre o trabalho que em apenas sete meses trouxe uma resposta bastante positiva?
O José Neto fez um grande trabalho nesses últimos sete meses. E o trabalho continua normalmente. Foi notável a evolução tática do time. O relacionamento dele com as meninas. O título do Pan de Lima. O bronze na AmeriCup (Copa América). Além dos bons jogos contra Estados Unidos e Canadá, duas seleções top no mundo. Há 12 meses, havia um grande descrédito com a seleção. Perdemos a vaga olímpica em apenas um jogo onde comprovadamente estivemos abaixo do que apresentamos nos últimos sete meses, tanto é que você mesmo, na sua pergunta, corrobora o bom trabalho desenvolvido.

O senhor enfrentou muitas frustrações neste caminho de reconstrução da CBB?
Sim. Muitas. O buraco em que a CBB se encontrava era muito maior do que imaginávamos. A administração anterior maquiava o balanço financeiro, omitindo dados e débitos. Só conseguimos entender todo o contexto da entidade após a contratação da BDO Consultoria, que nos auxiliou no documento que mais tarde se transformou no processo judicial que movemos contra o ex-presidente (Carlos Nunes), pedindo que ele seja responsabilizado pelas ações. Esse processo, inclusive, já está no âmbito federal. Ainda conseguimos, em assembleia, puni-lo com a suspensão por dez anos dos seus direitos esportivos, a maior punição possível pelo atual estatuto.

Muitas pessoas envolvidas no basquete afirmam que sem o senhor o basquete brasileiro estaria no fundo do poço até hoje… Como o senhor vê este papel que exerceu, colocando inclusive dinheiro (e não foi pouco) do próprio bolso?
Eu não me considero um salvador da pátria, mas fico muito feliz em poder contribuir para a retomada do meu esporte, a quem devo uma grande parte da minha vida e formação, além do sucesso profissional. Este trabalho ainda não se encerrou. Ainda temos muitos desafios pela frente. Gostaria de agradecer à minha equipe de trabalho, presidentes das federações e todos que nos ajudaram até aqui com este trabalho.

A dívida da CBB, que era de R$ 40 milhões quando o senhor assumiu, está sanada?
Claro que não. É impossível ser sanada com os volumes de recursos que a CBB conseguiu obter depois da situação em que a encontramos. Mas, só em negociações das ações mais significativas, conseguimos reduzir em quase 65% o montante. Um dos exemplos é ação movida pelo ex-técnico Rubén Magnano, que foi extinta.

Conseguir patrocinadores foi mais difícil do que o senhor imaginava?
Sem dúvida alguma. Quando assumimos, a CBB não tinha nenhuma credibilidade com as empresas privadas ou o âmbito governamental. Somando-se isso ao período pós Rio 2016, com as empresas diminuindo o investimento no esporte olímpico e a crise econômica do País, ficou ainda mais complicado trazer novos patrocinadores. Basta ver a situação do esporte olímpico brasileiro, onde o basquete não é uma exceção e sim confirma a regra.

A segunda edição do Campeonato Brasileiro Adulto começa neste domingo… Qual a importância da CBB retomar o caminho da organização de torneios e também ter basquete em outros centros do Brasil?
Esse é o nosso papel. Desenvolver o basquete por todo o Brasil. Hoje, esse campeonato já abrange três das cinco regiões do país. Nos próximos anos, queremos ampliar, chegar em todas as regiões e instalar de vez o conceito regionalizado do torneio. O Campeonato Brasileiro é democrático e inclusivo. A CBB é uma entidade sem fins lucrativos e tem o intuito de desenvolver o basquete. Todo o dinheiro arrecadado nos campeonatos é revertido em prol do próprio campeonato, auxiliando os clubes em sua participação.

Recentemente tivemos um episódio que escancarou uma relação ruim entre CBB e Liga Nacional de Basquete, com troca de farpas… Como o senhor administra esta situação?
A CBB é a instância maior do basquete no Brasil, reconhecida pela Fiba, e chancela a Liga Nacional de Basquete e a Liga de Basquete Feminino para a realização dos campeonatos adultos profissionais. A CBB trabalha e espera que as referidas entidades contribuam dentro das suas responsabilidades para o desenvolvimento do basquete brasileiro.

A CBB também tem organizado torneios de base, que sempre foi uma das suas prioridades… O senhor está satisfeito neste sentindo?
Essa é a nossa prerrogativa. Dentro da governança do basquete mundial, a responsabilidade de desenvolvimento da base é das confederações. Quando assumi em março de 2017, não vinham sendo realizados estes campeonatos. A partir daí, eles foram sendo retomados, a ponto de chegarmos a 30 campeonatos em 2020, do sub-12 ao sub-23, masculino e feminino, 5×5 e 3×3, com quase quatro mil atletas e 100 clubes em atividade, de todas as regiões do País. Hoje, temos parcerias importantes com o Comitê Olímpico Brasileiro, Comitê Brasileiro de Clubes e prefeituras, que dão suporte a realização desses torneios. Meu maior desejo e trabalho neste momento é para o retorno dos Campeonatos Brasileiros de Seleções Estaduais de Base, o que ainda não foi possível devido às restrições orçamentárias que já citamos anteriormente.

A CBB criou projetos interessantes, como o CBB Cuida e outros, o que mais pode ser feito para o desenvolvimento da modalidade, incluindo o 3×3?
Não criamos apenas o CBB Cuida, o nosso projeto social junto às seleções brasileiras. Nesses três anos, fortalecemos nossas redes sociais, engajando com o público amante do basquete, com uma linguagem atual e que atinge os nossos fãs. Trabalhamos melhor o marketing, como por exemplo com a criação da mascote ‘Cestinha’. Criamos ainda um podcast, o ‘Rádio CBB’, onde os nossos técnicos, atletas e ídolos do basquete brasileiro interagem com o público. Finalmente conseguimos conversar com o basquete brasileiro na velocidade da internet. Todos esses projetos são relacionados ao basquete 5×5 e 3×3. Na área de comunicação, estamos trabalhando para criar a TV CBB, com conteúdos do basquete brasileiro em vídeo. Na área esportiva, vamos realizar em 2020 a primeira edição do Campeonato Brasileiro Adulto da terceira divisão, em parceria com o Comitê Brasileiro de Clubes. E no feminino, talvez tenhamos a possibilidade de realizar a segunda divisão e quem sabe até a terceira.

O senhor me disse na primeira entrevista como presidente lá em 2017 que não iria tentar se reeleger e me pediu para lembrá-lo. A posição continua de pé? Ou há chance de alguém convencê-lo de continuar?
Sendo objetivo, nada mudou.

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