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Literatura

Tudo o que você queria saber sobre Mazzaropi

Por Agência Estado

07 de janeiro de 2020, às 07h00 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h10

Na apresentação de seu 1º livro, Antônio Leão da Silva Neto diz que Enciclopédia Mazzaropi de Cinema deveria ter sido o primeiro. A ideia nasceu lá atrás, em 1994, e contemplava um livro biográfico sobre Mazza, como tantos que foram feitos. Naquela época, existia só um livro sobre ele, o hoje raríssimo A Saudade de Um Povo, de 1986, escrito por Luiz Carlos Schroeder de Oliveira.

Hoje, são mais de dez, informa Leão. “Nos anos 1980, era apenas um cinéfilo colecionador de filmes na bitola 16 mm. Gostava de escrever artigos que enviava, pelo correio, para o Jornal da Tarde, na seção São Paulo Pergunta. Vários desses artigos foram publicados pelo jornal, que não existe mais, mas um chamou mais a atenção, e foi sobre o leilão do espólio de Mazzaropi, incluindo os negativos dos 24 filmes por ele produzidos. A partir da minha indignação, resolvi pesquisar sua vida e obra”, ele conta.

Foram muitas visitas a suas fazendas em Taubaté, entrevistas com antigos colaboradores. Leão reuniu extenso material que permitiria a publicação de um volume alentado. O livro não saiu, ele escreveu outros como Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro, Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa-Metragem, Dicionário de Filmes Brasileiros – Curtas e Médias, Ary Fernandes – Sua Fascinante História, Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra, etc.

Após 25 anos, ele resolveu retomar o projeto sobre Mazzaropi, mas com outro formato. O livro biográfico virou enciclopédia que homenageia não só o grande astro, mas também artistas e técnicos que com ele trabalharam, “pois sempre achei que a crítica em geral não prestigia essa classe e tanto que, até hoje, nas críticas e comentários sobre os lançamentos, só é mencionado o diretor”. É uma falha que Leão tenta corrigir. Tudo o que você queria saber sobre Mazzaropi.

Vale ressaltar que, quase 40 anos após sua morte, em 1981, o interesse por sua vida e obra não cessa de aumentar. Há um Brasil interiorano – caipira – que não tem mais vergonha de suas origens e o jeca deixou de ser um estereótipo para virar um arquétipo de brasilidade. Agora mesmo, nos dias 13 e 14, o Cinesesc sedia o curso O Estereótipo do Caipira na Formação da Cultura Paulista, ministrado por Celso Sabadin, que também é autor de um documentário sobre Mazza. O curso soma-se ao livro, lançado no fim do ano passado. O homenageado intuía que isso terminaria por acontecer. Chamado a escrever uma introdução para a Enciclopédia, o professor Máximo Barro lembra: “Certo dia, durante as filmagens de Aventuras de Pedro Malazartes, Mazzaropi me segredou – Pode escrever! No dia seguinte à minha morte, esse mesmo pessoal que agora me enche de bordoada vai fazer um ciclo Mazzaropi com desculpas de toda ordem. Não tomei em consideração o vitupério, mas em 1981 não deu outra. O Cineclube Bixiga, da 13 de Maio, foi o primeiro a homenageá-lo”.

No Canal Brasil e na TV Cultura, seus filmes estão sempre passando. E volta e meia alguma emissora, o próprio canal brasileiro de TV paga, resgata o Tapete Vermelho de Luiz Alberto (Gal) Pereira, em que Matheus Nachtergaele está extraordinário como o pai que cai na estrada para realizar a promessa de mostrar ao filho, no cinema, um filme de seu cômico favorito, e ele não é outro senão Mazzaropi. Nachtergaele, em estado de graça, repete os gestos, anda e fala como Mazzaropi, mas não se trata de mera imitação. Tudo aquilo é feito com imenso carinho, e também tem a mulher de Quinzinho, o personagem de Nachtergaele. Interpretada por Gorete Milagres, Zulmira também emula Geny Prado, a radioatriz que, desde o início dos anos 1950, acompanhou Mazzaropi no rádio e depois na TV e no cinema, primeiro no programa Rancho Alegre e depois em numerosos filmes, sempre fazendo sua mulher. Geny Prado é uma das tantas figuras que Leão resgata, com o lendário Abílio Pereira de Almeida, com quem Mazzaropi fez o primeiro filme, em 1952, ainda na Vera Cruz. Sai da Frente mostra Mazza como o caminhoneiro Isidoro e ele foi sucessivamente Candinho, Jacinto (A Carrocinha), o Sargento Ambrósio (Fuzileiro do Amor), Aparício (O Noivo da Girafa), Chico Fumaça e Caría (Chofer de Praça), antes que, em 1959, no filme de mesmo nome, surgisse o Jeca Tatu.

Milton Amaral era o diretor, Geny Prado fazia Jerônima e, a partir daí, surgiram Pedro Malazartes, Zé do Periquito, Tristeza do Jeca, O Vendedor de Linguiça e um grande etc. Mazzaropi bateu recordes, virou – apesar dos críticos – um capítulo importante da história do cinema brasileiro. Cabeça feita na Vera Cruz, o estúdio que importou técnicos e diretores da Europa para tentar fazer um cinema de qualidade, Mazzaropi não dispensava grandes diretores de fotografia (Rudolf Icsey), câmeras (Marcial Affonso Fraga), engenheiros de som (Konstantin Warnowski), aos quais, conta a lenda, pagava sempre em dia, em dinheiro vivo. Atores, atrizes, galãs, mocinhas, compositores – porque adorava cantar. O livro passeia pela obra repleta de curiosidades que o leitor vai gostar de conhecer.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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