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Cultura

Traços raros da 1ª Guerra Mundial

Por Agência Estado

01 de abril de 2020, às 07h00 • Última atualização em 01 de abril de 2020, às 11h35

Pouco se sabe sobre Emil Oxpaur. Nem mesmo buscando no Google se encontram muitas informações sobre ele ou algum vestígio mais aprofundado sobre o seu trabalho. Nascido em Munique, na Alemanha, em 1895, radicou-se no Brasil no final dos anos 1910. Após a mudança para São Paulo, tornou-se empregado da Casa Conrado, primeiro ateliê de vitrais do País e que foi fundada por outro imigrante alemão, Conrado Sorgenicht, em 1889. Oxpaur projetava azulejos e vitrais para a empresa e se destacou no Salão Paulista de Belas Artes de 1936, recebendo uma Medalha de Prata. Pelo que se sabe, morreu sem herdeiros conhecidos. Mas deixou desenhos e gravuras, alguns presumidamente feitos há mais de cem anos, como soldado durante a Primeira Guerra Mundial.

Quem detém o acervo de Oxpaur e encampou uma investigação árdua sobre sua vida foi o arquiteto Domingos Pascali. Ele encontrou o material há mais de 30 anos e pretende fazer uma exposição e um livro sobre um artista que tem uma história tão fascinante quanto desconhecida. As peças já foram devidamente higienizadas e catalogadas e alguns museus se mostraram interessados em conhecer as obras.

As imagens mais curiosas são as que retratam soldados no campo de batalha, mas nenhum deles está em um combate efetivo. Os desenhos mostram os militares em um horário de descanso, uma pausa em um suposto enfrentamento com as tropas inimigas.

Em alguns deles, há a assinatura de Oxpaur e o ano em que foi desenhada, 1917. O que Pascali descobriu em sua investigação é que naquele ano o artista estava lutando, em um lugar onde não houve conflito. “Elas mostram a expectativa de um terror iminente”, conta Pascali.

O arquiteto obteve o acervo de maneira inusitada. Uma senhora chamada Olga, que era esposa de um dos chefes da Casa Conrado, no fim da vida recebeu cuidados dos pais dele, a pedido de amigos em comum. Dona Olga morava na parte da frente de uma casa e, atrás, havia sido o ateliê de Oxpaur. Ele já havia morrido e o espaço estava trancado havia um bom tempo. Aquela senhora deixou uma herança para a família de Pascali e ele foi morar no local. “Ela virou minha avó postiça. Eu tinha 16, 17 anos, e ela dizia que, quando eu me casasse, ia morar na casa. Eu nem pensava em me casar”, brinca o arquiteto. Mas a vontade de Dona Olga foi feita. Quando se casou, Pascali se mudou para o imóvel e encontrou desenhos, fotos e projetos de vitrais e azulejos.

Desde então, o arquiteto preserva o material com muito afinco. Ele diz não saber exatamente por qual motivo Olga convidou o artista para morar na parte de trás de sua casa. Além das pinturas feitas na guerra, há outras mais expressivas, como a que retrata pessoas andando de bicicleta. Pascali acredita que esta vertente do trabalho de Oxpaur surgiu depois da mudança para o Brasil, quando a guerra acabou, e cogita que ele tenha trabalhado também com publicidade.

Resistências

Durante a busca sobre o passado de Emil Oxpaur, Pascali encontrou o nome dele em registros do Instituto Martius-Staden, que fomenta o intercâmbio cultural entre Brasil e Alemanha, como um dos artistas que se radicaram no País. Com a ajuda de amigos e clientes, o arquiteto organizou e fez a limpeza do material, atualmente guardado em local adequado e protegido.

Apesar de ter passado décadas guardado em um ateliê, o acervo estava em bom estado quando o arquiteto o encontrou. Mesmo com alguns espaços culturais mostrando interesse em expô-lo, ele vem encontrando resistências. “Tive uma verba para pelo menos organizar e higienizar o que ele deixou, mas mesmo se eu encontrar um espaço para exposição vou precisar de patrocínio. Algumas pessoas falaram que o tema de guerra não era bom e que ninguém iria financiar”, lamenta o arquiteto.

Pascali conta que recebeu sugestões de doar o material para algumas instituições de arte na Alemanha, mas, de acordo com ele, isso poderia ir contra os princípios de Oxpaur. “Quero que o máximo de pessoas veja essa obra e que ela possa viajar. Mas ele veio para cá, nunca mais quis voltar e o desejo dele era deixar esse trabalho por aqui”, afirma. Como não tem o contexto das imagens, ele quer fazer uma exposição em que o visitante crie uma história para cada uma delas. “O mais importante é que são desenhos vencedores”, conceitua.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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