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Cultura

‘Lazarus’ é o testamento de David Bowie

Por Agência Estado

20 de agosto de 2019, às 07h30 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h32

Um dos musicais mais aguardados do ano, Lazarus impressiona pelas mensagens cuidadosamente deixadas nas entrelinhas por seu autor, David Bowie, que o finalizou em seu último ano de vida. Afinal, trata-se de uma obra que reflete o estado de espírito de um artista lutando entre o momento de estar vivo e a iminência de deixar tudo para trás. “Lazarus, entre outros assuntos, trata de morte e ressurreição”, comenta Felipe Hirsch, diretor da versão nacional que estreia na sexta-feira, inaugurando um novo espaço, o Teatro Unimed.

De fato, até 10 de janeiro de 2016, quando o mundo foi surpreendido pela notícia de sua morte, em decorrência de um câncer de fígado, Bowie, que completara 60 anos dois dias antes, trabalhou cuidadosamente no álbum Blackstar e no musical Lazarus. E, em ambos, a finitude é um tema que permeia várias letras.

“Mas Bowie não traz isso de forma simples, evidente. Seu trabalho tornou-se clássico porque ele nunca refletia diretamente sobre o que se passava com o mundo naquele momento da criação – ele tinha a capacidade de selecionar as ideias que estavam fora do mainstream e que, muitas vezes, só iríamos entender o significado anos depois”, observa Hirsch. “Por isso, Lazarus é mais um convite a uma navegação sensorial que simplesmente uma peça com enredo e música.”

Escrito por Bowie e pelo dramaturgo irlandês Enda Walsh, o espetáculo se inspira no romance O Homem que Caiu na Terra, publicado por Walter Tevis em 1963, cuja versão para o cinema, rodada em 1976, teve o cantor como protagonista. Trata-se da vida atormentada de Thomas Jerome Newton, um alienígena que viaja para a Terra para salvar seu planeta, ameaçado pela falta de água. Na verdade, no palco, Newton é um ser alcoólatra, sem objetivo e incapaz de modificar sua terrível situação: imortal e incapaz de deixar a Terra. “Bowie vivia essa situação intermediária, buscando se encontrar em vez de simplesmente se deixar ir”, explica Hirsch. “Acredito que Walsh veio para ajudar a organizar essas ideias.”

Com total liberdade para reorganizar o original (condição essencial, aliás, para aceitar o convite feito pela Dueto Produções, de Monique Gardenberg), o encenador buscou um caminho distinto das montagens de Londres e Nova York. “Fui mais fiel ao livro de Tevis, que busca descobrir a origem de sua existência.”

Para isso, contou com a ajuda de colaboradores fiéis ao seu pensamento. Assim, para a direção musical, ele convidou Maria Beraldo e Mariá Portugal, hábeis em criar sonoridades a partir da voz e de instrumentos. As canções, assim, fazem uma interessante costura com o tom ligeiramente onírico da trama. “O trabalho delas traz uma transcendência, alcançando o espírito das músicas de Bowie”, confia o encenador.

Já Daniela Thomas e Felipe Tassara criaram novamente um cenário instigante, em que o palco se movimenta, formando pequenos declives que auxiliam para mostrar o estado de espírito dos personagens. Com a presença de um enorme espelho atrás, que também se movimenta, Hirsch criou cenas de puro ilusionismo, dignas do canadense Robert Lepage, graças ainda às projeções que identificam o cenário.

E a trilha traz 18 canções especialmente escolhidas por Bowie, como Life on Mars, Valentines Day e Changes. Destaque para as três que foram escritas especialmente para o musical: No Plan, Killing a Little Time e When I Meet You. Hirsch refletiu e, ainda que Bowie preferisse o contrário, manteve uma versão de Heroes no final, como nas outras montagens.

LAZARUS
Teatro Unimed
Alameda Santos, 2.159, 1º andar. 5ª a sáb., 21h. Dom. 18h. R$ 80 / R$ 180. Estreia 23/8. Até 27/10

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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