18 de abril de 2024 Atualizado 22:58

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Feridas abertas

‘Segunda Chamada’ faz mergulho profundo nos dilemas da população em situação de rua

Baseada em “Conselho de Classe”, obra do dramaturgo Jô Bilac, a série é uma parceria da Globo com a produtora O2 Filmes

Por Geraldo Bessa - Tv Press

16 de outubro de 2021, às 14h36

A série aborda o caos do sistema de ensino brasileiro a partir de uma escola voltada para a educação de jovens e adultos - Foto: Divulgação

Com a primeira temporada exibida na segunda metade de 2019, “Segunda Chamada” estava em pleno desenvolvimento de seus novos episódios quando veio a pandemia. Com seus trabalhos paralisados e os breves retornos respeitando os altos e baixos do Covid-19, a segunda temporada recém-lançada apenas no Globoplay surge com apenas seis episódios, mas a mesma urgência temática. O texto continua afiado e pontual, mostrando o quão é fácil enxergar o Brasil de hoje nos assuntos retratados neste segundo ano.

Baseada em “Conselho de Classe”, obra do dramaturgo Jô Bilac, a série é uma parceria da Globo com a produtora O2 Filmes, e tem premissa de abordar o caos do sistema de ensino brasileiro a partir de uma escola voltada para a educação de jovens e adultos – pessoas entre 17 e 70 anos que trabalham de dia e aproveitam o horário noturno para ter uma nova chance na vida. Sem esquecer dos dilemas individuais dos novos alunos e professores, o roteiro de Carla Faour e Julia Spadaccini agora investe em uma problemática grupal.

Com o risco de a Secretaria de Educação fechar o turno da noite da fictícia Escola Estadual Carolina Maria de Jesus, por conta da falta de alunos, a professora Lúcia, de Débora Bloch, busca as mais variadas formas de reverter a situação. Ela encontra a solução ao cruzar com um grupo de pessoas em situação de rua na periferia de São Paulo.

Depois do estranhamento inicial, o trunfo desta segunda temporada surge justamente a partir deste encontro entre os alunos e professores com essas pessoas. Entre o lúdico e o realismo, tal convivência tem seus altos e baixos, que culmina no momento em que todos os personagens conseguem entender que, no Brasil de 2021, quem tem pouco precisa andar de mãos dadas com quem não tem nada. Depois de uma atuação inspirada na primeira parte da série, Bloch novamente domina a cena. Mais refeita do luto, agora a personagem está ainda mais disposta a lutar, valorizada pelo desempenho carregado de sensibilidade da experiente atriz.

Aliás, o texto e a direção da segunda temporada estão bem direcionados para a excelência de seu elenco feminino principal. Sob o olhar atento de Joana Jabace e sua equipe, atrizes como Thalita Carauta e Hermila Guedes ganham ainda mais destaque. Conhecida por times cômicos, Carauta mostra que tem o mesmíssimo dom para o drama. Enquanto isso, Hermila brilha no mergulho de Sônia pelo autoconhecimento. Após viver uma relação tóxica e violenta, a personagem “desabrocha” para novas experiências de vida.

Do time masculino, a participação especial do veterano Moacyr Franco rouba a cena na pele do sonhador Seu Gilsinho, idoso sofrendo com mal de Alzheimer que sonha em se formar no Ensino Médio antes de esquecer tudo o que viveu. Forte e recheada de histórias potentes, “Segunda Chamada” toca de forma cirúrgica nas feridas expostas da sociedade e merece uma futura devida exibição na tevê aberta.

Publicidade