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Cultura

‘Urubus no Ar’ cria trama sobre poder com ambiente de suspense e interatividade

Por Agência Estado

29 de março de 2021, às 08h55 • Última atualização em 29 de março de 2021, às 10h05

Quando se trata de contação de histórias, é muito difícil descobrir, de fato, a origem de uma lenda. E com o teatro de sombras, prática milenar que sempre serviu como entretenimento em vários países do planeta, não é diferente. Mas você já deve ter brincado com a sombra das mãos contra a parede quando era criança e estava entediado ou com os filhos em casa, na penumbra.

“Em um determinado período da minha infância, todas as noites, meu pai me colocava para dormir, me acompanhava até meu quarto e, quando deitava na cama, ele ia até a porta do quarto onde a luz do corredor vazava e de lá projetava sombras com as mãos. Eu tinha de adivinhar o que ele estava fazendo. Quando acabava a energia em casa, as lanternas e velas apareciam em nossas mãos e não tinha como não brincar com sombras e assombrações”, recorda a dramaturga Silvia Godoy que, junto com Ronaldo Robles, dirige Urubus no Ar, que estreia nesta segunda, 29.

O espetáculo, online em tempos de pandemia de covid-19, com a participação de Rafael Soares e Charles Krai, que também dão vida aos personagens, traz uma dinâmica repleta de mistérios para o público em formato de teatro de sombras, criando um ambiente de suspense e interatividade.

“O espaço virtual abriu uma janela para o encontro neste período pandêmico. É enorme a falta que o público faz. Precisamos sentir o coração da plateia batendo e a respiração modificando junto com a cena. O público nos dá ritmo, emoção e completa o ritual desta arte do encontro. Nada substituirá as palmas. Ou olhar nos olhos do público. Encontramos uma forma de atenuar essa distância que a pandemia nos impôs através da janelinha virtual”, ressalta Robles.

Inspirado no movimento cinematográfico filme noir, Urubus no Ar tem como cenário principal o tribunal de um júri, em que um réu aguarda sua sentença. O caso envolve assassinato, traição, corrupção e farsa, revelando a fraqueza do homem que, na ânsia pelo poder, consegue manipular toda e qualquer situação. “Trata de questões atuais como manipulação da população pelo poder econômico, político, mídia e a corrupção do judiciário. A trama, baseada no filme noir, apresenta um vírus mortal, compra de vacinas, assassinato daqueles que sabem demais, lobistas que influenciam as decisões do governo, mídia manipulando a opinião pública e o sistema judiciário. São elementos da narrativa do cinema noir que sempre estiveram presentes na história da nossa civilização”, explica ainda Robles.

Coincidência ou não, o “arquétipo da sombra”, teoria com base na Psicologia Analítica, do psiquiatra suíço Carl Jung, trata exatamente do “lado sombrio” da nossa personalidade. Seria o submundo conturbado da nossa psique, em que habitam os sentimentos mais primitivos, como a raiva, o egoísmo e os desejos que socialmente não são aceitos. Consequentemente, conteúdos altamente reprimidos. Porém, como quase tudo na vida de um ser humano, nem sempre é possível guardar esses “segredos” que, por vezes, surgem em comportamentos eticamente duvidosos. Urubus no Ar revela justamente a miséria do coração humano.

O cruzamento de duas histórias dos escritores contemporâneos Micheliny Verunschk, autora dos romances Aqui, no Coração do Inferno (Patuá, 2016) e Nossa Teresa – Vida e Morte de uma Santa Suicida (Patuá, 2014), e Luiz Roberto Guedes, redator publicitário, jornalista, tradutor e letrista de música popular, se dá no tribunal do júri, no qual elementos da atualidade alimentam a imaginação.

Os objetos cênicos ficam distribuídos no espaço, que também recebe música e artes visuais, criando um clima perfeito de filme noir dando ainda mais vida ao teatro de sombras. “Todos os atores estão à vista do público. Toda a operação, desde a sonoplastia, iluminação, manipulação dos bonecos e objetos, estão ali na cena, fazendo parte da narrativa do espetáculo. Assim, revelamos ao público a complexidade da obra e, ao mesmo tempo, permitimos que a plateia faça suas escolhas para onde quer direcionar o olhar e como quer completar sua própria narrativa”, afirma Godoy.

Com classificação de 13 anos, Urubus no Ar terá seis apresentações online gratuitas a partir desta segunda até o dia 3 de abril, às 20h, pelo canal do YouTube da Cia Quase Cinema. O grupo já participou de festivais na Alemanha, Macedônia e fez apresentações em campos de refugiados na Grécia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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