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Especial Educação

A busca por engajamento dos alunos

Especialista da Unesp diz que docentes precisam ter olhar atento, criatividade e abertura ao novo para construir conhecimento

Por Isabella Holouka

13 de dezembro de 2020, às 11h01 • Última atualização em 13 de dezembro de 2020, às 11h26

O ano de 2020 foi de bastante esforço da comunidade escolar pelo envolvimento dos alunos – um desafio contínuo. Os professores têm a fundamental função de mediar a construção do conhecimento e a experiência da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) mostrou a necessidade de reinvenção, especialmente com o uso de novas ferramentas digitais.

“Entretanto, não existe uma receita pronta, e sim a necessidade de um olhar atento, criatividade e abertura ao novo”, opina a professora doutora Vera Lucia Messias Fialho Capellini, docente do Departamento de Educação e vice-diretora da Faculdade de Ciências da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus de Bauru.

“Mesmo durante o ensino remoto, é preciso ter planejamento da aula, a intencionalidade da aprendizagem que quer promover. Para as crianças dos anos iniciais, aprendemos a orientar primeiro os pais, que têm sido grandes aliados”, comenta a pedagoga, que afirma que apenas passar o conteúdo não garante a aprendizagem nem no ensino presencial.

“Os professores precisam se reencontrar como intelectuais que despertam paixão pelo aprender. Metodologias mais ativas e alguns recursos ajudam, mas sem paixão por ensinar não resolvem”, complementa Vera, ressaltando ainda a importância de que estes profissionais sejam valorizados pela sociedade.

Reinventar o uso das tecnologias na tentativa de conectar os alunos é o que tem feito a professora Michelle Rampaso Guilhernite, de 38 anos, que leciona disciplinas de ciências e biologia, além de aulas eletivas, na EE (Escola Estadual) Maria Lucia Padovani De Oliveira, localizada no bairro Chácara Letônia, em Americana.

A professora Michelle Rampaso Guilhernite buscou alternativas para prender a atenção dos alunos – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

“Amanhã tenho aulas com 6º e 7º anos, de tecnologia, e estou criando ‘stop motion’, para engajar os alunos”, contou à reportagem numa tarde de quarta-feira no mês de novembro.

A professora diz que já sentia dificuldade em prender a atenção dos estudantes antes da pandemia. “Muitos alunos iam porque era a única refeição que faziam, outros porque é o único lugar em que conversam e têm amigos, outros porque é onde têm Wi-Fi. Um bocado de motivos, mas eu vejo muito pouco o se interessar pela matéria”, revela, contando ainda sobre os alunos que trocam os dias pelas noites, em jogos ou nas redes sociais, e por isso têm ainda mais dificuldade em comparecer às aulas online.

Professor de português na mesma escola, Ailton Fabrício Garcia, de 41 anos, opina que o envolvimento da família continua importante na educação dos filhos ao longo de toda a trajetória escolar. “Até os sétimos anos, os pais
têm um acompanhamento. Depois, acham que o filho já cresceu e não precisa, mas de fato precisa”, defende ele.

“Temos nos desdobrado, fazemos atividades mais lúdicas e interativas para tentar manter o interesse. Mas eu acho que em princípio o problema é que todo mundo achou que [a pandemia] ia terminar logo. E não aconteceu, o que gerou uma situação difícil”, completa.

Barreiras
Toda a comunidade escolar enfrentou as dificuldades decorrentes da falta de preparo – especialmente emocional – para lidar com uma pandemia.
Professora de história no Ensino Fundamental II, pedagoga e psicanalista, Creusa Meneghel, de 59 anos, conta que em muitos casos foi preciso dar um apoio pedagógico e metodológico direcionado e individual para auxiliar os alunos.

Pedagoga e psicanalista, Creusa Meneghel conta que foi preciso trabalhar o emocional dos alunos – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

“Eles nos falavam que tinham insônia, que não conseguiam fazer as atividades, que se depararam com os pais que perderam o emprego. O campo psíquico foi trabalhado pelos professores e os alunos têm marcas profundas deste período”, diz.

Pedagoga de 480 alunos do Ensino Fundamental II na EMEF Prof. Jonas Corrêa de Arruda FIlho, mesma escola em que Creusa leciona, Roberta Fonseca Vilela, de 50 anos, conta que os problemas emocionais foram barreiras para a aprendizagem, com o desenvolvimento ou agravamento de casos de ansiedade, crises de pânico, depressão e medo do futuro.

“Em relação às atividades, eles não conseguem fazer porque entram em crise. Muitos não estão sendo acompanhados por nenhum especialista, então fica mais difícil ainda”, revela a pedagoga.

30 anos em 30 dias
Apesar da crença de que a nova geração é nativa digital, a pedagoga Roberta Fonseca Vilela afirma que mesmo os estudantes que têm acesso a computadores ou celulares tiveram dificuldades na adaptação às novas ferramentas. “Tivemos situações de alunos que não sabiam como utilizar o email”, exemplifica a profissional.

A professora de história, pedagoga e psicanalista Creusa Meneghel afirma que aos estudantes falta organização para manejar as redes com a finalidade educacional. Em contrapartida, ela aponta a adaptação das escolas e especialmente dos professores ao ensino remoto como um grande ganho deste período.

“Foi uma experiência muito rica em aprendizado para o professor. Percebi que temos muito para produzir na educação. Ficou muito claro que nesse período tivemos um avanço e o que teríamos que mudar em 30 anos mudamos em 30 dias”, opina.

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