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Especial Educação

2020 foi um ano perdido na educação?

Estudantes narram frustração em 2020 e sonhos adiados para 2021; especialistas falam sobre perspectivas para os jovens no próximo ano

Por Isabella Holouka

13 de dezembro de 2020, às 11h01 • Última atualização em 13 de dezembro de 2020, às 11h23

O ano que iniciou com expectativa pelos estudos, pela busca por uma vaga na universidade ou melhor colocação no mercado de trabalho, chega ao fim com a aceitação de que a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) pode até ter mudado alguns planos, mas não fez de 2020 um ano perdido.

Michelle Ponciano Paschoal Borburema, estudante de 18 anos da Etec (Escola Técnica Estadual) Polivalente de Americana, é uma das milhares de estudantes que cursaram o terceiro ano do ensino médio neste ano.

Michelle Ponciano: ansiedade e estresse com as dificuldades do ensino remoto – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Ela conta sentir ansiedade e estresse com as dificuldades do ensino remoto e as expectativas que tinha para 2021: ingressar na graduação nos cursos de artes visuais ou design gráfico em uma das principais universidades
públicas do país.

“Meus planos mudaram um pouco. Para não piorar meu psicológico, porque ‘já deu’ essa pandemia, acho melhor deixar para depois, quando estivermos mais tranquilos”, confidencia a estudante. “Me preocupa a minha capacidade, como se eu não tivesse o estudo suficiente”, lamenta.

Aos 18 anos, Gabriela Vitória Bocchio Krepski conta que seu objetivo no início de 2020 era a aprovação no curso de medicina na Ufscar (Universidade Federal de São Carlos).

Para a aluna do terceiro ano do ensino médio no Sesi 422, de Americana, o principal obstáculo diário para os estudos é a dinâmica familiar, que mudou no período da pandemia.

Gabriela Vitória: “Não foi um ano perdido. Aproveitamos da maneira que deu” – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

“Minha mãe e meu padrasto não conseguiram parar de trabalhar e eu fico o dia todo com meu irmão de dois anos. Faço tudo o que precisa ser feito e assisto às aulas com ele. Mas só sobra tempo para fazer minhas atividades à noite e tudo acaba ficando conturbado. Eu não consegui conciliar”, queixa-se ela. “Tem dias em que eu penso se isso vai passar. Noutros eu penso se vou trabalhar ou passar numa faculdade, isso me abalou muito”.

Ela conta que tem colegas igualmente abalados, incluindo aqueles que precisaram começar a trabalhar devido às dificuldades financeiras deste período. “Muitas vezes não conseguimos cumprir com satisfação as atividades. Ficou bagunçado, mas aprendemos a lidar, não foi um ano perdido porque aproveitamos da maneira que deu”, reflete.

Psicóloga sugere empatia com os jovens
A frustração por não conseguirem focar nos estudos como gostariam vem fazendo com que muitos vestibulandos adiem planos e sejam acometidos por problemas emocionais, comenta a psicóloga comportamental Gabriela Cordeiro, de Americana.

Ela tem observado em seus pacientes estudantes do ensino médio um misto de emoções como medo, insegurança e desespero pela adaptação a um sistema de ensino online ao qual não foram preparados.

“Muitos tiveram que procurar aprender sozinhos. Esse autodidatismo muitas vezes os deixa frustrados, sem incentivo nenhum para continuarem estudando”, explica ela.

“Esses jovens se sentem incapazes, e muitas vezes pensam que isso está acontecendo somente com eles. Porém, essa realidade infelizmente vem prejudicando uma grande quantidade de pessoas e talvez a empatia seja a melhor solução”, sugere a psicóloga, ressaltando a importância do apoio familiar para novas tentativas no vestibular.

Desinteresse de muitos
A formação em uma universidade já foi mais cobiçada pelos estudantes de escolas públicas, avalia a professora Michelle Rampaso Guilhernite, de 38 anos, que leciona biologia para os alunos na reta final do Ensino Médio na EE (Escola Estadual) Maria Lucia Padovani De Oliveira, em Americana.

“Antigamente víamos que um ou outro aluno não queria fazer faculdade e pensava em trabalhar. Agora vemos que uma grande parte não tem interesse em seguir a carreira acadêmica”, reflete a professora, que também aponta a frequência baixa às aulas online. Professor de português na mesma escola, Ailton Fabrício Garcia, afirma que há estudantes que permanecem motivados, mas que uma grande parte parece ter realmente desistido.

“Tivemos alunos que ‘largaram a mão’. Para o próximo ano estamos na expectativa do ensino híbrido. Eu posso destacar que as aulas online tiveram um efeito positivo naqueles que puderam participar do aprendizado”, defende.

‘Não deixarão de chegar’
Na opinião da professora doutora Vera Lucia Messias Fialho Capellini, docente do Departamento de Educação e vice-diretora da Faculdade de Ciências da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus de Bauru, o ensino médio é a fase mais complicada da educação básica, justamente porque os jovens têm muita dificuldade de perspectiva de vida.

Quanto ao acesso à universidade pública, objetivo da maioria dos estudantes da educação básica que almejam seguir a vida acadêmica, ela explica que a demanda de laboratórios para o ensino de matérias como física ou química pode atrapalhar o desempenho dos estudantes.

“Muitos vão chegar com defasagem, mas não deixarão de chegar”, destaca Vera, que ressalta ainda a importância do apoio das famílias, com um suporte pedagógico e psicológico nesta fase.

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