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Vendavais

Ave Sangria lança disco inédito após retorno aos palcos

Grupo de rock pernambucano que foi um dos principais nomes da cena psicodélica brasileira dos anos 1970 e volta à ativa em estúdio

Por Rodrigo Pereira

20 de junho de 2019, às 10h17 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h31

Uma das mais cultuadas bandas da psicodelia brasileira está de volta. Quarenta e cinco anos depois de seu lendário LP de estreia, a Ave Sangria acaba de lançar “Vendavais”, novo álbum de inéditas, disponível em todas as plataformas digitais. A edição em vinil sai no segundo semestre.

Referência para diversas gerações de artistas pernambucanos – com destaque nas trilhas sonoras de filmes brasileiros recentes como “Aquarius” (2016) e “Rasga Coração” (2018) – e cultuados por novíssimos fãs que descobriram a banda via internet, os integrantes originais Marco Polo (voz, composições), Almir de Oliveira (voz, guitarra base, composições) e Paulo Rafael (guitarra solo e viola) se reuniram em 2014 para traçar novos planos de voo.

Foto: Flora Negri
Banda de Pernambuco marcou o rock nacional na década de 1970

De volta aos palcos, o trio revirou o baú do tempo e de lá saíram diversas canções inéditas, compostas no período de 1969 a 1974.

As 11 músicas do álbum mantêm a proposta inicial da banda: unir o rock com ritmos nordestinos, mesclando a linguagem psicodélica com sonoridade contemporânea.  

“O repertório do novo álbum persegue as características recorrentes do grupo, do divertimento escrachado à morbidez de temas sombrios, da crítica social implacável ao mais delirante psicodelismo, da agressividade do rock pesado ao lirismo acústico das baladas”, diz o cantor Marco Polo. O álbum foi gravado ao longo de 2018, com produção de Juliano Holanda e Paulo Rafael.

Ao comentar sobre o que mudou ou não da década de 1970 para cá, Marco avalia que entre alguns monopólios de gêneros e o “besteirol generalizado” na indústria cultural, também surgiram artistas e movimentos criativos.

“Haja vista o movimento manguebeat. No teatro, principalmente no Recife, houve um boom de alta qualidade nos anos 1980 e 1990, embora depois infelizmente tenha arrefecido. No cinema houve o surgimento de uma geração de novos diretores altamente talentosos. O grande problema é o que está acontecendo agora, com um total descaso pela cultura e até uma postura contrária”, critica.

Contestação política faz parte do DNA do Ave Sangria. Cerca de um mês e meio depois do lançamento, o disco de estreia foi censurado pelo governo militar, sendo recolhido das lojas e das rádios, sob a alegação de que a música “Seu Waldir” ia “contra a moral e os bons costumes da sociedade pernambucana”.

Depois de um longo período afastada dos palcos, a banda começou a ser redescoberta pela juventude em 2008, graças à internet, e voltou com tudo em 2014, com quatro de seus seis integrantes originais.

“Através da internet a juventude descobriu a música da Ave Sangria e se identificou com ela, o que mostra a atemporalidade do nosso trabalho. Mas também a história está se repetindo e, mais uma vez, como farsa. Começamos sob uma ditadura militar de extrema direita. Voltamos na hora em que no Brasil e nos Estados Unidos o conservadorismo está dando as cartas”, acrescenta o vocalista. Em reação a isso, ele aponta que o Ave Sangria tem para oferecer ao Brasil de 2019 a mesma atitude de rebeldia e liberdade. “A capacidade de fazer entretenimento e ao mesmo tempo questionar o status quo. A necessidade de provocar o enfrentamento à intolerância. A instigação pelo desenvolvimento do senso crítico e da autonomia de pensamento e de postura. A capacidade de dizer não”, enumera.

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