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Literatura

Rita Lee reedita coleção infantil

Rita inspirou-se na história real de Marsha, a ursa mais triste do mundo, que foi tirada de seu hábitat e passou anos acompanhando um circo

Por Agência Estado

01 de dezembro de 2019, às 08h35 • Última atualização em 01 de dezembro de 2019, às 08h59

Recentemente, Rita Lee lançou o livro infantil Amiga Ursa – Uma História Triste, Mas Com Final Feliz, com ilustrações de Guilherme Francini, pela Editora Globo. Rita inspirou-se na história real de Marsha, a ursa mais triste do mundo, que foi tirada de seu hábitat, a Sibéria, e passou anos acompanhando um circo pelo Brasil. Marsha estava num zoo no Piauí quando foi transferida, com ajuda da ativista Luisa Mell, para um santuário no interior de São Paulo, onde ganhou o nome Rowena e foi finalmente feliz (ela morreu pouco tempo depois de o livro ser lançado).

Para muitos, essa tinha sido a primeira incursão de Rita Lee pela literatura infantil, mas, na verdade, a cantora e compositora de 71 anos, e hoje aposentada dos palcos, já havia escrito para crianças. Entre 1986 e 1992, ela publicou uma coleção infantil chamada Dr. Alex, que tinha como protagonista outro bicho, um ratinho cientista e pacifista. Defensora da causa animal, Rita reeditou a coleção, lançada agora pela Globinho, com textos e desenhos atualizados.

Outro roqueiro, Sir Paul McCartney se aventurou em escrever para crianças e, em setembro, lançou o simpático livro Hey Grandude!. De volta aos brasileiros, músicos como Chico Cesar, Emicida e China também são autores de livros infantis.

Publicada entre 1986 e 1992, a coleção para crianças Dr. Alex, de Rita Lee, é formada por quatro livros. A série, que ganha nova edição pela Globinho, volta ao mercado, a princípio, com os dois primeiros títulos: Dr. Alex e Dr. Alex na Amazônia. Os outros dois volumes da coleção estão previstos para ser lançados no início do ano que vem. Dr. Alex, o primeiro volume, mostra a história de cientista alemão defensor dos animais, que vira um ratinho para escapar de um grupo que não respeita animais nem meio ambiente. Já no segundo título, Dr.
Alex na Amazônia, o ratinho Alex combate pessoas malvadas que querem destruir a Amazônia, os bichos e os índios. Após tantos anos, Rita fala da atualidade do tema. “Curioso que no texto pouco mexi”, diz a autora, em entrevista ao Estado, por e-mail. Leia a entrevista na íntegra abaixo.

Foi a descoberta de que ratinhos eram usados como cobaias que fez você eleger um camundongo como Dr. Alex?

Quando era criança, meu pai me levou ao Instituto Biológico e fiquei pirada com as cobaias fofinhas e perguntei o motivo de elas “morarem” lá… Quando me responderam que era para morrer, eu abri o berreiro e isso ficou na minha cabeça.

O que você acha da tendência, em histórias infantis, de humanizar os animais que são os personagens, dividindo-os em mocinhos e bandidos?

Os humanos tratam bichos como coisa e imaginam erroneamente que as crianças de hoje vão querer fazer o mesmo. Mas basta você mostrar a elas como os animais são maltratados pelos humanos que entendem que todas as formas de vida merecem respeito. Crianças e bichos têm a mesma pureza, são muito parecidos.

Da época em que você publicou a primeira história do Dr. Alex até hoje, acha que evoluiu o respeito aos animais de uma forma geral? Ou não?

Hoje em dia, o assunto do respeito aos animais está sendo muito mais discutido, apesar de ainda existirem horrores como rodeios, zoológicos, farras do boi, vaquejadas, circos, criadores de cachorros, etc., etc., etc… Tudo isso um péssimo exemplo para as crianças! Já melhorou, mas a luta continua.

E como foi escrever para crianças sobre a causa animal nos anos 1980/90 e como é escrever para esse mesmo público hoje? As crianças hoje estão mais conscientes?

Para essa criançada que está vindo, que eu chamo de índigo cristal – aquelas que já nascem com uma sensibilidade consciente -, falar sobre o respeito a todas as formas de vida é uma realidade natural. Quem tem a cabeça fora da nova ordem são os adultos.

Nessa reedição da coleção ‘Dr. Alex’, por que você achou importante revisar os textos? E as ilustrações também?

Foram escritos muito tempo atrás. E também pensei em dar uma atualizada geral com ilustrações modernas e coloridas.

A Amazônia ainda está no cerne do debate mundial. Como foi revisitar ‘Dr. Alex na Amazônia’ e perceber que muito do que foi tratado ali ainda é atual? Que adaptações nesse texto você fez para o relançamento do título?

Curioso que no texto de Dr. Alex na Amazônia pouco mexi. O que mais mudou foram as ilustrações, feitas em aquarela por Quilhoma Issac.

De que forma o livro ‘Amiga Ursa – Uma História Triste, mas com final feliz’ fez você querer resgatar seus primeiros livros infantis?

Quando soube dos maus-tratos pelos quais a ursa Rowena passou, achei que seria interessante dividir minha dor com as crianças, justamente por serem mais sensíveis. E, por diversas vezes, as crianças também se mantêm caladas diante de um sofrimento, assim como os animais. É uma história triste e verdadeira, mas que teve um final feliz. Como o Amiga Ursa fez grande sucesso, lembramos das aventuras do ratinho pacifista dos anos 80.

Aliás, como foi receber a notícia da morte da ursa Rowena pouco tempo depois do lançamento de seu livro?

O que pensei foram nos dez últimos meses de vida nos quais ela passou cercada de amor e de cuidados. Já estava velhinha, mas chegou a conhecer a liberdade e, durante esse pouco tempo, foi feliz.

A capa do ‘Dr. Alex’ lembra a capa do seu disco ‘Rita Lee’, de 1979. Foi um toque seu? O que achou do resultado final?

Essa sacação foi do meu editor Guilherme Samora e do ilustrador Guilherme Francini (que ilustrou Dr. Alex). O resultado foi surpreendente para todos nós. Guilherme Samora foi quem teve a ideia de reeditar os livros. Quando ainda pequeno, ele colecionava os livrinhos do ratinho Alex. Agora, como editor da Globo Livros, resolveu relançá-los quando o assunto está mais atual do que nunca.

Há alguns meses, um quadrinho mostrando dois rapazes se beijando causou um furor na Bienal do Livro do Rio. O que passou pela sua cabeça quando soube disso, você que foi pioneira em mostrar um beijo gay no clipe ‘Obrigado, não’, além de trocar o primeiro selinho com a Hebe, que tornaria uma marca registrada dela?

Senti um cheiro dos anos de chumbo… Achava que a essa altura estaríamos mais para The Jetsons do que para The Flintstones.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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