Toque de mestra
‘Pai Herói’ chega ao Globoplay depois de mais de 40 anos
História retrata os amores e dilemas de André Cajarana, de Tony Ramos
Por Geraldo Bessa - Tv Press
28 de setembro de 2021, às 07h30
Link da matéria: https://liberal.com.br/cultura/pai-heroi-chega-ao-globoplay-depois-de-mais-de-40-anos-1622816/
Com histórias densas e extremamente emocionais, Janete Clair tornou-se um dos pilares da teledramaturgia nacional por conta do estilo “novelão” de sua escrita. Nos anos 1970, em especial, a autora dominou o horário nobre da Globo com novelas do quilate de “Selva de Pedra”, “O Semideus”, “Pecado Capital” e “O Astro”.
No final da década, em 1979, Lauro César Muniz adoeceu prestes a entrar no ar com “Os Gigantes”. A saída mais rápida e indolor para a cúpula da emissora foi escalar Janete para substituir o colega no horário das oito. Com poucas semanas para organizar um trabalho que geralmente precisa de meses para ser desenvolvido, ela revisitou a história de “Um Estranho na Terra de Ninguém”, radionovela criada em 1958.
Na atualização, Janete adicionou costumes da época e trocou o título para “Pai Herói”, que acabou tornando-se uma de suas obras mais emblemáticas. Agora, a produção chega ao Globoplay como parte do projeto de resgate de tramas clássicas realizado pela Globo e pelo serviço de streaming. “Foi tudo muito impressionante. Sem perder tempo, as coisas foram se encaixando. Milagrosamente, a novela ficou pronta e mostrou mais uma vez a versatilidade e habilidade de ter sempre boas histórias na manga que só ela tinha”, relembra Lima Duarte, amigo da novelista e um dos primeiros atores escalados para o folhetim.
A história retrata os amores e dilemas de André Cajarana, de Tony Ramos. Depois de ficar anos em um orfanato, o protagonista acaba indo morar com o avô, Seu Cajarana, e cresce sem saber direito quem é seu pai, Malta, ambos papéis defendidos por Lima. Com a morte do avô, André sai do interior de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro na ânsia de elucidar alguns mistérios sobre a própria vida. No caminho, ele acaba descobrindo que, em vez de um grande homem, Malta era tido como bandido por, supostamente, ter roubado terras e cometido um assassinato.
Entre o personagem e toda a verdade da trama, estava o vilão Bruno, de Paulo Autran, ex-sócio do pai e atual marido da mãe de André, Gilda, vivida por Maria Fernanda. Avesso aos estúdios de tevê, o falecido Autran experimentou, pela primeira vez, o sucesso popular provocado pelo veículo.
“A novela ganhava ‘status’ só por ter a presença dele”, conta Elizabeth Savalla, intérprete da bailarina Carina. Repetindo o par romântico que formou com Tony em “O Astro”, Savalla passou por um rigoroso processo para dar vida à mocinha e grande amor do protagonista. Durante meses, precisou regular sua alimentação e teve intensas aulas de balé clássico.
“Chegou uma hora que pensei que fosse enlouquecer de fome! A personagem me exigia muita disciplina e cenas complexas. Era uma sofredora nata e tornou-se um papel muito marcante na minha trajetória, de uma popularidade incrível”, analisa a atriz, que chegou a pesar 48 quilos na época da trama.
GRAVAÇÕES
Com direção dividida entre Gonzaga Blota, Walter Avancini e Roberto Talma, “Pai Herói” foi gravada entre a capital e cidades do interior do Rio de Janeiro. Além disso, a trama também teve cenas captadas em Bariloche, região andina da Argentina.
Com duração de 178 capítulos, o enredo sofreu uma grande reviravolta a partir do capítulo 70, quando a autora decidiu matar César, o ex-marido de Carina, personagem de Carlos Zara. Com isso, a novela acabou apelando para o famoso “quem matou?”, tática de roteiro que Janete usava com habilidade. O assassinato gerou uma lista de suspeitos que incluiu a complexa Walkíria, jovem que sofria de esquizofrenia, vivida por Rosamaria Murtinho. “Janete conseguia transformar o básico em inovador e extraordinário. Acho que esse é seu grande legado”, analisa Murtinho.
Como se já não bastasse o sofrimento dos protagonistas, a trama ainda teve como elemento surpresa o desaparecimento de Carina, cuja culpa recai sobre André. Ingredientes certeiros para prender o espectador na frente da tevê até o final da novela.