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De Americana

Passado é revisitado com ‘dossiê’ de Salto Grande

Em artigo científico publicado, Historiadores Independentes de Carioba revelam divergências sobre as origens de Americana

Por Rodrigo Pereira

07 de agosto de 2019, às 07h52

A poucos dias de completar 144 anos, Americana ganha um novo estudo sobre suas origens. O grupo HIC (Historiadores Independentes de Carioba) divulgou a publicação de um artigo científico no qual revela divergências entre autores sobre detalhes das origens da cidade, as relações escravagistas da época e as condições patrimoniais das primeiras famílias, assim como as divisões de terras.

O trabalho está na nova edição da Revista Resgate, vinculada ao Centro de Memória da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde os historiadores Gabriela Simonetti Trevisan, Elizabete Carla Guedes, Jefferson Luis Rodrigues Bocardi e Mariana Spaulucci Feltrin desenvolvem boa parte de suas de pesquisa.

Foto: Arquivo / Cyrillo Hércules Florence
Pintura que mostra a região do Salto Grande em meados do século 18, ainda na época da escravidão

Para o trabalho, o quarteto vasculhou arquivos do Centro de Memória da Unicamp e do Tribunal de Justiça de São Paulo na Comarca de Campinas.

O recorte tratado é a Fazenda Salto Grande. O primeiro conflito de informações identificado é entre Jolumá Brito e Celso Maria de Mello Pupo, pesquisadores consagrados da região. “Se, para o primeiro, o território da atual Americana já era habitado por sesmeiros na década de 70 do século 18, para o segundo, a fixação de produtores de açúcar no local se daria apenas a partir do final do mesmo século”, apontam os acadêmicos.

Detalhes patrimoniais também são evidenciados. O primeiro dono da fazenda seria Manoel Teixeira Vilela, falecido em 1820. O suposto segundo dono das terras seria seu filho Antônio Manoel Teixeira, e seu inventário mostra a riqueza da família, listando uma série de terras. No entanto, Antônio Manoel Teixeira deixa muitas dívidas e apenas duas fazendas a seu herdeiro.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Historiadores de Carioba, que assina em grupo estudo sobre a formação de Americana em revista da Unicamp

Em outro ponto, o grupo se debruça sobre informações que contradizem as ideias mais consolidadas sobre a região, de que as terras de Salto Grande pertenceram em certo momento à família Teixeira Vilela. “Essa ideia é corroborada pela ausência da fazenda nos inventários dessa família e pela ocorrência, no Registro de Terras, de uma propriedade de mesmo nome e localização como pertencente aos Campos Penteado”, justifica.

Escravidão

A última parte do trabalho se dedica à mostrar como os escravizados eram sinal de poder entre os senhores de terra e fundamentais para seu enriquecimento. Se no inventário de Antônio Manoel Teixeira eram mais de 400 escravizados, no de José de Campos Penteados constam mais de 200.

“Entretanto, na cidade de Americana, essa história é muitas vezes esquecida ou mesmo apagada, dando-se maior destaque à imigração italiana, norte-americana ou de outras das várias nacionalidades europeias, fortalecendo um discurso de que essa foi a mão de obra essencial para a formação socioeconômica, cultural e mesmo étnica da região”, avaliam os pesquisadores.

O artigo pode ser acessado online, no site da Unicamp. Os membros do Historiadores Independentes de Carioba celebraram a conquista via redes sociais.

“Trata-se de um passo gigantesco para nosso grupo. Concretizar uma primeira publicação acadêmica nos dá ainda mais ânimo e energia para continuar nossas pesquisas e trazer outros olhares para a história de Americana”, declaram Gabriela, Elizabete, Jefferson e Mariana, os criadores do grupo.

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