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Literatura

Livro relata história do Polo Cinematográfico de Paulínia

Livro escrito pelo jornalista João Nunes narra o período em que a cidade de Paulínia se tornou um dos maiores redutos cinematográficos do País

Por Danilo Reenlsober

27 de outubro de 2019, às 08h30 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h10

Entre os anos de 2008 e 2014, a cidade de Paulínia, a apenas 30 km de Americana, se tornou o principal destino de atores, produtores, roteiristas e cineastas do Brasil. Nesse período de efervescência cultural, o município de pouco mais de 100 mil habitantes inaugurou um dos teatros mais modernos do País, realizou festivais de cinema e contribuiu para a produção de mais de 40 filmes, entre eles, sucessos como “Tropa de Elite 2”, de José Padilha, e “O Palhaço”, de Selton Melo. A cidade, aliás, chegou a receber o apelido de “Hollywood Brasileira”.

Hoje, no entanto, tudo isso se perdeu. A estrutura montada na cidade, que inclui estúdios de cinema e uma escola de animação, está abandonada e já não recebe nenhuma produção. Restaram apenas as memórias e as histórias de um momento de pujança, em que a cidade conhecida pelo seu polo petroquímico, aos poucos, passava a ser conhecida também pelo seu polo cinematográfico.

Foto: Mario Miranda Filho
Cerimônia de abertura do 6º Festival de Cinema de Paulínia; evento chamou a atenção dos cinéfilos entre 2008 e 2014

Algumas dessas histórias estão no livro “Paulínia – Uma História de Cinema”, escrito pelo jornalista e crítico João Nunes e que será lançado amanhã em Campinas. Nunes participou ativamente desse momento de fortalecimento cultural no interior paulista e traz esse relato pessoal de suas experiências, sem perder seu olhar jornalístico.

“Não é um livro didático ou acadêmico, eu quis trazer com o livro algo mais pessoal, momentos em que eu vivi e que mostram como o Polo de Paulínia reverberou não só em mim, mas em todo o Brasil”.

De acordo com Nunes, o livro aborda desde os momentos iniciais do Polo (em 2005, com o anúncio da sua criação pela Secretaria de Cultura de Paulínia) até a sua “morte”, em meados de 2014. “Eu acompanhei todo esse processo e trago esse relato pessoal, com algumas histórias que só eu vi, mas com todo o contexto da importância que o polo alcançou em tão pouco tempo para o cenário cultural brasileiro”.

O jornalista aponta no texto que em apenas três anos, Paulínia se transformou em um dos festivais de cinema mais importantes de todo o Brasil. “O primeiro festival foi um susto e ninguém sabia muito bem o que esperar, mas o segundo, em 2009, firmou o evento no calendário nacional, enquanto o terceiro foi um sucesso. No quarto festival, quando ‘O Palhaço’ foi exibido, teve fila para ver ao filme, gente esperando no frio de 11º C para assistir”, relembra.

Embora esse não seja o foco da publicação, Nunes não poupa críticas ao que levou ao começo
do fim do polo: as questões políticas paulinenses. “Não falo muito sobre as brigas políticas, isso por si só daria um outro livro. Muita gente criticava o polo, mas uma indústria estava sendo criada na região, pessoas estavam sendo beneficiadas. Por isso, tento demonstrar que o projeto era muito bacana para toda a região, mas acabou se tornando uma chance perdida”.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal_06.10.2010
Coletiva de imprensa do lançamento do filme “Tropa de Elite 2”, cuja concorrida primeira exibição aconteceu em Paulínia, em 2010

O Polo de Cinema de Paulínia foi mais uma das muitas ideias megalomaníacas do então prefeito Edson Moura (PMDB) que acabou descontinuada pelos prefeitos que o sucederam. Em 2010, dez longas foram rodados no polo. Dois anos depois, esse número caiu para apenas três. Ainda em 2012, o então prefeito José Pavan Júnior cancelou o Festival de Cinema, principal vitrine do complexo, sob o pretexto de que o orçamento previsto – de R$ 10 milhões – seria usado na área social.

Para Nunes, havia algo muito relevante acontecendo no cenário cultural brasileiro. “Parte do cenário dos filmes brasileiros sofrera mudança radical”, diz o autor, num trecho do livro. “Nos filmes rodados em Paulínia e na região metropolitana não havia Cristo Redentor nem Avenida Paulista, tampouco Masp ou Pão de Açúcar ou panorâmica sobre a grande cidade ou praia de Copacabana. Havia outros brasis – e eles são muitos. Se fosse apenas esse o ganho do polo de Paulínia, já teria sido bastante. A mudança de cenário foi apenas um deles – e revestido de profundo significado”.

Outro dos momentos lembrados por Nunes é a estreia de “Tropa de Elite 2”, até hoje o filme nacional mais assistido nos cinemas, com mais de 11 milhões de espectadores em todo o Brasil. Embora o filme não tenha sido rodado em Paulínia, a produção recebeu uma ajuda financeira do Polo, com a condição de que estreasse no Teatro Municipal. “Imagina: a imprensa inteira do País queria assistir ao filme e ele estava sendo exibido só em Paulínia. A cidade estava no foco da imprensa e era o centro das atenções, mas por uma coisa boa”, ressaltou o jornalista.

ACONTECE: O livro “Paulínia – Uma História de Cinema” será lançado nesta segunda-feira, dia 28, a partir das 18h30. O Facca Bar, na Rua Conceição, 157, centro, em Campinas.

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