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Teatro

Elis, para sempre

Por Agência Estado

13 de agosto de 2019, às 08h00 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h32

Pensar a história da dança no Brasil é falar sobre o Ballet Stagium. Não é exagero dizer que a maior parte do que se entende por dança profissional, hoje, no País, é tributária da história da companhia criada por Marika Gidali, de 82 anos, diretora artística, e Décio Otero, 88 anos, coreógrafo.

Há quase meio século, 48 anos, a húngara e o mineiro começaram a caminhar pelos interiores do Brasil, formando públicos e bailarinos por onde passaram. Na esteira desse caminho ininterrupto, surge mais uma obra: Sonhos Vividos, que estará no Teatro Sérgio Cardoso, neste sábado e domingo em um programa composto com Preludiando (2016).

O motor de criação de Sonhos Vividos é a vida e obra de Elis Regina (1945-1982), que sempre esteve na trajetória do grupo. A primeira homenagem do Stagium à artista foi em 1988, seis anos após sua morte, com o trabalho Que Saudades de Elis. Além de ter sido aluna de dança do Ballet Stagium durante anos, foi nas salas da sede da companhia que ocorreu o processo seletivo de elenco e boa parte dos ensaios do show Saudades do Brasil (1980), que teve direção de Ademar Guerra e coreografia de Marika Gidali.

“Lembro dela, ali, sentada na mesa do escritório do Stagium, enquanto centenas de pessoas entravam e saíam para participar dos testes para compor o elenco do show. Ela, sempre muito presente, de uma vivacidade…”, conta Décio Otero.

Os projetos interrompidos com a morte precoce da cantora deixaram um gosto amargo. “Foi uma das grandes experiências da minha vida. Quando ela morreu, me senti traída. A gente tinha planos. Doeu e dói até hoje; mas existem pessoas que não morrem, continuam vivas na gente”, desabafa Marika.

Além da trilha, outra inspiração que vem de Saudades do Brasil é o figurino composto por roupas do dia a dia, compradas a preços populares, para explicitar a precariedade: “Ali, em Saudades do Brasil, o nosso cenário era de papel e o figurino, o dia a dia de todo mundo. Assim como naquela época, hoje é um momento social em que a gente questiona muito as grandes produções. A postura do Stagium vem de lá de trás. Desde quando a gente começou a viajar pelo Brasil e víamos gente morrendo de fome. O nosso direito de dançar não pode estar apartado desse lugar onde a gente está. Por isso, a precariedade é obrigada a aparecer. Dançar para participar, com dignidade e integridade, do País”, reforça Marika.

À primeira vista, impressiona que Décio Otero, quase chegando aos 90 anos, ainda encontre fôlego para coreografar, mas é mais do que apenas fôlego. Na trajetória de Décio, dança e vida se confundem. “Assim como a gente tem necessidade de comer um pedaço de pão, também tenho necessidade de criar para continuar vivendo. Não consigo explicar. Sei bem que quando eu parar de criar, eu morro”, acrescenta o coreógrafo.

Teatro Sérgio Cardoso.
Rua Rui Barbosa, 153, tel. 4003-1212. Sáb. (17), 20h e dom. (18), 17h. R$ 40 e R$ 2
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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