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Música

O adeus ao mestre Elton Medeiros

Por Agência Estado

05 de setembro de 2019, às 06h58 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h21

Autor de clássicos como O Sol Nascerá (A Sorrir), parceria com Cartola e principal música da trilha sonora da novela Bom Sucesso, em exibição pela Globo, o sambista Elton Medeiros morreu na noite de terça-feira, 3, aos 89 anos, vítima de pneumonia. Ele estava internado desde segunda na Casa de Saúde Pinheiro Machado, em Laranjeiras, na zona sul do Rio.

Um dos sambistas mais importantes da história do País, Elton, além dos versos em tom melancólico daquela composição (“A sorrir/eu pretendo levar a vida/pois chorando/eu vi a mocidade/perdida”), compôs muitos outros clássicos do samba. Entre eles, Peito Vazio, também com Cartola (1908-1980), Mascarada, com Zé Ketti (1921-1999), Pressentimento, com Hermínio Bello de Carvalho, hoje com 84 anos, e Onde a Dor Não Tem Razão, com Paulinho da Viola, de 76.

Nascido na Travessa Cassiano, na Glória, zona sul do Rio, em 22 de julho de 1930, Elton Antônio Medeiros se aventurava pela música desde criança. Tinha só 8 anos quando compôs sua primeira música, um samba para um bloco de meninas em Brás de Pina, na zona norte, para onde havia se mudado com a família. Aos 17, foi um dos fundadores do bloco Tupy de Brás de Pina que, nos anos 1950, virou escola de samba. Junto com o irmão, Aquiles Medeiros (1925-1971), também sambista, Elton passou a integrar a ala dos compositores da Aprendizes de Lucas, de Parada de Lucas, na década de 1950.

Elton conheceu Cartola e passou a frequentar sua casa, no morro da Mangueira. Em 1961, os dois compuseram O Sol Nascerá, cujo título original era A Sorrir. Elton contava que a música foi criada em poucas horas, a partir de um desafio. Ele e Cartola haviam acabado de compor Castelo de Pedrarias quando um amigo, chamado Renato Agostini, chegou à casa de Cartola. Os autores lhe mostraram a nova canção e foram desafiados. “Quero ver vocês fazerem uma música agora, na minha frente”, teria dito o amigo.

Elton e Cartola então criaram A Sorrir, que só foi gravada pela primeira vez em 1964, no disco de estreia de Nara Leão. A pedido do produtor Aloysio de Oliveira, o nome foi alterado para O Sol Nascerá. A música integrou o primeiro disco de Elton, em 1973, e o primeiro de Cartola, em 1974, mas antes (em 1965) já havia sido gravada por Elis Regina e Jair Rodrigues em pot-pourri de Dois na Bossa.

O bar Zicartola, inaugurado em setembro de 1963 na Rua da Carioca, no centro do Rio, tornou ainda mais frequentes as reuniões entre Cartola, Elton e outros sambistas históricos. Foi ali que Hermínio Bello de Carvalho idealizou o espetáculo Rosa de Ouro, que estreou no Rio em 18 de março de 1965. Nele, apresentou-se a veterana estrela do samba-canção Aracy Cortes (1904-1985) e a então desconhecida Clementina de Jesus (1901-1987).

Para acompanhá-las, foram convidados Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho (1922-2006) e Anescarzinho do Salgueiro (1929-2000). Esses cinco artistas, junto com Zé Ketti, Oscar Bigode e Zé da Cruz, integravam o grupo A Voz do Morro, que lançou três álbuns entre 1965 e 1966 e se dissolveu. Rosa de Ouro ficou anos em cartaz pelo Brasil, foi registrado em disco e se tornou histórico.

Em 1967, quatro remanescentes do A Voz do Morro (Elton, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do Salgueiro) se reuniram a Mauro Duarte e criaram Os Cinco Crioulos. Em 1968, Elton e Paulinho da Viola lançaram o disco Samba na Madrugada.

Nos anos 1970, Elton seguiu carreira solo. Parou de fazer shows em 2014, quando perdeu a visão. Mesmo com dificuldades de locomoção e de visão, continuou compondo. Seu último parceiro foi Vidal Assis, com quem entrou em estúdio pela última vez em 2016. Na TV, Elton participou em 2017 do Conversa com Bial no qual prestou homenagem a Cartola. Elton foi enterrado ontem à tarde, no Cemitério do Catumbi, no centro do Rio.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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