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Cultura

Manu Dibango ajudou a criar a ‘World Music’ com a influência do seu sax

Por Agência Estado

24 de março de 2020, às 18h12 • Última atualização em 24 de março de 2020, às 20h26

Em 2014, o célebre saxofonista camaronês Manu Dibango, astro do jazz, participou de uma gravação com vários artistas africanos do single Plus Jamais Ebola (“nunca mais ebola”), para levantar fundos contra a epidemia do vírus. É triste então noticiar que nesta terça-feira, 24, o músico morreu após contrair o novo coronavírus.

O compositor de Soul Makossa, uma das músicas mais influentes dos anos 1970, é o primeiro artista de nível global que morre devido à covid-19.

“Dibango morreu durante a madrugada, em um hospital da região de Paris”, declarou à agência AFP Thierry Durepaire, representante e gerente das obras musicais do artista. Uma homenagem será organizada posteriormente, quando possível, afirmou a página do músico.

Soul Makossa, a música que o tornou famoso em todo o planeta, foi difundida por DJs de Nova York a partir de um álbum lançado por ocasião de um campeonato de futebol africano.

Apesar de ser nomeada com o ritmo típico de Camarões, a makossa, a música se tornou um marco do funk internacional e ajudou a estabelecer o que hoje se conhece por “world music”. Não é por acaso que a canção guarda um eco da bossa Villa Grazia (1963), de João Donato, que depois virou Bananeira com a letra de Gilberto Gil.

Soul Makossa também espalhou a influência de Manu Dibango na música americana por meio de Michael Jackson, que usou um trecho do refrão em Wanna Be Startin’ Somethin’, do disco Thriller (1982). Em 2009, Rihanna sampleou o trecho em Don’t Stop the Music, o que levou Dibango a processar os dois, Jackson e Rihanna – um acerto extrajudicial resolveu as coisas. Kanye West (Lost in the World), Jay Z (Face Off) e A Tribe Called Quest (Rhythm) são alguns dos artistas que também usaram trechos remodelados da canção em suas criações.

Dibango nasceu em 1933 em Douala, Camarões, filho de um funcionário público da etnia Yabassi e de uma estilista e professora, da etnia Duala. A miscigenação, olhada com desconfiança pelos mais velhos, plantou nele o interesse pela fusão de culturas, como conta em sua autobiografia de 1994.

Foi na igreja (protestante) de sua infância que ocorreu o primeiro contato com a música, e desde a adolescência ele se dedicou ao ofício que o faria viajar pelos continentes levando seu saxofone afiliado às improvisações do jazz. Na Bélgica e na França, fez turnês com Dick Rivers e Nino Ferrer nos anos 1960, e nas décadas seguintes erigiu uma carreira solo que o fez colaborar com artistas como Fela Kuti, Herbie Hancock, Bill Laswell, Bernie Worrell, Ladysmith Black Mambazo, King Sunny Adé, Don Cherry e Sly and Robbie.

Politicamente ativo, teve papel importante na regulamentação da atividade artística no Camarões, e em 2004 foi apontado pela Unesco como Artista Pela Paz, título compartilhado com, entre outros nomes da música global, Gilberto Gil.

Em 2015, ele foi nomeado representante da Organização Internacional da Francofonia (OIF), entidade que representa 57 países que falam o idioma francês, para as Olimpíadas do Rio 2016. Na cerimônia de indicação, na capital fluminense, Dibango participou de uma homenagem a vítimas de atentados terroristas na França, Nigéria, Líbano e Mali. “Pretendem nos destituir de tudo o que nós conquistamos, mas isso só faz com que reforcemos ainda mais os vínculos que nos unem uns aos outros”, disse Dibango na ocasião, após um minuto de silêncio. “O silêncio eloquente que acabamos de compartilhar demonstra o engajamento e a afirmação que todos temos sobre nosso projeto de sociedade.” (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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