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Transporte

Pontuação é fator de peso para motoristas de aplicativos

Empresas dizem que profissional tem liberdade de escolher quais viagens realizar; mas altas taxas de cancelamentos podem encerrar a parceria

Por Rodrigo Pereira

26 de junho de 2019, às 07h16 • Última atualização em 28 de junho de 2019, às 07h25

A existência de um sistema de pontuação criado para os motoristas de aplicativos, que dá bonificação aos que são melhor avaliados e têm mais corridas realizadas, influencia diretamente nas jornadas de trabalho e decisões dos profissionais da área, desde o aumento de tempo trabalhando até a aceitação de viagens que considerem “de risco”, segundo profissionais ouvidos pelo LIBERAL. Especialistas chamam essa condição de “gameficação”.

“A Uber dá preferência para alguns motoristas. Tanto Uber quanto 99. Como você vai atingir isso? Com sua boa avaliação, a taxa de aceitação e taxa de cancelamento [de viagens] e o número de viagens. Que vantagens eu tenho? Pagam um valor a mais ou te dão uma bonificação ou uma promoção. Pelo fato de você ser premium, te descontam 5%, 10%. Você se torna um motorista seis estrelas. Mas pra gente conseguir isso tem que estar perfeito, tem que se matar. Vai ter que entrar na periferia à noite”, afirma Rosângela Nóbrega Ravaneli, de 35 anos.

Reginaldo Franco Barbosa, de 41 anos, conta que se o motorista rejeitar um determinado número de viagens a plataforma o bloqueia. “Então, eles nos obrigam, muitas vezes, a fazer uma corrida perigosa, que vai colocar sua integridade em risco, e você se obriga a fazer para não ser bloqueado. A gente não tem respaldo, com quem conversar. Os atendentes falam que não têm o que fazer”, reclama.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Rosângela, Reginaldo e Lilian relatam dificuldades na hora de lucrar com transporte por app nos dias atuais e buscam alternativas

Tanto Uber quanto a 99 informam que o profissional tem liberdade de escolher quais viagens realizar. No entanto, em caso de altas taxas de cancelamentos injustificados podem encerrar a parceria com o motorista que as realizou.

‘PREMIAÇÃO’

Já o motorista Luís Bardella pondera que a pontuação serve, também, para identificar e premiar o motorista que presta um bom serviço e para “punir” os maus profissionais.

Ele explica que, em um dos sistemas, para melhorar a pontuação é preciso fazer 500 viagens sequenciais, não ininterruptas, com avaliação cinco estrelas (a mais alta). “E não é fácil. Minha maior sequência de cinco estrelas foi 120 viagens. Essa questão da avaliação é crucial pra gente”, afirma.

Profissional define metas e jornadas

A Uber e 99, aplicativos de transporte utilizados pelos motoristas ouvidos, informaram que os condutores parceiros não são empregados e nem prestam serviço, mas profissionais autônomos que contratam a tecnologia e definem as próprias jornadas.

“Não há metas, número mínimo de viagens a cumprir ou exigência de horas mínimas de utilização da plataforma. Dessa forma, a Uber não exerce controle sobre os motoristas, que escolhem quando usar o aplicativo. No entanto, a Uber recomenda que todos os parceiros observem as orientações das autoridades de trânsito, inclusive quanto à necessidade de estarem descansados para dirigir”, aponta a Uber.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Bardella diz ter chegado a 120 corridas seguidas com 5 estrelas

“Confere a eles a opção de atender ou não aos pedidos realizados por intermédio das plataformas. Como trabalhador autônomo, a remuneração decorre da produtividade e o profissional deve saber avaliar a sua capacidade e a melhor forma de atender à demanda de forma segura e eficiente”, afirma a 99.

Sobre o pagamento aos motoristas, a Uber diz que o motorista recebe um valor base por viagem, somado a um valor por tempo e distância da viagem, além de outros valores como pedágios, preço dinâmico e adicionais por promoções.

A 99 também leva em conta tempo e distância para o cálculo e informou que também pratica um sistema de “preço variável” (também chamado de “dinâmico”), por meio do qual o motorista recebe mais em horários com maior demanda de viagens e menor oferta de veículos.

MOTORISTA decidiu migrar de cidade

Percebendo um aumento no número de concorrentes em Americana desde junho de 2018 e consequente queda no faturamento, o motorista de aplicativo Luís Bardella, 56 anos, tomou uma atitude: passou a atuar em Campinas. Lá, viu seus ganhos voltarem a se estabilizar, e inclusive tem uma explicação para isso.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Luís Bardella deiciu atuar em Campinas em função da grande quantidade de motoristas em Americana

Em Campinas, a prefeitura publicou um decreto regulamentando a profissão em maio do ano passado. Entre as exigências do texto, a de que os veículos usados não tenham mais que oito anos de uso. Para Bardella, essa restrição fez com que motoristas que atuavam na cidade com veículos mais velhos migrassem para outros municípios, como Americana.

“O que aconteceu com a Americana? Inchou de motoristas a partir de maio. Em junho, despencou o faturamento”, analisa. Foi aí que decidiu fazer o caminho inverso e ir para Campinas.

“No primeiro dia, eu fiz o que eu fazia em Americana no topo. Aí animou. Só que tem o pedágio, o deslocamento, tudo isso que é custo meu. Mas compensa”, conta.

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